KnoWhy #522 | Junho 10, 2021
Por que parte do final longo de Marcos aparece no Livro de Mórmon?
Postagem contribuída por
Scripture Central

''E estes sinais seguirão os que crerem — em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes causará dano; imporão as mãos sobre os enfermos e eles serão curados''
O conhecimento
Quando Morôni terminou o registro de seu pai, escreveu uma mensagem que inclui uma série de seis perguntas (Mórmon 9:15-17), dirigidas a céticos e não-crentes que zombam de milagres e revelações. Ele promete pessoalmente que as petições daqueles que pedirem, ''sem de nada duvidar'', serão concedidas àqueles ''até os confins da Terra'' (Mórmon 9:21), seguidas pelas palavras do Salvador aos Seus discípulos nefitas, aos ouvidos de toda a multidão, prometendo que esses sinais e milagres os seguirão:
Pois eis que assim disse Jesus Cristo, o Filho de Deus [...] Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura; E aquele que crer e for batizado, será salvo, mas aquele que não crer, será condenado; E estes sinais seguirão os que crerem — em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes causará dano; imporão as mãos sobre os enfermos e eles serão curados Mórmon 9:22:24.
Esta citação das palavras de Jesus conclui: ''E todo aquele que crer em meu nome, de nada duvidando, a ele eu confirmarei todas as minhas palavras, até os confins da Terra'' (Morôni 9:25). Morôni depois associa este ensaio com as palavras divinas de Jesus, fazendo novamente outra série de cinco perguntas retóricas (Mórmon 9:26). A linguagem de Mórmon 9:22-24 é quase idêntica à de Marcos 16:15-18, quando o Salvador comissiona seus discípulos de forma muito semelhante no Velho Mundo. No entanto, alguns duvidam que o Salvador tenha realmente feito tal comissão, seja no Velho mundo ou no Novo, uma vez que as cópias antigas do evangelho de Marcos carecem do texto de Marcos 16:9-20.1 Essa ausência textual, combinada com outras considerações textuais e estilísticas, levou os estudiosos a questionar se Marcos originalmente incluía os versículos 9-20, comumente chamados de ''final longo'' de Marcos.2 Mas antes de chegarmos a conclusões sobre a autenticidade de Marcos 16:15–18, ou de Mórmon 9:22–24, há várias considerações que devem ser feitas. Primeiro, nos últimos anos, vários estudiosos argumentaram que o texto em Marcos 16:9–20 é de fato uma parte autêntica do Evangelho de Marcos.3 Esses estudiosos notaram que muitos outros manuscritos antigos do Novo Testamento contêm esses versículos,4 e juntos eles reúnem uma ampla gama de evidências adicionais do "final longo" do Evangelho de Marcos.5 Como a evidência textual é extremamente complexa, 6 permanecem dúvidas legítimas sobre a história do final longo de Marcos, mas a possibilidade de que tenha sido uma parte original do Evangelho de Marcos é uma posição defensável.7 Também é significativo que vários eruditos que rejeitaram Marcos 16:9–20 ainda assim, acreditam que o final longo é anterior à sua anexação a Marcos.8 Isso significa que, mesmo que não tenha sido originalmente parte do Evangelho de Marcos, provavelmente é um testemunho antigo e independente da Ressurreição, contendo ensinamentos autênticos do ministério pós-ressurreição do Salvador.9 Outro detalhe importante a ter em mente é que, mesmo entre aqueles que rejeitam a autenticidade de Marcos 16:9-20, há um debate considerável sobre como o Evangelho de Marcos originalmente terminava. Alguns acreditam que terminou em um dramático suspense em Marcos 16:8.10 No entanto, outros argumentam haver outro "final perdido" ou dois.11 É impossível saber exatamente o que teria sido dito nestes finais, mas N. T. Wright argumenta que teria provavelmente sido semelhante ao fim atual, incluindo uma comissão semelhante à de Marcos 16:15-18.12
O porquê
Claramente, as questões textuais sobre o final de Marcos permanecem abertas e não resolvidas. Em geral, a variedade de possibilidades mencionadas aqui revelam se a parte original de Marcos era ou não, Marcos 16:15-18 provavelmente reflete palavras autênticas e ensinamentos do Senhor ressuscitado no mundo antigo. Se o Senhor ressuscitado deu estas palavras aos seus apóstolos na Galileia, é razoável acreditar, como declara Morôni, que o Salvador ressuscitado deu os mesmos ensinamentos e garantias aos Seus doze discípulos nefitas na terra da Abundância, conforme citado em Mórmon 9:22-24. No entanto, é importante reconhecer que, embora a tradução em inglês de Mórmon 9:22-24 tenha sido possivelmente influenciada pela tradução da Versão Rei Jaime de Marcos 16:15-18, a fonte de Morôni não foi o Evangelho de Marcos.13 Em vez disso, Morôni baseou-se nos ensinamentos de Cristo registrados entre os nefitas (Mórmon 9:22). Portanto, a autenticidade das palavras de Jesus em Mórmon 9:22-25 como conclusão, não depende da autenticidade do ''final longo'' de Marcos. De fato, acreditar na autenticidade dessas palavras nas palavras finais de Marcos pode, por outro lado, beneficiar o testemunho do Livro de Mórmon. Mórmon 9:22-24 é consistente com os ensinamentos de Jesus encontrados tanto no Novo Testamento quanto no Livro de Mórmon, e esses versículos se encaixam adequada e habilmente na mensagem de Morôni em Mórmon 9, tanto no conceito quanto na composição. Esperava-se plenamente que Jesus tivesse comissionado seus discípulos nefitas para pregar o evangelho a todos (Mórmon 9:22) e destacar a importância de batizar aqueles que crêem (Mórmon 9:23).14 A promessa de que os crentes ''pegarão em serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes causará dano'' (Mórmon 9:24) foi recebida com descrença por estudiosos do Novo Testamento (Marcos 16:18),15 mas pode ter tido relevância apenas para os ''discípulos que iriam permanecer'' (Mórmon 9:22; cf. 4 Néfi 1:30–33),16 como também fez por Paulo na ilha de Malta (Atos 28:4). Finalmente, a promessa do Salvador de que os sinais seguirão aos crentes, confirmando ''todas as [Suas] palavras, até os confins da Terra'' (Mórmon 9:24-25), fortalece a poderosa mensagem de Morôni aos futuros leitores do Livro de Mórmon de que os milagres só cessam porque as pessoas ''degeneram na incredulidade'' (Mórmon 9:20). Portanto, por vários motivos e muitas razões, apesar do texto inacabado e da transmissão da história de Marcos 16:15-18, os Santos dos Últimos Dias podem ser gratos por esses testamentos escritos que, mútua e reciprocamente, sustentam importantes ensinamentos e promessas do Salvador (cf. Mórmon 7:8–9).
Leitura Complementar
Julie M. Smith, The Gospel According to Mark, BYU New Testament Commentary (Provo, UT: BYU Studies, 2018), pp. 871–874. Jeff Lindsay, ''The Book of Mormon Versus the Consensus of Scholars: Surprises from the Disputed Longer Ending of Mark, Part 1,'' Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 25 (2017): pp. 283–321. Thomas A. Wayment, ''The Endings of Mark and Revelation'', em The King James Bible and the Restoration, ed. Kent P. Jackson (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and BYU Religious Studies Center, 2011), pp. 77–81.1. O Codex Sinaiticus ou Codex Vaticanus do século IV não contém texto após Marcos 16:8. Além disso, vários manuscritos incluem o final longo com uma nota que é de proveniência questionável, embora um grande número inclua o final longo sem qualquer anotação. 2. Ver, por exemplo, C. S. Mann, Mark: A New Translation with Introduction and Commentary, Anchor Bible 27 (Garden City, NY: Doubleday, 1986), pp. 673–674; Craig A. Evans, ''Mark'', in Eerdmans Commentary on the Bible, ed. James D. G. Dunn e John W. Rogerson (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 2003), p. 1103; Bruce M. Metzger e Bart D. Ehrman, The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration, 4ª ed. (New York, NY: Oxford University Press, 2005), pp. 322-327; Travis B. Williams, ''Bringing Method to the Madness: Examining the Style of Longer Ending of Mark,'' Bulletin for Biblical Research 20, no. 3 (2010): pp. 397–418; Julie M. Smith, The Gospel According to Mark, BYU New Testament Commentary (Provo, UT: BYU Studies, 2018), pp. 871–874. 3. Ver Nicholas P. Lunn, The Original Ending of Mark: A New Case for the Authenticity of Mark 16:9–20 (Eugene, OR: Pickwick Publications, 2014); David W. Hester, Does Mark 16:9–20 Belong in the New Testament? (Eugene, OR: Wipf and Stock, 2015). Ver também, David Alan Black, ed. Perspectives on the Ending of Mark: 4 Views (Nashville, TN: Broadman e Holman, 2008), que apresentam visões acadêmicas em ambos os lados do debate. 4. Notably Codex Bezae (por volta de 400 d.C.) Alexandrian Codex and the Ephraemi Codex (seculo V). O final longo de Marcos também é conhecido pelos autores cristãos do segundo século, como Irineu, Tertuliano e outros. 5. Para obter um resumo desses argumentos, consulte Jeff Lindsay, ''The Book of Mormon Versus the Consensus of Scholars: Surprises from the Disputed Longer Ending of Mark, Part 1'', Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 25 (2017): pp. 283–321. 6. Enquanto algumas das cópias mais antigas terminam no versículo 8 da Versão Rei Jaime, outras (como a KJV) adicionam ao texto encontrado os versículos 9-20 logo após o final do versículo 8. Um acrescenta, depois do versículo 8, uma declaração sobre a mulher mencionando Pedro e os outros apóstolos o que eles tinham visto, bem como um comentário sobre Jesus enviando seus apóstolos para proclamar a salvação eterna e imperecível, antes de dar o texto encontrado nos versículos 9-20. Uma fonte bastante antiga, o Códice Washingtoniano (século IV-V), inclui uma adição substancial após o versículo 14, mencionando ''uma era de anarquia e incredulidade'', ''Satanás'' e ''espíritos impuros'', e como obter o ''verdadeiro poder de Deus'' para limitar a autoridade de Satanás e como os pecadores podem ''retornar à verdade e não pecar mais'' para herdar a ''glória eterna'' que está no céu; curiosamente, eles não são tão diferentes das palavras de Morôni sobre ''descrentes'', ''poder de Deus'' e a ''redenção do homem'' em Mórmon 9:6,13. 7. VerThomas A. Wayment, ''The Endings of Mark and Revelation,'' em The King James Bible and the Restoration, ed. Kent P. Jackson (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and BYU Religious Studies Center, 2011), pp. 77–81. 8. Ver Smith, The Gospel According to Mark, p. 871. Essas palavras podem ter existido independentemente como lembranças de palavras proferidas por Jesus durante Seu ministério de quarenta dias. 9. Ver N. T. Wright, The Resurrection of the Son of God (Minneapolis, MN: Fortress Press, 2003), pp. 618–619; Smith, The Gospel According to Mark, p. 874. 10. Ver Smith, The Gospel According to Mark, pp. 871–874. 11. Ver nota de rodapé 6. Ver também Robert H. Stein, ''The Ending of Mark,'' Bulletin for Biblical Research 18, no. 1 (2008): pp. 79–98; Metzger e Ehrman, Text of the New Testament, pp. 222–227. 12. Wright, Resurrection of the Son, pp. 619–624. Mann, Mark, 673 menciona que um estudioso argumentou que Marcos 16:15-18 era parte do original, agora a parte final perdida de Marcos, embora o próprio Mann rejeite essa visão. 13. É irracional acreditar, e não há nenhuma evidência, que Joseph abriu a Bíblia no final de Marcos e leu essas palavras, ou as memorizou e introduziu fluentemente na tradução de Mórmon 9. 14. Ver também 3 Néfi 11:33–35; 27:20–22; 30:2. 15. Por exemplo, Craig L. Blomberg, The Historical Reliability of the Gospels, 2nd ed. (Downers Grove, IL: Intervarsity Press, 2007), 281 n.112, declarou: ''A parte mais suspeita [de Marcos 16:9–20] é aquela parte do v. 18 que promete que os crentes pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum''. No entanto, deve-se notar que em Atos 28:1–5, isso é exatamente o que acontece com Paulo. 16. Depois de mais de 200 anos desde a vinda de Jesus, a maldade e a iniquidade mais uma vez se espalharam por toda a terra (4 Néfi 1:27–28), e as pessoas procuraram matar ''os discípulos de Jesus que permaneceram com eles'', lançando-os em ''fornalhas ardentes'' e ''covas de animais selvagens'', mas cada vez que os discípulos saíam ''ilesos'' (4 Néfi 1:30–33). Embora os perigos específicos enfrentados pelos discípulos nefitas não fossem aqueles especificados por Cristo em Mórmon 9:24, a promessa provavelmente deveria ser entendida como um mero simbolismo representando todos os perigos potenciais aos quais os discípulos poderiam estar sujeitos.