KnoWhy #52 | Março 6, 2017
Por que Néfi usa Isaías 29 como parte de sua própria profecia?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Pois os que forem destruídos falar-lhes-ão da terra e sua fala será fraca desde o pó e a sua voz será como a de um que tem um espírito familiar." 2 Néfi 26:16; cf. Isaías 29:4
O conhecimento
De acordo com Robert A. Cloward: "Nos escritos doutrinários e devocionais desta dispensação, nenhum capítulo de Isaías é mais citado do que" Isaías 29.1 O precedente foi estabelecido pelo próprio Senhor em 1820, quando Ele parafraseou Isaías 29:13 enquanto revelava a Joseph Smith que nenhuma das igrejas disponíveis naquela época era verdadeira (ver Joseph Smith-História 1:19). Muitos séculos antes, no entanto, o profeta Néfi relacionou Isaías 29 a esta dispensação usando várias frases e, às vezes, longas citações do texto de Isaías 29 e as comparou a Joseph Smith e à Restauração.
Isaías 29 permeia os escritos de Néfi, especialmente em 2 Néfi 25–30.2 O mais curioso sobre a maneira como Néfi usou Isaías 29 é que ele nunca citou este capítulo diretamente, como o fez com Isaías 48–49 (1 Néfi 21–22) e Isaías 2–14 (2 Néfi 12–24). Em vez disso, ele faz uso frequente de Isaías 29 como parte de sua "própria profecia", na qual falou "algo sobre" as palavras de Isaías que havia acabado de copiar das Placas de Latão (2 Néfi 25: 7, 1).
Isso levou muitos especialistas santos dos últimos dias a concluírem que Néfi não estaria realmente citando Isaías 29 literalmente em 2 Néfi 27. Em vez disso, Néfi está usando a linguagem de Isaías — expandindo-a — para expressar sua própria profecia. "Em sua 'própria profecia', Néfi usa muitas palavras e temas […] de outros capítulos de Isaías, incluindo palavras que soam como Isaías 29", observou Cloward. "Ele não atribui nenhuma dessas palavras a Isaías. Na verdade, ele repetidamente afirma que as palavras são suas ou as atribui ao Senhor".3
Néfi teve uma visão da Restauração e do surgimento do Livro de Mórmon (1 Néfi 13:32–42). Quando Néfi leu sobre um "livro selado" carregado por certos homens "que se dá ao que sabe ler, dizendo: Ora, lê isto", e depois o levam "ao que não sabe ler" (Isaías 29:11–12), ele encontrou palavras adequadas para adotar ao descrever os eventos que se desenrolariam na vida de Joseph Smith (2 Néfi 27:15–19).
A descrição de Isaías de "[falar] desde debaixo da terra [...] como a de um espírito familiar" naturalmente lembrou Néfi de que o livro que ele viu sairia da terra, com um espírito que ressoa no coração daqueles que buscam a verdade em todos os lugares (Isaías 29:4; cf. 2 Néfi 26:16). Sua mensagem poderosa penetraria nos corações daqueles que eram espiritualmente "surdos" e "cegos" e dirigiria suas almas "dentre a escuridão e dentre as trevas" (Isaías 29:18; cf. 2 Néfi 27:29).
Em Isaías, Cloward explicou que o livro selado é simbólico. "Nenhum livro específico é mencionado" por Isaías, cuja "preocupação era a visão perdida de seu povo, não os livros. […] O livro simbólico de Isaías continua selado hoje".4 Mas, o livro selado de Néfi é real, e se manifestou nos últimos dias.
Foi Néfi quem fez do livro simbólico de Isaías um livro literal. Néfi comparou o livro simbólico do símile de Isaías a um registro literal, específico do registro que o Senhor lhe havia ordenado que escrevesse nas Placas de Ouro. Néfi também previu o papel de seu registro nos últimos dias na restauração da visão, do entendimento e da doutrina da casa de Israel.5
Existem precedentes antigos e modernos para esse tipo de prática. Brant A. Gardner sugeriu que isso é semelhante ao conceito judaico posterior chamado pesher, um comentário interpretativo sobre as escrituras que se acreditava ser inspirado e atestado nos Manuscritos do Mar Morto e em outras fontes antigas.6 Em tempos mais contemporâneos, quando Élder Bruce R. McConkie deu seu testemunho final, ele insistiu: "usarei minhas próprias palavras, embora vocês talvez venham a achar que são as palavras das escrituras".7
O porquê
Entender que Isaías 29 e 2 Néfi 27 são profecias distintas e separadas tem várias implicações. Primeiro, esclarece a interpretação de Isaías 29 em seu contexto, como uma profecia sobre a queda e restauração de Jerusalém, especificamente.8
Segundo, em vez de presumir que Néfi está dando uma versão mais precisa de Isaías 29, as expansões e alterações das palavras podem ser entendidas como adaptações de Néfi do que ele havia visto em visão. Néfi reconheceu que as palavras de Isaías eram adequadas para descrever sua visão, mas não necessariamente de maneira perfeita. Então, ao adaptar as palavras de Isaías, ele fez expansões e emendas em sua visão para refletir com mais precisão os eventos futuros que testemunhou. Isso também significa que não há necessidade de esperar por manuscritos mais antigos do texto de Isaías para confirmar quaisquer alterações feitas por Néfi.
Terceiro, se Cloward estiver correto, isso significa que foi a profecia de Néfi, não de Isaías, que se cumpriu quando Martin Harris conversou com Charles Anthon e outros estudiosos.9 A atribuição desses eventos como o cumprimento de Isaías 29 começou com o próprio Joseph Smith e Martin Harris. No entanto, 2 Néfi 27 foi traduzido mais de um ano após a ocorrência desses eventos, portanto, não é de surpreender que eles aplicassem Isaías 29 a esses eventos.10
Por fim, isso fornece outra visão do processo de "comparação".11 Desta vez, porém, a comparação de Néfi é diferente. Em vez de fazer uma citação direta, seguida da aplicação, Néfi está aplicando ativamente as palavras de Isaías ao citá-las, adaptando-as à sua visão profética. Além disso, com a Tradução de Joseph Smith (TJS) de Isaías 29, há ainda outra camada de comparação, desta vez de um profeta moderno.
Especificamente em relação à TJS de Isaías 29, observou Cloward, "o Profeta confirmou que a [Versão King James da Bíblia] de Isaías 29 e 2 Néfi 26–27 são textos diferentes e independentes. Ele conscientemente usou parte de cada um".12 Ao fazer isso, "Joseph Smith escolheu dar a tradução inspirada de dois terços de Isaías 29, uma aplicação mais oportuna para os últimos dias. Ao copiar as palavras de Néfi na TJS, do versículo 8 até o fim, Joseph Smith comparou Isaías 29 à sua própria dispensação".13
De Isaías a Néfi e Joseph Smith, as palavras de Isaías 29 assumiram significados novos e relevantes para diferentes épocas e lugares.14 "Nesse processo, o livro selado de Isaías foi reinterpretado como as Placas de Ouro de Néfi e como o Livro de Mórmon de Joseph Smith. A poeira da morte de Isaías foi reinterpretada como a fonte de vida renovada de Néfi e como o monte Cumora de Joseph Smith. […] Este é o processo de comparação. Os profetas fazem isso facilmente. Aqueles que estudam as escrituras são incentivados a também compará-las. [...] À medida que os leitores o fizerem, o Senhor revelará novas verdades a eles e expandirá seu entendimento".15
Leitura Complementar
Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007-2008), 2: pp. 360–365, 377–397. Robert A. Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", em Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry e John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 191–247.1. Robert A. Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", em Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry e John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), p. 191. 2. A linguagem de Isaías 29 também pode ser encontrada em 1 Néfi 14:7; 22:8 (Isaías 29:14), 2 Néfi 6:15 (Isaías 29:6) e em vários lugares em 2 Néfi 26–28. Ver John W. Welch e Gregory J. Welch, Charting the Book of Mormon: Visual Aids for Personal Study and Teaching (Provo, UT: FARMS, 1999), p. 97. Ver Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", pp. 204–217, para identificação e discussão de todas as diferentes alusões em Isaías 29 em 2 Néfi 25–30. 3. Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", p. 202.Para exemplos de outros estudiosos comentando sobre esse ponto de vista, ver as obras mencionadas em John S. Thompson e Eric Smith, "Isaiah and the Latter-day Saints: A Bibliographic Survey", em Isaiah in the Book of Mormon, pp. 455, 472, 479 e 490. O primeiro exemplo é de 1955. Ver também Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007–2008), 2: pp. 360–365 (comentando 2 Néfi 26:15-16) e 376–397 (comentando 2 Néfi 27). 4. Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", p. 200. 5. Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", p. 201. 6. Gardner, Second Witness, 2: p. 377. Para mais informações sobre pesher, ver David J. Larsen, "Exegete as Prophet? The Case of the Interpretation of the Psalms at Qumran", apresentação feita na conferência Dead Sea Scrolls, patrocinada por The Leonardo, Salt Lake City, 11–12 de abril de 2014; procedimentos a serem publicados em breve. 7. Ele continuou dizendo: "É verdade que outros os pronunciaram antes, mas agora são minhas". Ele explicou que "o Espírito Santo de Deus me testificou que são verdadeiras". Élder Bruce R. McConkie, "O Poder Purificador do Getsêmani", A Liahona, abril de 2011; também lds.org 8. Ver Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", pp. 192–201. 9. Para a história desta visita, ver Michael Hubbard McKay e Gerrit J. Dirkmaat, From Darkness to Light: Joseph Smith's Translation and Publication of the Book of Mormon (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book and Religious Studies Center, Brigham Young University, 2015), pp. 39–59; Richard E. Bennett, "Martin Harris's 1828 Visit to Luther Bradish, Charles Anthon, and Samuel Mitchill", em The Coming Forth of the Book of Mormon: A Marvelous Work and a Wonder, ed. Dennis L. Largey, Andrew H. Hedges, John Hilton III e Kerry Hull (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e Religious Studies Center, Brigham Young University, 2015), pp. 103–115.
10. Ver a discussão em Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon, pp. 223–226. 11. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Como Isaías 48-49 pode ser "comparado" à família de Leí? (1 Néfi 19:23)", Knowhy 23 (27 de janeiro de 2017). 12. Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormón", p. 232. Cloward argumentou ainda: "Se ele tivesse entendido que o Livro de Mórmon preservou um texto mais completo e correto de Isaías 29 das Placas de Latão, teria provavelmente substituído o capítulo 29 por toda a versão do Livro de Mórmon", o que ele não havia feito. Na verdade, "Ele manteve todas as referências a Jerusalém nos primeiros sete versículos. Se ele tivesse entendido que Isaías havia profetizado que os nefitas e lamanitas seriam derrubados e que eles 'fala[riam] desde debaixo da terra' e 'desde o pó sair[ia]', ele teria provavelmente copiado 2 Néfi 26:15-16 na TJS" (p. 232). 13. Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", p. 233. 14. Como diz Cloward: "Isaías predisse o destino e a futura restauração de Jerusalém e de seu povo. Néfi […] comparou as palavras de Isaías a seu povo em uma nova profecia, mostrando como os registros nefitas promoveriam a obra do Senhor nos últimos dias. […] Joseph Smith, por sua vez, substituiu as palavras de Isaías em sua tradução inspirada da Bíblia por sua nova compreensão de como elas foram comparadas a ele e à obra do Senhor nos últimos dias". Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", p. 233. 15. Cloward, "Isaiah 29 and the Book of Mormon", pp. 233–234.