KnoWhy #108 | Maio 13, 2017

Por que Neor sofreu uma morte "ignominiosa"?

Postagem contribuída por

 

Scripture Central

"E aconteceu que o levaram — e seu nome era Neor — e conduziram-no até o alto da colina de Mânti […] e ali sofreu uma ignominiosa morte"

O conhecimento

Não muito tempo depois do estabelecimento do governo dos juízes nefitas, surgiu uma crise que questionou a viabilidade da Igreja e do governo nefita.1 "[N]o primeiro ano em que os juízes governaram o povo de Néfi", um dissidente chamado Neor andou "pregando ao povo o que chamava de palavra de Deus, opondo-se à igreja" (Alma 1:1, 3). Neor estava determinado a impor que "todos os sacerdotes e mestres deveriam tornar-se populares; e que não deveriam trabalhar com as próprias mãos, mas deveriam ser sustentados pelo povo" (v.3).2

Teologicamente, Neor pregou uma versão do universalismo. Ele declarou: "toda a humanidade seria salva no último dia e que não precisariam temer nem tremer, mas que podiam levantar a cabeça e regozijar-se; porque o Senhor havia criado todos os homens e também havia redimido todos os homens; e, no fim, todos os homens teriam vida eterna" (v. 4).

Os ensinamentos de Neor permaneceram entre os nefitas, e logo seus seguidores "começ[aram] a organizar uma igreja de acordo com a sua pregação" (v. 6). Neor, no entanto, foi além da mera dissidência religiosa. Quando confrontado por Gideão, o nefita apóstata "começou a discutir com ele asperamente" sobre doutrina (v. 7). O argumento escalou ao ponto em que Neor "tendo sacado da espada, começou a golpeá-lo. Ora, tendo Gideão idade avançada, não pôde resistir aos golpes; foi, portanto, morto pela espada" (v.9). O que começou como dissidência religiosa e cultural se transformou em assassinato.

Isso, é claro, levou Neor a comparecer perante o juiz supremo Alma, para alegar sua defesa (v. 11). A defesa de Neor falhou, e Alma o condenou à morte, pois ele era "não somente [...] culpado de artimanhas sacerdotais, mas também de [ter] tratado de impô-las pela espada". Alma argumentou que "se tais artimanhas tivessem sido impostas a este povo, teriam acarretado a sua total destruição" (v. 12).

O registro descreve a execução de Neor em um único versículo: "[e] aconteceu que o levaram [...] e conduziram-no até o alto da colina de Mânti e lá ele foi obrigado a reconhecer, ou melhor, reconheceu entre os céus e a Terra que o que ensinara ao povo era contra a palavra de Deus; e ali sofreu uma ignominiosa morte" (v. 15).3

O porquê

O relato da vida e morte de Neor está profundamente enraizado no contexto da lei nefita. John W. Welch explorou extensivamente como o julgamento e a execução de Neor são esclarecidos pelas leis bíblicas, em geral, e as leis nefitas, em específico.4

De acordo com Welch, vários fatores contribuíram para que Neor, por fim, recebesse uma "morte ignominiosa". Estas incluem as reformas sociais aplicadas com o estabelecimento do governo de juízes nefita, ao final do livro de Mosias — todas as quais Neor procurou minar usando violência. O julgamento de Neor, portanto, não foi uma mera trivialidade.

Quando Neor foi levado perante Alma para julgamento, seu julgamento foi um teste importante do poder político e judicial de Alma no incipiente reinado dos juízes. Como funcionaria o novo sistema de julgamento? Qual seria o poder do juiz supremo? [...] Como poderiam os recentes princípios de equidade enunciados e a rubrica de que uma pessoa não poderia ser punida por suas crenças, serem interpretados e aplicados na prática? [...] Todas essas questões foram abertas e seriam testadas e resolvidas, intencionalmente ou não, pelo julgamento precedente de Neor.5

A seriedade dos desafios (sediciosos) de Neor à ordem social nefita, sem mencionar o assassinato de Gideão, é sem dúvida o que levou à sua morte "ignominiosa" na colina de Mânti.6 Brant A. Gardner comentou que, em sua essência, a execução de Neor "removeu sua honra pessoal".7 Além de Nehor ter que ser "carregado" até o local de sua execução, o que sugere que ele resistiu ao seu destino de maneira indigna, Welch e Gardner afirmam que ele foi provavelmente apedrejado, um método de execução conhecido tanto no antigo Israel quanto na antiga Mesoamérica, e que teria "conotado vergonha".8

O fato de Mórmon ter dito que a morte de Neor foi "ignominiosa" mostra seu total desdém por um dos piores dissidentes nefitas.9 De fato, os ensinamentos cismáticos de Neor levariam a mais conflitos e derramamento de sangue na história nefita, especialmente com a ascensão dos anlicitas (Alma 2-3). Portanto, através da perspectiva da lei nefita e da narrativa moralista de Mórmon, a morte 'ignominiosa' de Neor é compreensível. Seus ensinamentos ignominiosos, que não morreram com ele, mais tarde afetariam muitas outras vidas para pior, o que é apenas uma das muitas tragédias do Livro de Mórmon.

Leitura Complementar

John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: Brigham Young University Press and the Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 211–235. Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 4: pp. 18–40. Matthew Scott Stenson, "Answering for His Order: Alma's Clash with the Nehors", BYU Studies Quarterly, forthcoming.

1. A apostasia nefita envolve mais do que apenas dissensão religiosa, conforme explicado por Mark Alan Wright e Brant A. Gardner. "Por que uma apostasia religiosa era tão socialmente perturbadora? A fragmentação da Igreja Restaurada após o martírio do Profeta Joseph Smith certamente resultou em diferentes grupos religiosos, mas não em uma guerra civil. A diferença é explicada pela capacidade do mundo moderno de separar a religião da política e da cultura. Para os nefitas, a apostasia religiosa incluía uma ruptura na ordem social. Quando as pressões do novo tipo de governo se tornaram fortes o suficiente, a preocupação não era apenas religiosa ou política — também incluía o desejo de transformar a sociedade. Enquanto a apostasia religiosa sincretizava ideias religiosas, seus adeptos ansiavam pelo prestígio social, riqueza e privilégios associados a essas ideias religiosas nas cidades e culturas vizinhas". Mark Alan Wright e Brant A. Gardner, "The Cultural Context of Nephite Apostasy", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 1 (2012): pp. 53–54. 2. O Dicionário Webster de 1828 define "popular" como "pertencente às pessoas comuns". Como tal, Neor queria tornar os sacerdotes "populares", o que deve ser entendido como significando que "o povo deveria apoiá-los [financeiramente]", e não necessariamente no sentido coloquial de que ele queria que eles fossem reconhecidos com favores ou adoração. Isso explica por que os ensinamentos de Neor eram perigosos, como se ele estivesse tentando subverter os ideais igualitários nefitas que remontam ao rei Benjamim, que trabalhava por seu sustento (Mosias 2:14–15). 3. Ao revisar novamente o Dicionário Webster's de 1828, a palavra "ignominioso" é definida primeiro como "vergonhoso, covarde; agressivo"; segundo, "muito vergonhoso, repreensível, desonroso, infame"; e terceiro, "desprezível, digno de desprezo". 4. John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: Brigham Young University Press and the Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 211–235. 5. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon, p. 220, as citações a escrituras internas foram removidas. 6. O local de execução de Neor é significativo. Como Welch explica, "o topo de uma colina ou montanha servia como ponto de encontro entre o céu e a terra, entre Deus e o homem. Lá, a confissão de Neor poderia ser feita reunindo o céu e a terra, tanto para seu próprio benefício eterno quanto para o benefício da cidade de Zaraenla. Em certo sentido, o cume, representando um cume cósmico, também era a terra de ninguém, entre o céu e a terra, onde nem o céu, nem a terra precisam receber o vil delinquente." Welch, Legal Cases, p. 231. 7. Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 4: p. 30. 8. Gardner, Second Witness, 4: p. 30; Welch, Legal Cases, pp. 231–232. 9. Isso é reforçado pelo fato de que Mórmon nem sequer se preocupa em mencionar Neor pelo nome em Alma 1 até sua execução.

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