KnoWhy #82 | Abril 13, 2017

Por que o rei Benjamim menciona tantas vezes o Sangue de Cristo?

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Scripture Central

"Oh! Tende misericórdia e aplicai o sangue expiatório de Cristo, para que recebamos o perdão de nossos pecados e nosso coração seja purificado" Mosias 4:2

O conhecimento

Em uma pausa cerimonial enquanto o rei Benjamim fazia seu discurso de coroação, todas as pessoas exclamaram ao mesmo tempo: "Oh! Tende misericórdia e aplicai o sangue expiatório de Cristo, para que recebamos o perdão de nossos pecados" (Mosias 4:2). O fato de o povo invocar o sangue de Cristo não é surpresa, dado que o rei Benjamim, ao transmitir a mensagem do anjo, mencionou o sangue expiatório de Cristo cinco vezes em suas palavras imediatamente anteriores (Mosias 3:7, 11, 15, 16, 18). Essa ênfase no sangue está provavelmente relacionada ao contexto do ritual festivo do discurso do rei Benjamim.1

Os rituais sacerdotais israelitas no Dia da Expiação incluíam o ato de borrifar e aspergir sangue para purificar várias partes do templo (Levítico 16:14-19, 27).2 Talvez seja ritualmente significativo que Benjamim tenha mencionado as palavras "expia", "expiação" ou "expiatório" sete vezes (Mosias 3:11, 15, 16, 18, 19; 4:6, 7), o mesmo número de vezes que o sangue era aspergido no propiciatório e no altar (Levítico 16:14, 19).3

Em alguns casos, a aspersão de sangue nos antigos rituais de convênio israelita e do Oriente Próximo pode ter trazido a conotação de parentesco entre Deus e o homem.4 Isso se reflete em Mosias 5:7-8, quando o rei Benjamim relacionou esse grupo de "ideias de expiação a um novo relacionamento de parentesco, através dos convênios".5

Ouvir sobre o sangue expiatório de Cristo "dificilmente poderia ter sido colocado de forma mais vívida na mente de seu povo" do que testemunhar a aspersão de sangue sobre o altar.6 Por mais vívido que fosse o cenário israelita, a linguagem e as imagens de sangue do rei Benjamim teriam sido ainda mais intensificadas pelo ambiente do Novo Mundo dos nefitas.

Os antigos povos mesoamericanos também tinham festivais de colheita e coroações.7 A coroação de um rei estava entre os ritos e rituais que muitas vezes ocorriam durante essas celebrações.8 Nessas ocasiões, havia "uma cerimônia de entronização na qual o governante se sentava em uma torre de madeira ou plataforma para receber os emblemas do governo", como retratado no mural de San Bartolo (ca. 100 a.C.).9

De sua posição elevada no topo da torre, o rei realizaria um ritual de sangria, que "exigia que o sangue [fosse] retirado de partes diferentes e específicas do corpo, dependendo do ritual".10 Para a sangria, uma parte sensível, como a língua, era frequentemente perfurada. Acreditava-se que esses rituais, também atestados em San Bartolo,11 abriam as portas que ligavam os mundos divino e terreno.12 Além disso, permitia que o rei demonstrasse ser tanto terreno como divino [conforme o costume mesoamericano].

O porquê

Embora as cerimônias de sangue fossem um ato de realeza divina, isso não significa que Benjamim ou seu sucessor, Mosias, realizassem este tipo de ritual, ou que esses reis do Livro de Mórmon se considerassem seres divinos. Benjamim, especificamente, negou ser divino (Mosias 2:10, 26); em vez disso, ensinou sobre o verdadeiro rei divino, cujo sangue derramaria por Seu povo. "O Messias se sacrificou por seu povo".13

A consciência cultural desses rituais vívidos e muitas vezes explícitos teria impressionado ainda mais a mente dos ouvintes de Benjamim quando aprenderam sobre o "sangue expiatório de Cristo", especialmente ao saberem como o Messias sangraria “por todos os poros” (Mosias 3:7). Brant A. Gardner explicou: "Para os mesoamericanos, um Messias sangrando por todos os poros teria indicado a medida de seu sacrifício, que incluía, por assim dizer, todo o seu próprio corpo".14

Gardner, no entanto, deu um aviso importante. "Embora [o público mesoamericano de Benjamin] […] estivesse culturalmente disposto a atribuir poder de outro mundo ao sangue, a Expiação não fazia parte de seu entendimento".15 Para isso, era preciso recorrer aos rituais israelitas de expiação e purificação por meio de rituais de sangue — e foi exatamente isso que Benjamim fez, declarando: "a lei de Moisés de nada serviria se não fosse pela expiação de seu sangue" (Mosias 3:15, ênfase adicionada).

Nos conceitos mesoamericanos sobre o derramamento de sangue, o sangue de reis divinamente ungidos servia como um canal para conectar o humano com o divino. Nos rituais israelitas, o sangue do sacrifício de animais representava aquele que expiaria os pecados e purificaria a comunidade que havia se comprometido com o Senhor por meio de um convênio. No discurso de Benjamim, o sangue do Messias divino — "o ungido" — expiaria e purificaria a Seu povo, reconciliando os humanos com o divino e criando uma relação de convênio entre eles e Cristo como "seus filhos e suas filhas" (Mosias 5:7).

Assim, Gardner observou: "Benjamim invoca deliberadamente a imagem do sangue expiatório do Messias, criando associações não apenas com os conceitos mesoamericanos de sacrifício de sangue, mas também com os sacrifícios de sangue da lei mosaica".16 A perspectiva combinadas do contexto nefita no Velho e Novo Mundo se fundem no discurso de Benjamim para comunicar poderosamente o poder eficaz e redentor do sangue de Cristo.

Leitura Complementar

T. Benjamin Spackman, "The Israelite Roots of Atonement Terminology", BYU Studies Quarterly 55, no. 1 (2016): pp. 39–64. Mark Alan Wright, "Axes Mundi: Ritual Complexes in Mesoamerica and the Book of Mormon", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 12 (2014): pp. 79–96. Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007–2008), 3: pp. 111–115, 151–156. Terrence L. Szink e John W. Welch, "King Benjamin's Speech in the Context of the Ancient Israelite Festivals", em King Benjamin's Speech: "That Ye May Learn Wisdom", ed. John W. Welch e Stephen D. Ricks (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 147–223. Allen J. Christenson, "Annual FARMS lecture: Maya Harvest Festivals and the Book of Mormon", Review of Books on the Book of Mormon 3, no. 1 (1991): pp. 1–31.

1. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que o tema da realeza é tão proeminente no discurso do rei Benjamin? (Mosias 1:10)", KnoWhy 79 (10 de abril de 2017); Central do Livro de Mórmon, "Por que os nefitas permaneceram em suas tendas durante o discurso do rei Benjamim? (Mosias 2:6)", KnoWhy 80, (11 de abril de 2017). 2. Ver a discussão por Terrence L. Szink e John W. Welch, "King Benjamin’s Speech in the Context of the Ancient Israelite Festivals", em King Benjamin’s Speech: "That Ye May Learn Wisdom", ed. John W. Welch e Stephen D. Ricks (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 174–177. 3. Szink e Welch, "King Benjamin's Speech", pp. 174–175: "A hipótese de que o discurso de Benjamin foi feito ou está relacionado ao Dia da Expiação encontra plausibilidade inicial nas sete referências explícitas de Benjamin à Expiação. O número sete pode ter sido mera coincidência, mas fazer algo sete vezes é característico de rituais realizados no Dia da Expiação e durante outras cerimônias bíblicas de purificação prescritas no livro de Levítico". 4. T. Benjamin Spackman, "The Israelite Roots of Atonement Terminology", BYU Studies Quarterly 55, no. 1 (2016): pp. 53–57, esp. 55 n.53. 5. Spackman, "The Israelite Roots", p. 59. 6. Szink e Welch, "King Benjamin's Speech", p. 176. 7. Allen J. Christenson, um historiador com especialização em arte e linguagem maia, traçou a origem do festival da colheita maia desde as terras altas até os tempos pré-clássicos, encontrando desenhos de arte que datam de 500–300 a.C. Allen J. Christenson, "Maya Harvest Festivals and the Book of Mormon", Review of Books on the Book of Mormon 3, no. 1 (1991): pp. 1–31. 8. Christenson, "Maya Harvest Festivals", p. 26: "Foi demonstrado que, ao longo da história dos maias, o festival mais importante do calendário anual ocorria consistentemente em meados de novembro, quando o sacrifício e a ressurreição de seu deus da vida era cerimonialmente representado. Este festival estava aparentemente ligado ao período principal da colheita, bem como ao Dia de Ano Novo e à renovação do poder real que o acompanhava. […] Antigamente, a inauguração de um novo rei era o tema central do rito de Ano Novo". Como Christenson apontou, esses motivos estão claramente presentes na mensagem cerimonial do rei Benjamim, onde ele falou da morte e ressurreição de Cristo (Mosias 3:8–10) e coroou seu filho rei (Mosias 2:30). "A mensagem de Benjamim tem uma estreita semelhança com o antigo padrão mesoamericano do festival da colheita, onde o deus da vida, ou seu representante terreno, desce ao submundo sendo dominado pelos poderes malignos da morte e do sacrifício" (p. 28) 9. Mark Alan Wright, "Axes Mundi: Ritual Complexes in Mesoamerica and the Book of Mormon", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 12 (2014): p. 85. Na nota de rodapé, Wright observou: "A data do mural de San Bartolo cai diretamente no tempo de Mosias II, que reinou de ca. 124–91 a.C., e cujo reino foi pronunciado de uma torre por seu pai Benjamin" (p. 85, n. 15; cf. Mosias 2:7–8, 30). Wright também observou: "Benjamim apresenta Mosias ritualmente com a parafernália real — as placas de latão, as placas de Néfi, a espada de Labão e a Liahona (Mosias 1:16), (p. 84). 10. Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 3: p. 152. Para o derramamento de sangue como parte das coroações, ver a descrição do ritual de sucessão real de Chan-Bahlum II (d.C. 684–702) Linda Schele e David Freidel, A Forest of Kings: The Untold Story of the Ancient Maya (New York, NY: William Morrow, 1990), pp. 233–234. Ele descreve curiosamente que "[um] grande grito de angústia surgiu da multidão reunida […] vendo-a emergir, o sangue de sua tanga branca claramente visível na luz oblíqua do sol poente" (p. 234), embora não esteja claro se esta é sua própria licença narrativa. Este grande grito de angústia é obviamente muito diferente do luto do povo em Mosias 4:2, mas é interessante que ambos estejam ligados ao sacrifício de sangue. 11. Michael D. Coe e Stephen Houston, The Maya, 9th edition (New York, NY: Thames and Hudson, 2009), p. 89, observaram que o derramamento de sangue é descrito em San Bartolomeu, datado cerca do século I ou II a.C. Eles também mencionam o testemunho de derramadores de sangue da época dos olmecas. Robert J. Sharer com Loa P. Traxler, The Ancient Maya, 6ª edição (Stanford, CA: Standford University Press, 2006), p. 197 descreveu "um ritual pródigo envolvendo um banquete, derramamento de sangue e queima de incenso" do "fim do período pré-clássico médio", ca. 800–500 a.C. Portanto, o derramamento de sangue parece ser claramente atestado nos tempos do Livro de Mórmon. 12. Schele e Freidel, A Forest of Kings, pp. 68–71. 13. Gardner, Second Witness, 3: p. 152. 14. Gardner, Second Witness, 3: p. 152. É interessante que, embora Benjamin mencione que Cristo seria crucificado e ressuscitado no terceiro dia (consistente com os temas das festas maias da colheita, como observado por Christenson), ele, no entanto, nunca relaciona o sangue expiatório com a morte de Cristo, em vez disso, ele o relaciona com o derramamento de sangue no Getsêmani, onde Ele "sofrerá […] [ainda mais] do que o homem pode suportar sem morrer" (Mosias 3:7), mas naquele momento, Ele mesmo não morreria. Isso teria ressoado com o público mesoamericano, onde os reis sangravam como sacrifício, mas sem morrer. Isso também ressalta ainda mais a grandeza do sacrifício: o Messias perderia tanto sangue que poderia ter matado qualquer outro humano. 15. Gardner, Second Witness, 3: p. 152. 16. Gardner, Second Witness, 3: p. 154.

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