KnoWhy #88 | Abril 20, 2017

Por que o Livro de Mórmon menciona vinho, vinhas e lagares?

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Scripture Central

“E aconteceu que plantou vinhas pela terra; e construiu lagares e fez vinho em abundância; e tornou-se"

O conhecimento

O Livro de Mórmon menciona apenas uma bebida entre os nefitas e lamanitas: vinho. Durante o reinado do rei Noé na terra de Néfi, por exemplo, ele menciona que "plantou vinhas pela terra" e "construiu lagares e fez vinho em abundância", portanto ele e seu povo se tornaram bebedores de vinho (Mosias 11:15). O vinho também é mencionado em várias passagens ao longo do Livro de Mórmon, inclusive no Sacramento, durante o ministério pessoal do Salvador Ressurreto entre os nefitas.1

Como há uma grande variedade de vinhos diferentes, "feitos de uvas fermentadas e outras frutas",2 é impossível ter certeza do tipo de bebida a qual as passagens se referem, além de presumir ser fermentado de frutas. Além disso, a palavra hebraica para "vinha" também é usada para identificar um olival, uma plantação de oliveiras. Portanto, esses termos têm um significado mais amplo do que os leitores modernos imaginam.3

As bebidas alcoólicas eram feitas a partir de uma variedade de frutas na América antes de Colombo. Entre elas estão a banana, o abacaxi e o agave, entre outras. Os nativos também usavam seiva de palma e cascas de árvore com mel na produção de bebidas alcoólicas em tempos pré-colombianos. Todas essas bebidas eram chamadas de "vinho" pelos espanhóis, os primeiros a mencionar essas bebidas em seus escritos. Fontes espanholas também mencionam "vinhas" [ou vinhedos] de agave.4

O Livro de Mórmon, na verdade, nunca menciona uvas, mas menciona "lagares" (apenas uma vez, Mosias 11:15),5 o que poderia indicar um vinho à base de uva. É um fato conhecido o cultivo de algumas espécies de uvas americanas na Costa do Golfo e na região do Iucatã, e alguns nativos do norte do México supostamente faziam vinho tinto com uvas nativas.6

Não há dúvida de que uvas e vinhas possam ser cultivadas em diferentes regiões da América, de norte a sul, incluindo localidades próximas à Cidade da Guatemala, onde as vinícolas e vinhedos da marca Chateau DeFay se estabeleceram em 2008.7 Portanto, é possível que os leítas ou mulequitas tenham trazido vinho de uva com eles, que mais tarde foi cultivado entre os povos do Livro de Mórmon. Há também algumas evidências de que uvas do Velho Mundo eram conhecidas e usadas na vinicação em localidades como Chiapas, México, que remonta entre os primeiros séculos a.C. e d.C., como explicou John L. Sorenson:

Nossa compreensão sobre o vinho na antiga Mesoamérica foi aprimorado há 30 anos, quando Martínez M. escavou um local com datação do período Pré-Clássico tardio (primeiros séculos a.C. e d.C.) junto ao rio Grijalva em Chiapas [...] Lá, ele coletou e analisou minuciosamente todos os vestígio e remanescentes vegetais. Ele encontrou sementes de Vitis vinifera, a uva usada para vinho conhecida na Europa, e concluiu que a fruta tinha sido usada para fazer vinho, semelhante ao Velho Mundo.8

Sorenson então concluiu: "Assim, as declarações do Livro de Mórmon sobre o vinho podem se referir tanto a essa bebida, no sentido europeu usual, quanto a alguma outra bebida alcoólica mesoamericana à base de frutas".9

O porquê

Com base nas evidências acima, a produção e o uso de vinho no Livro de Mórmon não são historicamente problemáticos. Sem mais informações, no entanto, é impossível ter certeza a qual tipo de bebida a palavra "vinho" se refere no Livro de Mórmon. É provável que muitas, se não todas, essas bebidas fermentadas fossem conhecidas e usadas pelos povos do Livro de Mórmon, e "vinho" pode muito bem ter sido um termo geral para todas as variedades de bebidas alcoólicas disponíveis para eles.

Ainda assim, estar ciente das diferentes possibilidades convida a fazer perguntas que talvez nunca tenham sido consideradas. Por exemplo, visualize aquele momento sagrado em que o Senhor ressuscitado pediu aos discípulos que levassem pão e vinho para os sacramentos (3 Néfi 18:1-3, 8) e, pouco depois, o próprio Senhor providenciou milagrosamente vinho e pão para uma segunda realização daquele ritual sagrado (3 Néfi 20:5-8). O vinho milagroso do Salvador era a mesma variedade de vinho que os discípulos trouxeram? Se não, por quê?

Embora especulativo, uma possível resposta seria que, talvez, o vinho nativo disponível não fosse forte o suficiente para simbolizar o sangue de Cristo.10 Embora ele tenha aceitado a humilde oferta dos discípulos pela primeira vez, pela segunda vez Cristo pode ter escolhido produzir milagrosamente o vinho tinto tradicional do Velho Mundo para transmitir mais fortemente a eles Seus importantes ensinamentos: "e aquele que bebe deste vinho, bebe do meu sangue para a sua alma; e sua alma nunca terá fome nem sede, mas ficará satisfeita" (3 Néfi 20:8).

Isso seria uma ilustração poderosa para os nefitas acostumados a beber vinhos de cor amarelada. Mesmo que esse não seja o caso, estar ciente dos diferentes tipos de vinho possíveis permite que os leitores visualizem melhor a vida no Livro de Mórmon. Esse conhecimento é especialmente útil no caso do vinho, uma vez que é tão frequentemente mencionado no texto do Livro de Mórmon.

Leitura Complementar

John L. Sorenson, Mormon's Codex: An Ancient American Book (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2013), pp. 307–308. Kirk Magleby, "King Noah's Wine", Book of Mormon Resources, 12 de novembro de 2011  (acessado em 5 de abril de 2016).

1. Ver 1 Néfi 4:7; Mosias 22:7, 10; Alma 55:8-11, 13, 30, 32; 3 Néfi 18:1-3, 8; 20:5-8; Morôni 5:1-2; Morôni 6:6. 2. Wikipedia, s.v., "Wine", disponível em Wikipedia.org (acessado em 13 de abril de 2017). 3. Ver John A. Tvedtnes, "Vineyard or Olive Orchard", em The Allegory of the Olive Tree: The Olive, the Bible, and Jacob 5, ed. Stephen D. Ricks e John W. Welch (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1994), pp. 477–483. Além dos escritos de Isaías do Velho Mundo (em 2 Néfi 13 e 15) e Zenos (em Jacó 5), as vinhas são mencionadas apenas duas vezes no Livro de Mórmon, especificamente em Mosias 11:15 (sobre a nova expansão de Noé) e Alma 28:14 (na metáfora sobre "trabalhar [...] nas vinhas do Senhor"). 4. Ver John L. Sorenson, Mormon's Codex: An Ancient American Book (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2013), p. 307. Sorenson usa "maguey" ao falar sobre agaves. 5. 2 Néfi 15:2 é uma citação de Isaías 5:2. 6. Sorenson, Mormon's Codex, p. 307. 7. Kirk Magleby, "King Noah's Wine", Book of Mormon Resources, November 12, 2011, (accesado 5 de abril de 2016.) Vários modelos diferentes localizam a Terra de Néfi nessa região. Ver Sorenson, Mormon's Codex, pp. 131–133; V. Garth Norman, Book of Mormon–Mesoamerican Geography: History Study Map (American Fork, UT: ARCON and the Ancient America Foundation, 2008), p. 31 (no. 48); Joseph L. Allen e Blake J. Allen, Exploring the Lands of the Book of Mormon, edição revisada (American Fork, UT: Covenant Communications, 2011), pp. 404–405. 8. Sorenson, Mormon's Codex, pp. 307–308. Sorenson citando Alejandro C. Martínez Muriel, "Don Martín, Chiapas: Inferências econômico-sociais de uma comunidade arqueológica" (thesis, Universidad Nacional Autónoma de México, 1978), 102ff., 125 9. Sorenson, Mormon's Codex, p. 308. 10. Agave, banana e abacaxi, naturalmente, produzem um vinho amarelado ou cor de cidra.

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