Por que Néfi encerrou seu registro sagrado com seu testemunho do Redentor?

O conhecimento

Quando Néfi terminou seu registro, ele havia passado mais de uma década refletindo sobre suas muitas experiências edificantes da fé (2 Néfi 5:28-34). Ele e sua família sobreviveram nos desertos da Arábia, atravessaram os vastos oceanos e se estabeleceram em uma nova terra. Refletindo sobre seu registro quase completo, Néfi sentiu que seus escritos não eram suficientes e reconheceu a necessidade de que o Espírito Santo levasse suas palavras ao coração dos leitores (2 Néfi 33:1-5).

Sabendo que estava escrevendo suas últimas palavras, Néfi visou deixar a seu povo — e as gerações futuras — um testemunho final de Cristo. "Glorio-me na clareza", declarou ele, e "glorio-me na verdade". No entanto, a coisa mais significativa que ele professou foi: "[G]lorio-me em meu Jesus, pois redimiu minha alma do inferno" (2 Néfi 33:6).

A essa altura, Néfi já havia incluído seu próprio testemunho público, de seu irmão Jacó e de Isaías, no cerne de seu registro.¹ Aqui, a escritura é mais pessoal, pois a expiação foi profundamente pessoal para Néfi — ele se gloriou em seu Jesus, que resgatou sua alma. Néfi sentiu profundamente a necessidade de um redentor porque lamentou seus pecados pessoais (2 Néfi 4:17-19).

O conhecimento de Néfi sobre seu Redentor veio de várias fontes. Primeiro, ele conhecia o Messias através das palavras de seu pai, o profeta. Leí havia falado "claramente [de] a vinda de um Messias, e também a redenção do mundo" (1 Néfi 1:19). Leí previu o exato momento em que o Messias viria e profetizou sobre seu batismo, ministério, morte e ressurreição (1 Néfi 10:4-12). Leí expressou seu testemunho final, no início de 2 Néfi, com as mesmas palavras usadas por Néfi no final de 2 Néfi: "Mas eis que o Senhor redimiu a minha alma do inferno" (2 Néfi 1:15).

Em segundo lugar, Néfi também soube do Messias pelos escritos encontrados nas Placas de Latão. Profetas como Zenoque, Neum e Zenos haviam profetizado sobre o Messias, e Néfi aprendeu com suas palavras (1 Néfi 19:10-12) como o Filho venceria a morte e traria redenção e vida eterna (Helamã 8:13 -20). Néfi reverenciou particularmente o profeta Isaías e sentiu-se pessoalmente conectado ao Redentor (1 Néfi 11:27; 2 Néfi 30:12-15) por meio de suas profecias messiânicas.² Ele citou Isaías longamente e usou suas profecias como ponto de partida para suas próprias profecias.³

Por último, mas não menos importante, Néfi teve suas próprias experiências espirituais pessoais que o ensinaram sobre o Salvador. Ele viu o nascimento milagroso de Jesus, Sua vida, ministério e morte (1 Néfi 11). Néfi havia visto seu Redentor (2 Néfi 11:2) e falou com entusiasmo dos momentos em que "vi[u] os seus dias" (2 Néfi 25:13; cf. vv 12-14). Mais tarde, provavelmente em uma manifestação clara e aberta⁴ no Santíssimo de Seu templo,⁵ Néfi ouviu as vozes do Pai e do Filho testificando a doutrina do Filho (2 Néfi 31:11-15).

O testemunho de Néfi sobre Cristo o compeliu à caridade, desejando que todos viessem a Cristo (2 Néfi 33:8-10). Néfi explicou: "E falamos de Cristo, regozijamo-nos em Cristo, pregamos a Cristo, profetizamos de Cristo e escrevemos de acordo com nossas profecias, para que nossos filhos saibam em que fonte procurar a remissão de seus pecados" (2 Néfi 25:26).

O porquê

No final de 2 Néfi, podemos ler as reflexões finais de um grande profeta que se tornou sóbrio com as experiências da vida. "No início do Livro de Mórmon", observou H. Dean Garrett, "vimos Néfi como um jovem líder enérgico, dinâmico e idealista, mas em sua despedida vemos um profeta experiente, maduro e líder, um profeta líder disciplinado, que tinha um profundo senso de sua missão".⁶

A despedida de Néfi foi franca, sincera e apaixonada. Élder Russell M. Nelson reflete: "A personalidade de Néfi ganha vida ao ler seu testemunho final. Ele revela seus pontos fortes, suas fraquezas percebidas, suas frustrações, seus prazeres e, finalmente, seu compromisso absoluto de obedecer a Deus".⁷ Suas últimas palavras nos dão uma ideia do que ele sabia ser mais importante.

Aqui, com o espaço limitado que lhe restava, Néfi escolheu dar testemunho de Jesus Cristo. "A partir de sua declaração de despedida, aprendemos […] sobre seu relacionamento pessoal com o Senhor".⁸ O fato de Néfi ter decidido reiterar seu testemunho de Cristo aqui é uma indicação para o leitor de que ele valorizava muito seu relacionamento com o Senhor e que seu testemunho deveria ser levado a sério. Essa seriedade pode ser vista através do registro de Néfi e das fontes proféticas que ele usou fielmente.

O relato de Néfi está repleto do significado de Jesus Cristo e de Sua missão, confirmado por meio de testemunho profético, ensinamentos paternos, testemunhos das escrituras e profundas experiências espirituais. Isso dá aos seguidores sinceros de Cristo em todos os lugares um padrão de conduta espiritual a seguir na busca de ganhar, construir ou fortalecer seu próprio relacionamento com Jesus Cristo. O conselho de "bons pais" (1 Néfi 1:1), os ensinamentos dos profetas e apóstolos modernos, o estudo dedicado das escrituras e a capacidade de reconhecer a revelação pessoal e as experiências espirituais nos auxiliarão a nos aproximar do Salvador.

Élder Jeffrey R. Holland escreveu: "Néfi ofereceu beleza e poder em seu testemunho final. É um grande clímax para um registro e um epitáfio perfeito para uma vida fiel".⁹ Seguindo o exemplo de Néfi, os discípulos de Cristo hoje podem acompanhá-lo ao declarar com convicção: "[G]lorio-me na verdade; glorio-me em meu Jesus, pois redimiu minha alma do inferno" (2 Néfi 33:6).