KnoWhy #694 | Novembro 3, 2023

Por que Paulo cita um hino cristão primitivo?

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Scripture Central

"O qual, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens". Filipenses 2:6-7

O conhecimento

Tanto a Bíblia quanto o Livro de Mórmon contêm importantes testemunhos da divindade de nosso Salvador, Jesus Cristo. Ambos são antigas testemunhas do ministério pré-mortal, mortal e pós-mortal de Jesus, e cada um ensina sobre Seu papel divino de maneira singular.

Muito memorável é Filipenses 2:6-11, onde Paulo parece citar ou parafrasear o que poderia ter sido um hino cristão muito antigo, que resumia sucintamente todo o ser e ministério de Jesus, começando com Sua vida pré-mortal e terminando com Sua glorificação celestial (ver Filipenses 2:5-11). Em grego, este belo hino consiste em duas estrofes de dois versos cada, com uma terceira estrofe formada por um quiasmo de sete partes. Mas, mais significativamente, cada um dos três pontos principais levantados neste hino — a divindade pré-mortal do Salvador, Sua disposição de morrer por nós e Sua exaltação após Sua ressurreição — também pode ser encontrado representado e reforçado no Livro de Mórmon e em outras escrituras da Restauração.

1. O ministério pré-mortal de Jesus

O hino começa com um dístico de abertura que pode ser traduzido como:

Cristo Jesus, sendo em forma de Deus,

não teve por usurpação ser igual a Deus (Filipenses 2:6).1

Por meio dessa declaração inicial, aprendemos que Jesus estava na presença de Deus e era como Ele na vida pré-mortal. Apesar de Sua elevada posição, não buscou receber nenhum benefício para si.

Ao dizer que Jesus estava "semelhante" ou na "forma de Deus", este hino usa uma palavra que significa "aparência externa" ou "forma", implicando assim que Jesus e o Pai eram semelhantes um ao outro.2 No entanto, embora essa palavra possa ser usada para denotar aparência física, também foi usada por Paulo para denotar a condição ou papel posterior de Jesus como "servo" enquanto estava na mortalidade. Por isto, Frank Judd afirma que "quando Paulo ensinou que o Salvador era 'em forma de Deus' e 'igual a Deus' na existência pré-mortal, ele estava ensinando que tanto Deus, o Pai, quanto Cristo, o Filho, eram seres divinos, compartilhando uma semelhança de status e atributos, bem como de aparência".3 A condição de Jesus como um ser divino é fortemente reforçado nas escrituras modernas. Por exemplo, no livro de Moisés, aprendemos que Jesus estava no conselho pré-mortal, no céu, antes do início do mundo. Enquanto Satanás tentava usurpar e tirar proveito da glória do Pai, Jesus não o fez. Em vez disso, ele disse humildemente: "Pai, faça-se a tua vontade e seja tua a glória para sempre" (Moisés 4:1-2). Por causa da disposição e desejo de Jesus de obedecer ao Pai, mesmo enquanto ele ainda estava em um estado pré-mortal, Ele foi chamado para ser o Salvador do mundo.

No entanto, Jesus ainda era diferente do Pai Celestial em um aspecto importante: o Pai Celestial tinha um corpo, e Jesus não. Por causa disso, Thomas Wayment observou que, a menos que algo fosse feito, Cristo "não pode ser totalmente igual a Deus, é um prêmio que ele não pode alcançar plenamente". O remédio para essa diferença entre o Pai e o Filho seria, em última análise, o "nascimento e mortalidade" de Jesus, juntamente com Sua vida justa.4

2. A condescendência mortal de Jesus

Como Salvador do mundo, Jesus nasceria mortal para que pudesse dar Sua vida e retomá-la (ver João 10:18). Isso é expresso em Filipenses quando o hino diz abaixo:

Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz (Filipenses 2:7-8).

Jesus concentraria Seu ministério mortal em amar e servir a todos, ao mesmo tempo em que convidaria cada um de nós a se arrepender de nossos pecados e ser como Ele. Como parte de Seu papel de servo, o profeta Néfi viu "multidões de pessoas doentes e afligidas com toda espécie de moléstias, e com demônios e espíritos imundos [...] E foram curadas pelo poder do Cordeiro de Deus; e os demônios e espíritos imundos foram expulsos" (1 Néfi 11:31).

O Livro de Mórmon também afirma que, apesar das boas obras de Jesus, Ele seria crucificado pelos pecados do mundo. Néfi, por exemplo, viu a crucificação do Salvador em sua visão (ver 1 Néfi 11:32-33), e Abinádi ensinou que Jesus seria crucificado de acordo com uma profecia de Isaías (ver Mosias 15:5-8).5 Mesmo quando outros zombavam Dele ou O perseguiam, Jesus "sujeita-se a ser escarnecido e açoitado e expulso e rejeitado por seu povo" (Mosias 15:5).

Ressurreição, novo nome e exaltação de Jesus

Tendo sofrido a morte na cruz, como continua o hino confessional:

Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Filipenses 2:9-11).

Tendo retornado à presença do Pai, Jesus Cristo foi exaltado ou elevado à glória de Deus Pai, tornando-se assim como Ele.

A distinção entre a condição mortal e a ressurreta de Cristo fica clara quando se lê tanto o Novo Testamento quanto o Livro de Mórmon. Assim como Pedro ensinou que Deus exaltou Cristo para se tornar "Príncipe e Salvador" (Atos 5:30-31), o Pai apresentou os nefitas a Seu Filho declarando: "[G]orifiquei meu nome" Nele (3 Néfi 11:7). Jesus então diz aos nefitas e lamanitas em sua audiência, que Ele queria que fossem "perfeitos, assim como eu ou como o vosso Pai que está nos céus é perfeito" (3 Néfi 12:48), pois Ele se tornara perfeitamente como o Pai.6

Finalmente, Jesus recebe um novo nome pelo qual todos O reconhecerão, curvando-se diante Dele e confessando-O com suas línguas como seu Senhor redentor, com palavras aqui inspiradas em Isaías 45:22-23. A bênção de um novo nome é prometida a todos os que guardam seus convênios com Cristo (ver Doutrina e Convênios 130:11; Apocalipse 2:17). Do mesmo modo, todos poderão se tornar mais semelhantes a Ele, e ser exaltados como Ele.

O porquê

Este importante hino cristão primitivo, um pouco semelhante ao nosso hino atual Tão Humilde ao Nascer, descreveu a condescendência de Jesus em termos claros, abrangendo Sua vontade pré-mortal, Sua condescendência e sofrimento mortais e Sua adoração pós-mortal, tudo ilustrando que Seu ministério foi um ato de puro amor. Na verdade, quando perguntaram a Néfi se ele sabia o que significava a condescendência de Deus, ele respondeu simplesmente que não sabia, mas que tinha certeza "que ele ama seus filhos" (1 Néfi 11:17). Naquele momento, a visão do ministério e do amor do Salvador foi aberta para ele.

Como Byron R. Merril apontou, "a palavra 'condescendência' implica 'descida voluntária', 'submissão' e 'realização de atos que a justiça estrita não exige'. [...] O sacrifício altruísta de Cristo merece profunda gratidão e amor carinhoso de todos os que são os destinatários de sua oferta celestial".7Por causa de sua humilde condescendência, Jesus foi exaltado pelo Pai acima de todos os outros, recebeu um "nome que é sobre todo nome" e entrou na glória do Pai (Filipenses 2:9)8. Ainda mais milagrosamente, Jesus Cristo abriu essas mesmas bênçãos a todos os que O seguem e procuram obedecer aos Seus mandamentos, de modo que "quando se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem essa esperança, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro" (1 João 3:2-3).

Leitura Complementar

Frank F. Judd Jr., "The Condescension of God according to Paul", Shedding Light on the New Testament: Acts–Revelation, ed. Ray L. Huntington, Frank F. Judd Jr. e David M. Whitchurch (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 2009), pp. 171–192. Richard D. Draper, "The Mortal Ministry of the Savior as Understood by the Book of Mormon Prophets", Journal of Book of Mormon Studies 2, no. 1 (1993): pp. 80–92. Byron R. Merrill, "Condescension of God", em Encyclopedia of Mormonism, 4 v., ed. Daniel H. Ludlow (New York, NY: Macmillan, 1992), 1: p. 305.

1. A Bíblia chamada English Standard Version também traduz este versículo como "Christ Jesus, who, though he was in the form of God, did not count equality with God a thing to be grasped" ("Cristo Jesus, que, embora na forma de Deus, não considerava a igualdade com Deus algo alcançável" ou "algo a ser agarrado para obter vantagem". (Esta última tradução é tirada das notas de rodapé do tradutor da ESV.) Para comparação, a Versão do King James de 2009 diz que Jesus "sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus". Traduções modernas da Bíblia, como a Versão Padrão em Inglês, traduzem o grego mais literalmente. Além disso, o significado do verbo traduzido como "grasped" na KJV também poderia implicar exploração, levando os tradutores do RV2009 a traduzi-lo como "[tendo como] usurpação". 2. Frank F. Judd Jr., "The Condescension of God according to Paul", em Shedding Light on the New Testament: Acts–Revelation, ed. Ray L. Huntington, Frank F. Judd Jr. e David M. Whitchurch (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 2009), p. 178

3. Judd, "The Condescension of God", p. 180. 4. Thomas A. Wayment, "'Each Person Has a Hymn': The Creator-Savior Hymns" em Thou Art the Christ: The Son of the Living God, The Person and Work of Jesus in the New Testament, ed. Eric D. Huntsman, Lincoln H. Blumell e Tyler J. Griffin (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2018), p. 199 5. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que Isaías profetizou sobre um "Messias Sofredor"? (Isaías 53:10)", KnoWhy 648 (5 de outubro de 2022). 6. Compare Mateus 5:48, onde Jesus simplesmente instrui o povo a "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus" 7. Byron R. Merrill, "Condescension of God", em Encyclopedia of Mormonism, 4 v., ed. Daniel H. Ludlow (New York, NY: Macmillan, 1992), 1: p. 305.

8. O nome mencionado aqui, pelo qual "todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, [e] toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai" (Filipenses 2:10–11) é uma referência ao nome do Senhor, ou Jeová, como este hino cita Isaías 45:23.

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