KnoWhy #89 | Abril 21, 2017
Por que os sacerdotes de Noé teriam perguntado sobre Isaías a Abinádi?
Postagem contribuída por
Scripture Central
“E aconteceu que um deles lhe disse: Que significam as palavras que foram escritas e ensinadas por nossos pais e que dizem: Quão belos são sobre os montes os pés do que anuncia boas novas […]?”
O conhecimento
Durante o interrogatório de Abinádi, os sacerdotes de Noé perguntaram-lhe: "que significam as palavras" de Isaías 52:7-10 (Mosias 12:20-24)? Embora Abinádi tenha reagido como se tivessem perguntado por ignorância (Mosias 12:25), Mórmon disse que o propósito era "interrogá-lo, com o fim de fazê-lo cair em contradição, para assim terem de que acusá-lo" (Mosias 12:19). Para isso funcionar, os sacerdotes não poderiam ser interrogadores ignorantes, sem qualquer noção do significado da profecia de Isaías.1
Na antiga lei israelita, um "falso profeta" não era simplesmente alguém cuja profecia não se tornou realidade — algo muito difícil, se não impossível de provar. Qualquer um que falasse contra à palavra de um profeta anteriormente aceito também seria considerado um falso profeta.2 Dessa forma, havia uma interpretação comumente aceita de Isaías 52:7-10 que eles acreditavam que poderia expor Abinádi como um falso profeta.3 Abinádi foi até aquele povo para exortá-los sobre as consequências do pecado e da vida desregrada (Mosias 12:1-12), e sua mensagem era o oposto das "boas novas" que Isaías havia dito que seriam a mensagem de um verdadeiro profeta (Mosias 12:21; Isaías 52:7).4
O povo da colônia de Zênife provavelmente se via como cumprindo essa passagem profética de Isaías. Afinal, eles haviam retornado das terras baixas de Zaraenla e se estabelecido "sobre os montes" e desejado "tr[azer] novamente Sião" à sua terra original de herança, que eles haviam "redimi[do]" dos lamanitas (compare as palavras em Mosias 12:21-24 e Isaías 52:7-10).5 "Tendo em vista a profecia de Isaías e seu aparente cumprimento glorioso pelo povo de Zênife, como Abinádi ousou acusar o rei e seu povo de estarem sob o pior dos julgamentos de Deus?"6
O porquê
Considerando esse contexto, a troca entre Abinádi e os sacerdotes começa a fazer mais sentido. Os sacerdotes de Noé não estavam apenas questionando o conhecimento de Abinádi sobre as escrituras; procuravam uma medida legal, "com a qual acusar" Abinádi. Como a falsa profecia era uma ofensa capital, os culpados eram condenados à morte (Deuteronômio 18:20). Foi em resposta a essa acusação que Abinádi citou Isaías 53, o que fornece o contexto completo da passagem usada pelos sacerdotes. Em seguida, Abinádi expôs os capítulos 52 e 53 de Isaías ao testificar do Redentor (ver Mosias 13-16).7 Sua exposição foi legalmente relevante e textualmente persuasiva.
Quando Abinádi finalmente conseguiu dar a interpretação de Isaías 52:7-10, ele relacionou suas palavras sobre boas novas, paz e salvação primeiro aos profetas (Mosias 15:11-17). Depois, ele as aplicou, por fim, ao próprio Redentor (Mosias 15:18-19). Uma interpretação semelhante pode ser encontrada nos Manuscritos do Mar Morto.8 Um texto sobre Melquisedeque, de meados do primeiro século a.C., cita Isaías 52:7, e então diz: "Sua interpretação; os montes são os profetas [...] e o mensageiro é o Ungido do espírito".9
Esta é uma interpretação de uma fonte judaica quase contemporânea de Abinádi, que inclui tanto os profetas quanto "o ungido" (o "messias" em hebraico).10 Embora o autor deste Pergaminho do Mar Morto estivesse aplicando isso a Melquisedeque, Dana Pike apontou que Melquisedeque é um tipo (ou representação tipológica) de Cristo.11 Além disso, assim como Melquisedeque é chamado de "rei de Salém" (hebraico, "rei da paz"; Gênesis 14:18 ; cf. TJS Gênesis 14:33; Alma 13:18), Abinádi descreve o Redentor como "o fundador da paz" (Mosias 15:18; cf. Isaías 9:6).
Embora os sacerdotes não interpretassem o texto dessa maneira, Abinádi demonstrou que a passagem não se aplicava necessariamente a Noé e seu povo, como certamente pensavam (Mosias 13:27-35). O argumento de Abinádi era, portanto, linguisticamente sofisticado e teologicamente impressionante.
Por fim, a acusação dos sacerdotes de falsa profecia não se sustentou e, após apresentarem outra acusação, a de blasfêmia, à qual Abinádi também resistiu (Mosias 17:7-8), Abinádi foi finalmente executado por ter "injuriado" o rei (Mosias 17:12; ver Êxodo 22:28).12 No entanto, como os sacerdotes o acusaram de falsa profecia, os leitores de hoje podem se beneficiar, aprender e apreciar a explicação inspirada de Abinádi sobre as palavras de Isaías, bem como o testemunho de Abinádi sobre o poder redentor da Expiação. Abinádi selou esse testemunho com seu sangue (Mosias 17:12-20).
Leitura Complementar
John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Press and the Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 139–209. David W. Warby, "The Book of Mormon Sheds Light on the Ancient Israelite Law of False Prophecy", Studia Antiqua (Summer 2003): pp. 107–116. Dana M. Pike, "'How Beautiful upon the Mountains': The Imagery of Isaiah 52:7–10 and its Occurrences in the Book of Mormon" in Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry and John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 249–291. John W. Welch, "Isaiah 53, Mosiah 14, and the Book of Mormon", in Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry and John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 293–312.1. Esta é uma interpretação comum de vários comentaristas. Ver, por exemplo, Monte S. Nyman,"Abinadi's Commentary on Isaiah", in Mosiah, Salvation Only Through Christ, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate Jr. (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1991), p. 161; Kathryn Jenkins Gordon, Scripture Study Made Simple: The Book of Mormon — Complete Text and Commentary in a Single Volume (American Fork, UT: Covenant Communications, 2015), p. 200. 2. David W. Warby, "The Book of Mormon Sheds Light on the Ancient Israelite Law of False Prophecy", Studia Antiqua (Summer 2003): pp. 107–116. 3. John W. Welch, "Isaiah 53, Mosiah 14, and the Book of Mormon", in Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry e John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), p. 294; John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Press and the Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 176–177. 4. Welch, "Isaiah 53, Mosiah 14, and the Book of Mormon", p. 294; Dana M. Pike, "'How Beautiful upon the Mountains': The Imagery of Isaiah 52:7–10 and its Occurrences in the Book of Mormon" in Isaiah in the Book of Mormon, p. 264. Welch, Legal Cases, p. 176 fornece muitos exemplos adicionais de ideias contrastantes e simbolismo na mensagem de Abinádi e Isaías 52. 5.Ver o artigo da central do Livro de Mórmon, "Por que Néfi sempre "descia ao deserto" e "subia à Jerusalém"? (1 Néfi 3:4)", KnoWhy 6, 4 de janeiro de 2017.Welch, Legal Cases, p. 176: "Esta passagem das escrituras citada a Abinádi pelos sacerdotes pode muito bem ter sido um dos principais textos que haviam sido frequentemente usados pela colônia de Zênife ao se alegrarem em redimir a terra de sua herança e o templo que era como o de Salomão". Ver também Welch, "Isaiah 53, Mosíah 14, and the Book of Mormon", p. 300. 6. Welch, Legal Cases, p. 176. 7. Welch, "Isaiah 53, Mosiah 14, and the Book of Mormon", pp. 295–305; Welch, Legal Cases, pp. 177–179. 8. Pike, "How Beautiful upon the Mountains", pp. 276–279; John A. Tvedtnes, The Most Correct Book: Insights from the Book of Mormon Scholar (Springville, UT: Horizon, 2003), pp. 164–166. 9. Traduzido por Geza Vermes, The Complete Dead Sea Scrolls in English (New York, NY: Penguin Books, 2004), p. 533, ênfase e reticências no original. 10. Pike, "How Beautiful upon the Mountains", p. 278. 11. Pike, "How Beautiful upon the Mountains", pp. 278–279. 12. Welch, Legal Cases, p. 200.