KnoWhy #638 | Junho 20, 2022
Por que os antigos israelitas levantavam as mãos em louvor?
Postagem contribuída por
Central das Escrituras
"E Esdras louvou ao Senhor, o grande Deus, Deus, e todo o povo respondeu: Amém, Amém, levantando as suas mãos; e inclinaram-se, e adoraram ao Senhor, com os rostos em terra." Neemias 8:6
O conhecimento
Os livros de Esdras e Neemias detalham como os antigos israelitas louvavam ao Senhor enquanto reconstruíam o templo em Jerusalém, após o cativeiro babilônico. Os filhos de Israel "cantavam alternadamente, louvando e celebrando ao Senhor [...] E todo o povo jubilou com grande júbilo" (Esdras 3:11). Neemias acrescenta que os israelitas levantavam as mãos enquanto oravam e adoravam ao Senhor: "E todo o povo respondeu: Amém, Amém, e inclinaram-se, e adoraram ao Senhor, com os rostos em terra." (Neemias 8:6).
Relatos de orações com as mãos levantadas são registrados em várias ocasiões nas escrituras, na maioria das vezes em relação ao primeiro templo em Jerusalém. Quando Salomão dedicou seu templo, ofereceu a oração dedicatória "diante do altar do Senhor [...] estendeu as suas mãos para os céus," (1 Reis 8:22, 54). Muitos salmos relacionados ao templo, como o Salmo 63, também descrevem o peticionário no templo, orando com as mãos estendidas para o céu: "Assim, eu te bendirei enquanto viver; em teu nome levantarei as minhas mãos." (Salmo 63:4). O Apóstolo Paulo também menciona a oração "levantando mãos santas, sem ira nem contenda" (1 Timóteo 2:8).
David M. Calabro identificou várias inscrições antigas do Oriente Próximo que podem oferecer algumas informações sobre essa prática antiga. Segundo Calabro, estas inscrições "demonstram que o sinal da oração consistia essencialmente em levantar as duas mãos com as palmas voltadas para fora". No entanto, havia também um elemento dinâmico no grau de extensão das mãos para cima".1 É possível que Isaías estivesse descrevendo os diferentes graus de levantar as mãos quando falou de alguém que "estenderá as suas mãos por entre eles, como as estende o nadador para nadar" (Isaías 25:11). Se isso estiver relacionado ao gesto de oração, "isso implicaria que o sinal pode envolver algum movimento do braço comparável a nadar (como, talvez, levantar as mãos e depois abaixá-las)".2
Calabro apontou várias interpretações possíveis dessa antiga forma de oração.3 Primeiro, por expor as mãos e o coração, isso poderia mostrar ao Senhor que o peticionário era puro e capaz de estar em Sua presença. Talvez, isso seja exemplificado pelo Salmo 24:4, em que os requisitos apresentados para entrar no templo são oferecidos como "limpo de mãos e puro de coração". No entanto, essa pureza poderia ser pervertida quando estes sinais fossem feitos de maneira indigna. Assim, em Isaías, o Senhor declara que quando Israel [estendia suas] "mãos, escondo de vós os meus olhos" porque "as vossas mãos estão cheias de sangue" (Isaías 1:15).
Da mesma forma, a iniquidade de um povo que faz sinais sagrados, como orar com as mãos erguidas, é vista no ministério de Alma aos Zoramitas. Quando Alma e seus companheiros chegaram, descobriram que "os zoramitas estavam pervertendo os caminhos do Senhor" (Alma 31:1; cf. v. 11). Como parte dessa perversão, cada zoramita subia ao Rameumptom e estendia "as mãos para o céu, e clamava em alta voz", oferecendo uma oração repetitiva (Alma 31:14). Mórmon e Alma não necessariamente condenaram essa forma de oração, mas o uso aberto dos zoramitas desse sagrado procedimento de súplica, que normalmente era reservado para a adoração no templo, pode ter sido a razão pela qual Alma e seus companheiros "ficaram extremamente admirados" com as orações dos zoramitas (Alma 31:19).
Outra observação é que esse sinal pode ter "o propósito de atrair a atenção de Deus" ou pode expressar "um desejo de contato com Deus".4 Esta sugestão pode ser apoiada pelo Salmo 63, oferecido por um peticionário do templo buscando a presença de Deus (vv. 1–2). Calabro apontou para um possível conjunto de ações ritualísticas realizadas pelo peticionário ao se aproximar de Deus, incluindo levantar as mãos em oração (v. 4), depois regozijar-se "na sombra das asas [de Deus]" (v. 7), que, segundo Calabro, poderia ser "talvez uma alusão a um abraço", e finalmente apertar a mão direita de Deus (v. 8).5 Embora seja possível entender estas referências metaforicamente, o peticionário do templo pode estar descrevendo aqui um conjunto de ações ritualísticas.6 Matthew B. Brown também identificou tais ações ritualísticas relacionadas a este e a outros salmos.7
Também foram oferecidas outras interpretações do significado destes gestos solenes, como mostrar a própria rendição diante de Deus, expressar humildade e desejo de servir a Deus e solicitar uma bênção específica. É importante lembrar que essas "interpretações não são mutuamente exclusivas; na verdade, não se descarta que todas essas interpretações do sinal da mão levantada tenham coexistido mesmo na antiguidade".8
O porquê
Compreender os gestos de aproximação usados pelos antigos israelitas pode ser útil para os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, oferecendo contexto para as muitas práticas restauradas que realizamos hoje.
Por exemplo, semelhante ao grito do povo "com grande clamor" (Esdras 3:11), os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias executam o "Brado de Hosana" nas dedicações de templos ou outras reuniões importantes. Isso é feito com as mãos levantadas, que remete à maneira que o povo orou na dedicação do novo templo de Jerusalém (ver Neemias 8:6).
O templo é um lugar santo e sagrado e os gestos de aproximação nele realizados são vistos como igualmente sagrados. Compreendendo isso, os leitores membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias podem entender melhor a rejeição do Senhor a algumas pessoas, por sua iniquidade ao perverter esses sinais sagrados (ver Isaías 1:15; Alma 31:11). Aqueles que frequentam os templos podem reconhecer que a adoração atual é um evento antigo e santo, no qual consagram seu tempo; todos devem tomar muito cuidado para assegurar a honra e respeito aos templos dedicados ao Senhor.
Compreender como os antigos israelitas adoravam ao Senhor e o louvavam com as mãos erguidas também acrescenta um contexto muito útil às escrituras. Estes sinais de aproximação e louvor oferecidos nos templos antigos contribuem para a compreensão de como os antigos israelitas viam o templo, seu relacionamento com o Senhor ao adorarem-no ali e como se submetiam humildemente à orientação de seu convênio; por extensão, como e porque os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias podem entender e melhor apreciar tudo o que o templo oferece para edificar seu relacionamento eterno com o Senhor.
Leitura Complementar
David M. Calabro, "Gestures of Praise: Lifting and Spreading the Hands in Biblical Prayer", em Ascending the Mountain of the Lord: Temple, Praise, and Worship in the Old Testament, ed. Jeffrey R. Chadwick, Matthew J. Grey y David Rolph Seely (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City: Deseret Book, 2013), pp. 105–21. Stephen D. Ricks, "Prayer with Uplifted Hands", em The Temple—Past Present, and Future: Proceedings of the Fifth Interpreter Foundation Matthew B. Brown Memorial Conference, 7 November 2020, ed. Stephen D. Ricks y Jeffrey M. Bradshaw (Orem, UT: Interpreter Foundation; Salt Lake City, UT: Eborn Books, 2021), pp.197–213. Uma apresentação em vídeo deste documento está disponível em interpreterfoundation.org.David M. Calabro, "Understanding Ritual Hand Gestures of the Ancient World: Some Basic Tools", Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 37 (2020): pp. 293–308. John A. Tvedtnes, "Temple Prayer in Ancient Times", em The Temple in Time and Eternity, ed. Donald W. Parry e Stephen D. Ricks (Provo, UT: FARMS, 1999), pp. 81–84.1. David M. Calabro, "Gestures of Praise: Lifting and Spreading the Hands in Biblical Prayer", em Ascending the Mountain of the Lord: Temple, Praise, and Worship in the Old Testament, ed. Jeffrey R. Chadwick, Matthew J. Grey y David Rolph Seely (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City: Deseret Book, 2013), p.115. 2. Calabro, "Gestures of Praise", p.111. 3. Calabro, "Gestures of Praise", p.117. 4. Calabro, "Gestures of Praise", p.117. 5. Calabro, "Gestures of Praise", p.118. 6. Calabro, "Gestures of Praise", p.118. 7. Matthew B. Brown, "The Handclasp, the Temple, and the King", Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 42 (2021): 423–424, publicado originalmente em Temple Insights: Proceedings of the Interpreter Matthew B. Brown Memorial Conference, "The Temple on Mount Zion", 22 de setembro de 2012 , ed. William J. Hamblin y David Rolph Seely (Orem, UT: Interpreter Foundation; Salt Lake City: Eborn Books, 2014), pp.5–10.
8.Calabro,"Gestures of Praise", p.117.