KnoWhy #135 | Novembro 29, 2019

Por que o jejum e a oração acompanhavam o luto nefita?

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Scripture Central

"E seguramente esse foi um dia tristíssimo; sim, um tempo de sobriedade e um tempo de muito jejum e oração." Alma 28:6

O conhecimento

Para proteger a terra de Zaraenla da invasão lamanita, os nefitas estabeleceram o povo de Amon (também conhecido como ânti-néfi-leítas1) "na terra de Jérson" com um exército nefita para protegê-los (Alma 28:1).2 A paz não durou muito. Pouco após o povo de Amom se estabelecer, "os exércitos dos lamanitas" começaram "uma tremenda batalha" (vv. 1-2). O massacre, de acordo com Mórmon, foi tão terrível "como ainda não se tinha visto entre todo o povo daquela terra, desde o tempo em que Leí havia deixado Jerusalém; sim, e dezenas de milhares de lamanitas foram mortos e dispersos" (Alma 28:2). Embora vitorioso, o povo de Néfi não escapou ileso. "Sim, e também houve uma terrível matança entre o povo de Néfi" (v. 3). Depois dessa grande batalha, e depois que o povo de Néfi "retornou à sua terra", houve um "grande pranto e lamentações entre todo o povo de Néfi em toda a terra" (Alma 28:4). Esse tempo de luto, o que Mórmon chamou de "um dia tristíssimo", foi acompanhado por "muito jejum e oração" (v. 6). Declarar um período público de jejum como parte do luto de uma perda nacional, parece ter sido uma parte regular das práticas funerárias nefitas (ver Helamã 9:10).3 É lógico que os leitores esperariam que Mórmon detalhasse esse período de jejum e luto. De repente, no entanto, o humor muda e indica que, apesar dessa grande dor, houve grande alegria e exultação por parte do povo de Néfi. Isso, disse Mórmon, porque aqueles que viviam o evangelho, sabiam que seus descendentes caídos seriam "elevados para habitar à mão direita de Deus, num estado de felicidade sem fim" (Alma 28:12).

O porquê

Mórmon menciona que a oração e o jejum acompanhados por esse período de luto oferecem um vislumbre importante da cultura religiosa nefita. Especificamente, mais uma vez, liga a prática religiosa nefita à antiga Israel. Como os estudiosos santos dos últimos dias observaram, "o jejum era comumente associado a tempos de dor ou tristeza entre os antigos".4 Examinando de perto, esse ponto sutil é muito claro em exemplos dispersos na Bíblia Hebraica que abrangem séculos da história de Israel. Embora não seja geralmente pensado desta forma hoje, o jejum era uma resposta religiosa e cultural israelita a incidentes de tristeza, humilhação, solenidade e sepultamento.5 Após recuperar o corpo do Rei Saul das mãos dos filisteus, por exemplo, os israelitas, incluindo David, jejuaram e lamentaram a sua morte (1 Samuel 31:8-13; 2 Samuel 1:11-12). Os nefitas estavam especificamente jejuando e orando em um momento de grande tragédia nacional, o que seria totalmente apropriado de uma perspectiva israelita antiga.6 Afinal, o povo de Néfi estava "lamentando a perda de seus parentes que haviam sido mortos" em batalha com os lamanitas (Alma 28:5). Com sincera angústia, Mórmon elogiou o fato de "que se ouviu grande pranto e lamentações entre todo o povo de Néfi em toda a terra" (v. 4). Aqueles que choram e buscam o espírito do Senhor podem encontrar-se particularmente abençoados com esperança, tranquilidade e conhecimento espiritual em seu tempo de angústia. Esse jejum nos tempos bíblicos, poderia ser realizado em particular ou como uma comunidade para mostrar "dependência de Deus e submissão à Sua vontade".7 O jejum desempenhou um papel proeminente durante um momento crucial na história de Ester e Mardoqueu, quando todo o povo chorou e jejuou pela libertação devido ao decreto do rei Assuero de matar todos os judeus (Ester 4:1-3, 15-17). Os salmos também apresentam o jejum como uma fonte de conforto e consolo divino: "[Q]uando estavam enfermos, a minha roupa era de pano de saco; humilhava a minha alma com o jejum, e a minha oração voltava para o meu seio" (Salmo 35:13). Donald W. Parry e Brant A. Gardner também apreciaram a característica literária sutil empregada neste texto. "Mórmon usa o artifício literário de um paralelo oposto", observou Gardner. "Ele contrasta os enlutados que temem pela alma de seu amado com aqueles que também choram por seus mortos, mas que têm esperança nas promessas do Senhor" Além disso, "O contraste está entre aqueles que abraçam o evangelho do Messias Expiador com sua promessa de ressurreição e aqueles que seguem a ordem dos neores e que, portanto, 'têm motivos para temer' (Alma 28:11)".8 Mais especificamente, Parry classifica o paralelismo neste versículo como um bom exemplo de "detalhamento", ou um recurso literário que "apresenta uma frase ou sentença introdutória, seguida por uma ou mais linhas subsequentes que 'detalham' o que foi dito na primeira linha".9 Isso fica claro neste esboço:

(A) E assim vemos a grande causa da tristeza, (B) como também da alegria — (A) tristeza devido à morte e destruição dos homens; (B) e alegria por causa da luz vivificante de Cristo. (Alma 28:14)

Falando especificamente daqueles que faleceram, o Profeta Joseph Smith testificou: "Estou autorizado a dizer, pela autoridade do Espírito Santo, que vocês não têm motivo para temer […] Não se lamentem, não chorem. Sei disso pelo testemunho do Espírito Santo que está dentro de mim; e vocês podem esperar que seus amigos ressuscitem para encontrar com vocês na alvorada do mundo celestial".10 A mesma esperança de redenção da morte física e espiritual por meio da expiação do Filho de Deus que inspirou os antigos nefitas em Alma 28 continua a inspirar homens e mulheres em todo o mundo hoje.

Leitura Complementar

Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 4: pp. 390–394. Stephen D. Ricks, "Fasting in the Book of Mormon and the Bible", em The Book of Mormon: The Keystone Scripture, ed. Paul R. Cheesman (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1988), pp. 127–136. Joseph Fielding McConkie and Robert L. Millet, Doctrinal Commentary on the Book of Mormon, 4 v. (Salt Lake City, UT: Bookcraft, 1987–1992), 3: pp. 191–193.

1. Sobre as origens dos ânti-néfi-leítas, consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que os lamanitas convertidos demominavam-se "Ânti-Néfi-Leítas"? (Alma 23:17)", KnoWhy 131, (9 de junho de 2017) 2. Para a provável etimologia de Jérson, consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que Jérson foi chamada de "Terra de Herança"? (Alma 27:22)", KnoWhy 134 (13 de junho de 2017). 3. Ver Stephen D. Ricks, "Fasting in the Book of Mormon and the Bible", em The Book of Mormon: The Keystone Scripture, ed. Paul R. Cheesman (Provo: Religious Studies Center, 1988), pp. 129-130. 4. Joseph Fielding McConkie and Robert L. Millet, Doctrinal Commentary on the Book of Mormon, 4 v. (Salt Lake City, UT: Bookcraft, 1987–1992), 3: p. 192. Ver também Ricks, "Fasting in the Book of Mormon and the Bible", pp. 129-130; John W. Welch, Legal Cases in the Book of Mormon (Provo: BYU Press, 2008), p. 327 5. Ver 1 Samuel 31:8–13; 2 Samuel 1:11–12; 12:16; 1 Reis 21:9–12; Isaías 58:3–5; Jeremias 36:9; Esdras 8:21; Roland de Vaux, Ancient Israel (New York, NY: McGraw-Hill, 1965), 1: pp. 59–61; H. A. Brongers, "Fasting in Israel in Biblical and Post-Biblical Times", em Instruction and Interpretation, ed. A. S. van der Woude (Leiden: Brill, 1977), pp. 3–7. 6. Ver Stephen D. Ricks, "Fasting", em Book of Mormon Reference Companion, ed. Dennis L. Largey (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2003), pp. 268–269. 7. John N. Suggit, "Fasting", em The Oxford Companion to the Bible, ed. Bruce M. Metzger e Michael D. Coogan (New York, NY: Oxford University Press, 1993), p. 225; compare John G. Gammie, "Fasting", em Harper's Bible Dictionary, ed. Paul J. Achtemeier (San Francisco, CA: Harper and Row, 1985), p. 304. 8. Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 4: p. 393. 9. Donald W. Parry, Poetic Parallelisms in the Book of Mormon (Provo, UT: The Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2007), xxxiii. 10. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith (Salt Lake City, UT: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 2007), 184.