KnoWhy #247 | Agosto 21, 2019

Por que os profetas falam de mais de uma Jerusalém?

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Scripture Central

"E que [este local] era o lugar da Nova Jerusalém, que desceria do céu, e o sagrado santuário do Senhor. [...] E falou também a respeito da casa de Israel e da Jerusalém de onde Leí viria[...] E que uma Nova Jerusalém seria construída nesta terra para os remanescentes da semente de José" Éter 13:3–6

O conhecimento

Em Éter 13, Morôni continuou seu compêndio dos escritos do profeta jaredita, Éter, sobre o que aconteceria no futuro nas terras que foram dadas aos jareditas como “uma terra escolhida” (Éter 13:2-4). Éter declarou que esta terra, que se entende estar localizada no continente americano, "era o lugar da Nova Jerusalém" (Éter 13:3). Nos versículos a seguir, Morôni apresenta Éter falando de três cidades santas, três cidades de Jerusalém, que são aparentemente distintas:

  1. 1. A Nova Jerusalém que descerá do céu (Éter 13:3).
  2. 2. A Jerusalém da antiga Israel (Éter 13:5)
  3. 3. Uma Nova Jerusalém no continente americano (Éter 13:6)

Morôni usou as palavras de Éter para enfatizar como essas cidades sagradas desempenharão um papel importante nos últimos dias, à medida que a Terra for renovada antes do reinado milenar de Cristo e também após o Milênio, quando a Terra for renovada novamente ou transformada em um reino celestial (Éter 13:3-8).1 Outros profetas e o próprio Salvador mencionaram essas cidades sagradas dos últimos dias. De fato, evidências da expectativa de Sião, a cidade santa de Deus, pode ser encontrada em todas as escrituras:

  • Quando Jesus Cristo visitou o povo do Livro de Mórmon após Sua Ressurreição, reiterou o convênio que estabeleceria com eles na terra (o Continente Americano), e que "será uma Nova Jerusalém".2
  • O Senhor disse ao apóstolo João que escrevesse "o nome da cidade do meu Deus, o da nova Jerusalém, que desce do céu do meu Deus" (Apocalipse 3:12). Mais tarde, em sua visão, João "vi[u] a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu" na qual Deus moraria com os homes na terra (Apocalipse 21:1-5).
  • Para o profeta Enoque, que viveu antes de Jarede e seu irmão deixarem o Velho Mundo, Deus mostrou que, antes da Segunda Vinda, o povo seria reunido em "meu tabernáculo [que] chamar-se-á Sião, uma Nova Jerusalém" (Moisés 7:62).
  • A Epístola aos Hebreus menciona como Abraão, enquanto vagava pela terra prometida, vivendo em tendas, "aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual o arquiteto e construtor é Deus" (Hebreus 11:10, KJV).3
  • A TJS de Gênesis 14:32-35 diz que Melquisedeque e "seu povo [praticaram] a retidão, e [obtiveram] o céu, e [procuraram] a cidade de Enoque que Deus havia antes tomado, separando-a da Terra, tendo-a reservado para os últimos dias, ou seja, o fim do mundo".
  • Ezequiel viu, em uma visão muito detalhada, como seria a Nova Jerusalém e seu templo nos últimos dias ( Ezequiel 40-48).
  • Vários textos apócrifos/pseudoepígrafos, incluindo 1 Enoque, 4 Esdras e 2 Baruque, retratam a vinda da Nova Jerusalém com seu glorioso templo.
  • Um texto fragmentado denominado "O pergaminho da Nova Jerusalém"4, encontrado entre os Pergaminhos do Mar Morto, dá detalhes de uma visão da cidade e do templo que Deus construirá no final dos tempos. No texto, um anjo fornece detalhes sobre as medidas e a aparência da cidade do templo, muito parecidas com as revelações dadas a Ezequiel e João, mas com alguns detalhes diferentes.

Embora a descrição da Nova Jerusalém celestial que desce à Terra encontrada no livro de Apocalipse do Novo Testamento seja, talvez, mais conhecida pelos leitores modernos, o fato de vários dos textos mencionados acima terem sido escritos antes de Apocalipse, indica que a crença em uma Jerusalém celestial ou "nova" não se limita a esse livro, mas tem sido mantida entre os crentes por muito mais tempo.

O porquê

O fato de haver várias referências nas escrituras a cidades sagradas chamadas "Sião" ou "Nova Jerusalém" pode ser confuso para os leitores. Pode haver várias razões para esse fenômeno. Aqui estão quatro possibilidades: 1. A "Nova Jerusalém" é um tipo. Um tipo é uma classe, uma coisa que simboliza ou exemplifica um ideal. Os tipos podem ser repetidos. Assim, vemos a cidade de Enoque, Salém de Melquisedeque, Jerusalém, a Nova Jerusalém, Sião, todas essas cidades sagradas são cidades templos onde o povo escolhido do Senhor pode viver como um só, unificado em seu amor a Deus e ao próximo. 2. A esperança de "Sião", a cidade de Deus, tem sido mantida por muitos profetas e crentes ao longo do tempo (como discutido anteriormente). O autor de Hebreus conhecia a crença tradicional de que Abraão e outros patriarcas e profetas estavam procurando ou esperando "a cidade que tem fundamentos, da qual o arquiteto e construtor é Deus" (Hebreus 11:10, KJV). É natural, portanto, que a ideia de uma Nova Jerusalém seja encontrada em várias fontes. 3. Éter 13 deve ser visto não apenas como um eco de uma tradição, como em Apocalipse 21, mas uma representação da variedade de tradições da Nova Jerusalém que podem ser encontradas em textos religiosos antigos. Por exemplo, embora Éter mencione a Nova Jerusalém que vem do céu, o novo céu e a nova terra, e os habitantes cujas vestes foram branqueadas pelo sangue do Cordeiro (ver Apocalipse 7:14), que são citados na revelação de João, há muitas diferenças entre os dois textos. As imagens nupciais encontradas em Apocalipse não estão presentes em Éter, nem as descrições da aparência da cidade. João não inclui nenhuma das referências ao remanescente da semente de José, que herdaria a Nova Jerusalém, a ser construída no continente americano (Éter 13:6-8). O motivo da Nova Jerusalém em Éter deve ser visto como uma representação única dessa tradição que, de certa forma, se assemelha a várias outras. 4. A Nova Jerusalém é o nome de um lugar divino, um nome que reflete as características de outros nomes e títulos divinos. Qualidades e títulos divinos geralmente são expressos no plural e no superlativo. Por exemplo, um título divino para Deus, o Pai, é Eloim. No entanto, a palavra eloim em hebraico é plural e na verdade significa "deuses", aqueles que compartilham a característica de serem divinos. Chamar o Pai de "Eloim" pode fazer referência à pluralidade que existe na divindade, ou no conselho divino, e também pode ser uma referência à natureza superlativa das qualidades divinas de Deus. Da mesma forma, a Nova Jerusalém pode se referir a um lugar específico, a cidade de Deus, mas também é um título que pode ser aplicado a vários locais que compartilham a característica de ser uma cidade santa. 5. A Nova Jerusalém se refere à morada de Deus. Os crentes cristãos mencionados na Epístola aos Hebreus estavam buscando, e alcançaram, a cidade celestial de Deus, onde o Pai e o Filho habitam (Hebreus 12:22-23). Enoque e sua cidade foram arrebatados ao céu, ao "seio do Pai" (Moisés 7:24, 31, 69). Aqueles que são levados para a morada de Deus estão em Sião, a Nova Jerusalém. Da mesma forma, quando Deus condescende em habitar com a humanidade, esse lugar também é Sião, a Nova Jerusalém.5 Os estudiosos santos dos últimos dias Richard D. Draper e Michael D. Rhodes, em seu comentário sobre o livro de Apocalipse, enfatizaram o papel da comunidade e da família, especificamente a família de Deus, no conceito da Nova Jerusalém. Eles explicam:

Um ponto precisa ser enfatizado. No centro da nova visão de João está uma cidade, um lugar onde as famílias vivem. De fato[...] a cidade representa a sociedade celestial. [...] O reino celestial é uma comunidade ou sistema de comunidades presididas por um Pai eterno e habitado por Seus filhos, organizadas de acordo com as unidades familiares sob a ordem patriarcal divina. Os seres celestiais, a Igreja do Primogênito, funcionam dentro desta ordem familiar. Assim, a cidade representa a comunidade ideal e perfeita que é a família eterna de Deus.6

A preservação dessas cidades sagradas, desde antes da Segunda Vinda até a existência eterna e celestial desta Terra, é o maior cumprimento das promessas do Senhor a Abraão, Isaque e Jacó, e suas famílias. O Senhor prometeu que redimiria Israel, tanto espiritual quanto fisicamente, trazendo-os de volta de sua dispersão às terras que lhes foram prometidas como herança. A história de várias cidades de Jerusalém é a história de Sião. Seja antiga ou nova, nas Américas, na antiga Terra Santa ou aguardando no céu, Sião é o epítome de quão abençoados os filhos de Deus podem ser quando vivem em harmonia de acordo com as leis de Deus. Se as pessoas aprenderem a viver como "um" a maneira de Sião, poderão ter a certeza da proteção e preservação que o Senhor prometeu ao povo herdará essas cidades sagradas.

Leitura complementar

Jeff O’Driscoll, "Zion Zion Zion: Keys to Understanding Ether 13", em The Book of Mormon: Fourth Nephi Through Moroni, From Zion to Destruction, eds. Monte S. Nyman e Charles D. Tate, Jr. (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1995), pp. 215–234. Graham W. Doxey, "New Jerusalem", The Encyclopedia of Mormonism, 4 v., ed. Daniel H. Ludlow (New York, NY: Macmillan, 1992), 3: p. 1009.

1. Ver, por exemplo, Bruce R. McConkie, Doctrinal New Testament Commentary, 3 v. (Salt Lake City, UT: Bookcraft, 1973), 3: p. 582. 2. Ele indicou ainda que os gentios que se filiassem à Igreja seriam contados entre os "remanescentes de Jacó" e ajudariam a construir a cidade chamada de "Nova Jerusalém" (3 Néfi 21:23-24). 3. O texto continua a implicar que todos os patriarcas estavam tentando alcançar ou retornar a um país ou cidade — uma cidade celestial (Hebreus 11:13-16). Hebreus 12:22 associa esta cidade ao Monte Sião. Dirigindo-se a uma comunidade de crentes cristãos, o autor afirma: "Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo [...] à igreja e assembleia geral dos primogênitos, que estão inscritos no céu" (Hebreus 12:22-23, KJV). 4. Partes deste texto em vários fragmentos das cavernas de Qumran, incluindo 4T554555, 5T15 ,11T18 , 1T32 e 2T24. Um tema semelhante é encontrado no "Pergaminho do Templo" (11T19). Para obter mais informações, consulte Michael O. Wise, Martin G. Abegg, Jr., e Edward M. Cook, The Dead Sea Scrolls: A New Translation (New York, NY: HarperOne, 2005), pp. 557–563. 5. Ver, por exemplo, Apocalipse 21:3; Moisés 7:62-64; Ezequiel 48:35; Éter 13:3. 6. Richard D. Draper e Michael D. Rhodes, The Revelation of John the Apostle (BYU New Testament Commentary; Provo, UT; BYU Studies, 2016), pp. 793–794.