KnoWhy #131 | Novembro 27, 2019
Por que os lamanitas convertidos demominavam-se "Ânti-Néfi-Leítas"?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"E aconteceu que escolheram o nome de ânti-néfi-leítas"
O conhecimento
A extraordinária obra missionária dos filhos de Mosias, registrada em Alma 17–27, resultou em uma onda de conversões lamanitas. Não só as classes baixas lamanitas foram convertidas, mas também a sua realeza (Alma 18:22-19:26; 22:1-26). Entre os convertidos estavam grupos de lamanitas ensinados por Amon, que, após sua conversão, adotaram o nome de ânti-néfi-leítas (Alma 23:4-18). Isso, relata o texto, foi feito para que esses convertidos "se distinguissem de seus irmãos" que permaneceram não convertidos (v. 16). Entre os convertidos estava o rei lamanita, que deu a seu filho um novo nome — Ânti-Néfi-Leí — em sua ascensão ao trono (Alma 24:1-6). Em relação a esses lamanitas convertidos, Mórmon escreveu que eles "começaram a ser um povo muito industrioso; sim, e fizeram-se amigos dos nefitas; portanto, estabeleceram relações com eles e a maldição de Deus não mais os acompanhou" (Alma 23:18).1 O nome incomum de Ânti-Néfi-Leítas intriga os leitores do Livro de Mórmon, especialmente ao tentar entender a presença do ânti- neste nome.2 Muitas vezes causa confusão, porque parece ser a preposição (anti-) grega comumente usada hoje com o sentido de "oposto a; contra". À luz do contexto, não faria sentido que esses recém-conversos se declarassem contra Néfi e Leí. Alternativamente, se o elemento do nome anti- deriva do adjetivo relativo egípcio nty, que significa "aquele que", "aquilo" ou "qual", então o nome significaria exatamente o oposto; aproximadamente, "aquilo-que(-é-de-)Néfi-Leí" ou "aquele-que(-é-de-)Néfi-Leí".3 Esta proposta funciona especialmente bem à luz do que se segue imediatamente após o nome ser dado. O texto, conforme mencionado acima, indica que os ânti-Néfi-Leítas "fizeram-se amigos dos nefitas" após sua conversão e "estabeleceram relações com eles" (Alma 23:18). Mais do que simplesmente "amigos" no sentido comum da palavra, os ânti-néfi-leítas e os nefitas firmaram um convênio ou tratado que deu aos ânti-néfi-leítas a terra e a proteção nefita (cf. Alma 27:22-23, 24,27) O fato de que estes dois povos serem "amigos" entre si é talvez melhor entendido como significando que criaram uma aliança política. Isso seria consistente com outras passagens do Livro de Mórmon. O rei Lamôni, por exemplo, falou de Antiono como "meu amigo" e, como tal, pôde usar um favor político ao libertar os irmãos de Amon da prisão (Alma 20:4). Os aliados usaram esse tipo de linguagem em várias culturas do antigo Oriente Próximo. Em tratados ou alianças políticas (como visto nas correspondências políticas de Mari, Ugarit e Egito), os poderes participantes frequentemente usavam linguagem familiar para descrever as relações diplomáticas entre eles, incluindo "pai", "filho" e "irmão".4 Israel é chamado de "filho" do convênio de Jeová em passagens como o livro de Oséias (cf. Oséias 11:1–4).5 E no mundo greco-romano, mesmo no Novo Testamento (cf. Lucas 23:12), a linguagem de "amigos" foi usada para descrever alianças políticas e econômicas entre Roma e outros potentados. O mesmo se aplica aos povos do Livro de Mórmon (Jacó 1:14, Mosias 24:5, 28:2).6
O porquê
Tomar o nome de ânti-néfi-leítas foi uma declaração pública feita por esse grupo de conversos de que eles haviam se afastado de forma independente da ordem política bem estabelecida. Este passo ousado não poderia ser mantido em segredo por muito tempo. Esse nome de coroação pode ter servido a vários propósitos, um dos quais poderia ter sido sinalizar sua solidariedade com seus novos amigos e aliados nefitas. Ao adotar esse nome, que incluía Néfi e Leí, esse rei e seu povo também se reconheceram implicitamente como descendentes de Leí que viviam na terra de Néfi. Em vez de seguir as tradições mais recentes de seus pais, essas pessoas agora procuravam se lembrar dos tempos e ensinamentos do pai Leí, que havia ensinado o verdadeiro caminho para a árvore da vida e prometido a todos os seus descendentes as bênçãos de paz e prosperidade com base em sua obediência unida às leis do Messias vindouro. Ao levar esse nome, o compromisso e a coragem desses lamanitas convertidos não devem ser negligenciados. Ao tomarem sobre si esse novo nome ("aquele-que-[é-de-]Néfi-Leí"), esses lamanitas desafiaram as tradições de seus pais,7 e se expuseram à retaliação. Imediatamente após sua conversão, eles foram atacados por seus antigos aliados lamanitas, que "foram instigados […] a irarem-se contra seus irmãos" (Alma 24:1). O ódio contra os ânti-néfi-leítas era tão forte (v. 2), que muitos deles foram massacrados por seus antigos parentes (vv. 20-22). Todo esse episódio faz mais sentido se os ânti-néfi-leítas tivessem feito mais do que simplesmente se converter a outra religião. Em todo o mundo antigo, onde a separação entre igreja e estado era praticamente inexistente, a devoção à uma divindade, a lealdade às estruturas políticas e a preservação da identidade cultural formavam uma única essência. Isso certamente era verdade para muitos povos no Livro de Mórmon. Ao se converter ao evangelho, tomando o nome de ânti-néfi-leítas, adotando uma identidade nefita e tornando-se seus "amigos" (cf. Alma 27:20-27), os lamanitas convertidos sem dúvida reconheceram os riscos que corriam ao indicar sua devoção completa e infalível ao seu Deus recém-adotado.
Leitura Complementar
"Anti-Nephi-Lehi", Book of Mormon Onomasticon, ed. Paul Y. Hoskisson. Royal Skousen, Analysis of Textual Variants of the Book of Mormon: Part 4, Alma 21–55 (Provo, UT: FARMS, 2007), pp. 2091–2095. Stephen D. Ricks, "Anti-Nephi-Lehies", em Book of Mormon Reference Companion, ed. Dennis L. Largey (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2003), pp. 67–68.1. Sobre a natureza da maldição lamanita, consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "O que significa ser um povo "puro e agradável"? (2 Nefi 30:6)", KnoWhy 57 (11 de março de 2017); "Por que os profetas do Livro de Mórmon não incentivavam o casamento entre nefitas e lamanitas? (Alma 3:8)", KnoWhy 110 (16 de maio de 2017). 2. Ver Kevin Barney, "Anti-Nephi-Lehies", By Common Consent; "Anti-Nephi-Lehi", Book of Mormon Onomasticon, ed. Paul Y. Hoskisson; Royal Skousen, Analysis of Textual Variants of the Book of Mormon: Part 4, Alma 21–55 (Provo, UT: FARMS, 2007), pp. 2091–2095. 3. Stephen D. Ricks, "Anti-Nephi-Lehi", em Book of Mormon Reference Companion, ed. Dennis L. Largey (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2003), p. 67; compare Alan Gardiner, Egyptian Grammar, 3ª edição (Oxford: Griffith Institute, 1957), pp. 150–151; James E. Hoch, Middle Egyptian Grammar, SSEA Publication XV (Toronto: Benben Publications, 1997), pp. 124–127; James P. Allen, Middle Egyptian: An Introduction to the Language and Culture of Hieroglyphs, 3ª edição (Cambridge: Cambridge University Press, 2014), pp. 350–351. 4. F. Charles Fensham, "Father and Son Terminology for Treaty and Covenant", em Near Eastern Studies in Honor of William Foxwell Albright, ed. by Hans Goedicke (Baltimore, MD: The Johns Hopkins University Press, 1971), pp. 121–135; J. David Schloen, The House of the Father as Fact and Symbol: Patrimonialism in Ugarit and the Ancient Near East (Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2001), pp. 255–262. Ver também o artigo da Central do Livro de Mórmon, "O que significa ser 'rei de toda a terra'? (Alma 20:8)", KnoWhy 128 (6 de junho de 2017). 5. Ver o comentário oferecido por Joy P. Kakkanattu, God’s Enduring Love in the Book of Hosea: A Synchronic and Diachronic Analysis of Hosea 11:1–11, Forschung zum Alten Testament 2. Reihe 14 (Tübingen: Mohr Siebeck, 2006), pp. 31–44. T. Benjamin Spackman, "The Israelite Roots of Atonement Terminology", BYU Studies Quarterly 55, no. 1 (2016): pp. 53–57. 6. John W. Welch, "The Elimination of Jesus as an Instance of International Cooperation: Lessons from Ancient Near Eastern Realpolitik", paper delivered at the International Meeting of the Society of Biblical Literature, Vienna, Austria, July 2014, paper delivered in our possess; Raymond Westbrook, "Patronage in the Ancient Near East", Journal of the Economic and Social History of the Orient 48, no. 2 (2005): p. 213. "Termos como 'amor' são empregados nas relações servo-mestre/vassalo-soberano (eles atestam o mandamento bíblico de que os israelitas devem amar seu deus). Um termo afetuoso como "amigo" pode designar um relacionamento comercial ou profissional". 7. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que Amon se baseou tanto na tradição em Alma 26? (Alma 26:8)", KnoWhy 133 (12 de junho de 2017).