KnoWhy #83 | Agosto 20, 2020

Por que rei Benjamim usa tantos paralelos poéticos?

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Scripture Central

"E quisera que também vos lembrásseis de que esse é o nome que eu disse que vos daria e que nunca seria apagado, a menos que o fosse devido a transgressão; portanto, tomai cuidado para não transgredirdes, a fim de que o nome não seja apagado de vosso coração."

O conhecimento

O discurso do rei Benjamim em Mosias 2-5 pode muito bem ser chamado de obra-prima da oratória.1 Apenas um exemplo desse domínio é a presença inconfundível de quiasmas e outros paralelismos na estrutura do discurso. "Uma impressionante variedade de estruturas literárias aparece no discurso de Benjamin, organizada de forma proposital e inteligente", observou John W. Welch. "A maneira como Benjamin usou quiasmas, todos os tipos de paralelos e muitas outras maneiras de repetir padrões dá foco e ênfase às principais mensagens e qualidades persuasivas deste texto".2 Welch explica que o discurso do rei Benjamim contém não apenas um ou dois paralelismos simples, mas diferentes tipos que se estendem ao longo do texto de maneiras complexas. Além do quiasma, "o discurso do rei Benjamim apresenta [muitas] técnicas outras [de paralelismo]".3 O longo capítulo que Welch escreveu sobre esse tópico fornece inúmeros exemplos e citações da literatura que definem e exploram o propósito literário por trás desses muitos tipos de paralelos. Uma declaração elegante no discurso de Benjamim, que dísticos diretamente paralelos, é sua admoestação para crer, encontrada em Mosias 4:8-10. Observe os ritmos de reforço encontrados nas palavras pares e ecos duplicados da elegia de oito partes de Benjamin:

1 E esse é o meio pelo qual é concedida a salvação. E não há qualquer outra salvação, a não ser esta que foi mencionada;

2 tampouco há outras condições pelas quais o homem possa ser salvo, exceto aquelas de que vos falei.

3 Acreditai em Deus; acreditai que ele existe e que criou todas as coisas, tanto no céu como na Terra;

4 acreditai que ele tem toda a sabedoria e todo o poder , tanto no céu como na Terra;

5 acreditai que o homem não compreende todas as coisas que o Senhor pode compreender.

6 E novamente, acreditai que vos deveis arrepender de vossos pecados e abandoná-los

7 e humilhar-vos diante de Deus; e pedir com sinceridade de coração que ele vos perdoe;

8 e agora, se acreditais em todas estas coisas, vede que as façais.

Outro exemplo importante de outro tipo de paralelismo no discurso de Benjamin é o quiasma em Mosias 5:10-12. Ele aparece no meio da seção final do discurso como uma espécie de encerramento retumbante.

E então acontecerá que (A) aquele que não tomar sobre si o nome de Cristo (B) deverá ser chamado por algum outro nome; (C) Portanto, se encontrará à mão esquerda de Deus. (D) E quisera que também vos lembrásseis de que esse é o nome que eu disse que vos daria (E) e que nunca seria apagado, (F) a menos que o fosse devido a transgressão; (F') portanto, tomai cuidado para não transgredirdes, (E') a fim de que o nome não seja apagado de vosso coração. (D') Digo-vos: Quisera que vos lembrásseis de conservar sempre o nome escrito em vosso coração, (C') para que não vos encontreis à mão esquerda de Deus, (B') mas para que ouçais e conheçais a voz pela qual sereis chamados, (A') e também o nome pelo qual ele vos chamará.

Esse quiasma, descoberto por John W. Welch em 1967, quando servia uma missão na Alemanha,4 "chega com sucesso ao seu ápice e intensifica sua exortação final contra a transgressão por meio da introdução marcante desses termos cuidadosamente escolhidos e intencionalmente repetidos".5 Desde a descoberta inicial desse quiasma, Welch e outros estudiosos analisaram extensivamente a presença de desta e de outras estruturas poéticas hebraicas no Livro de Mórmon, incluindo suas importantes funções na comunicação do significado textual, bem como seus significados na localização da historicidade literária e cultural do livro.6

O porquê

 Usar todos os tipos de paralelismo em um discurso como o de Benjamin pode servir a muitos propósitos importantes. Por exemplo: Acrescenta dignidade a uma ocasião formal, como uma coroação real, por ter um texto orientador, cuidadosamente organizado, segundo as formas literárias tradicionais. Acrescenta ênfase a uma declaração séria, como a proclamação de um novo monarca, a repetição de pontos importantes, chamando a atenção para cada ponto de explicação e instrução. Acrescenta equilíbrio ao momento de fazer um convênio, como quando Benjamim coloca seu povo sob o convênio de obedecer ao seu novo líder como um servo contínuo de Deus na Terra, para que as obrigações e bênçãos relacionadas ao convênio sejam estabelecidas. Acrescenta ordem a uma apresentação profundamente estruturada, como o magistral discurso de Benjamin, com a introdução de palavras ou frases em uma sequência e, depois, repetindo-as em um paralelo direto ou em ordem paralela invertida, tornando a estrutura e os detalhes deste texto impressionantes, memoráveis e realmente fáceis de memorizar. Como Welch resume: "O rei Benjamim criou paralelismos para alcançar uma harmonia ou síntese de suas ideias".7

Embora não se possa saber absolutamente se Benjamin criou intencionalmente os padrões de quiasmas observados em seu discurso, ou se eles emergiram como algo secundário à sua maneira de pensar e escrever, a presença de várias formas de paralelismos e quiasmas no discurso de Benjamin é significativa para qualquer avaliação literária de suas qualidades. Isso demonstra que esse texto foi composto de forma cuidadosa, meticulosidade, com propósito e elegância, e consistente com as normas básicas do estilo de paralelismo do hebraico antigo. 8

Ao incluir muitas formas de paralelismo em sua oratória (seja no discurso falado ou no texto finalizado, ou talvez em ambos), Benjamin utilizou um método que comunicou com muita eficácia suas mensagens importantes. A presença dessas formas não apenas fornece evidências das raízes hebraicas do Livro de Mórmon, mas também ajuda os leitores modernos a apreciar a beleza do texto e concentrar sua atenção nos pontos-chave da rica doutrina que ele contém.

Leitura Complementar

John W. Welch, "Chiasmus in the Book of Mormon", Chiasmus in Antiquity: Structures, Analyses, and Exegesis, ed. John W. Welch (Hildesheim/Provo, UT: Gerstenberg Verlag/Research Press, 1981), pp. 198–210. John W. Welch, "What Does Chiasmus in the Book of Mormon Evidence?" em Book of Mormon Authorship Revisited: The Evidence for Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: FARMS, 1997), pp. 199–224. John W. Welch, "Parallelism and Chiasmus in Benjamin's Speech", em King Benjamin's Speech: "That Ye May Learn Wisdom", ed. John W. Welch e Stephen D. Ricks (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 315–410. John W. Welch, "The Discovery of Chiasmus in the Book of Mormon", Journal of Book of Mormon Studies 16, no. 2 (2007): pp. 74-87, 99.

1. Neal A. Maxwell, "King Benjamin's Sermon: A Manual for Discipleship", e John W. Welch, "Benjamin's Speech: A Masterful Oration", em King Benjamin's Speech: "That Ye May Learn Wisdom", ed. John W. Welch e Stephen D. Ricks (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 1–22, 55–88. 2. John W. Welch, "Parallelism and Chiasmus in Benjamin's Speech", em King Benjamin's Speech, p. 315; ver também pp. 70-72, 315-410. 3. Welch, "Parallelism and Chiasmus in Benjamin’s Speech", p. 317. Welch, "Parallelism and Chiasmus in Benjamin’s Speech", 400 n. 7. 4. John W. Welch, "The Discovery of Chiasmus in the Book of Mormon", Journal of Book of Mormon Studies 16, no. 2 (2007): pp. 74–87, 99; Trent Toone, "Discovery of chiasmus in Book of Mormon recounted in new YouTube video", Deseret News, 1 de setembro de 2015, online. 5. Welch, "Parallelism and Chiasmus in Benjamin's Speech", p. 373. 6. Ver, em geral, John A. Tvedtnes, "The Hebrew Background of the Book of Mormon", em Rediscovering the Book of Mormon: Insights You May Have Missed Before, ed. John L. Sorenson e Melvin J. Thorne (Provo, UT: FARMS, 1991), pp. 77–91; Donald W. Parry, "Hebraisms and Other Ancient Peculiarities in the Book of Mormon", em Echoes and Evidences of the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry, Daniel C. Peterson e John W. Welch (Provo, UT: FARMS, pp. 155-190; Carl J. Cranney, "The Deliberate Use of Hebrew Parallelisms in the Book of Mormon", Journal of Book of Mormon Studies 23 (2014): pp. 140–165; John A. Tvedtnes, "Hebraisms in the Book of Mormon", em Encyclopedia of Hebrew Language and Linguistics, 4 v., ed. Geoffrey Khan (Leiden: Brill, 2013), 2: pp. 195–196. 7. Welch, "Parallelism and Chiasmus in Benjamin's Speech", p. 317. 8. Welch, "Parallelism and Chiasmus in Benjamin's Speech", p. 324.