KnoWhy #539 | Novembro 27, 2019

Por que Samuel disse que as riquezas de alguns nefitas se tornariam “escorregadias”?

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Scripture Central

"E eis que se aproxima a hora em que ele amaldiçoará vossas riquezas, para que elas se tornem escorregadias, para que não possais segurá-las; e nos dias de vossa pobreza não podereis retê-las" Helamã 13:31

O Conhecimento

As famosas advertências proféticas de Samuel, o lamanita, são encontradas em Helamã 13-15. Tais advertências começaram com uma repreensão maciça contra o orgulho, a ganância, as iniquidades, o mal sacerdotal, a ingratidão e a tolice dos nefitas ímpios que estavam dispostos a aceitar falsos profetas enquanto rejeitavam totalmente os justos (Helamã 13:25–29). Samuel foi muito direto. Neste contexto, ele usou a palavra “escorregadias” três vezes, e a palavra “escaparam” uma vez (Helamã 13: 30–36).1 Observando atentamente, é possível ver os detalhes interessantes e as complexidades significativas no pensamento e na mensagem de Samuel:

  • Devido à maldade e abominações, Samuel disse que sua própria terra seria agora uma terra amaldiçoada (Helamã 13:15-17, 23, 30). No passado, foi uma terra de promessas, mas isso estava ameaçando mudar.
  • Por causa dessa maldição sobre a terra, a mesma agiria como um receptáculo dessa punição espelhada: “aquele que esconder tesouros na terra não mais os achará por causa da grande maldição da terra” (Helamã 13:18).
  • Essa maldição funcionaria justamente para manter as riquezas longe das pessoas que as haviam escondido em um esforço para mantê-las longe do Senhor: "aquele que esconder tesouros na terra não mais os achará[…] salvo se for um homem justo e escondê-los para o Senhor" (Helamã 13:18).
  • Se as pessoas não agradecessem ao Senhor por dar-lhes suas riquezas, Ele legitimamente tomaria suas riquezas de volta (Helamã 13:21–22).
  • Devido à iniquidade, essa maldição viria sobre o povo e também sobre suas riquezas (Helamã 13:21, 31).
  • A maldição tomaria a forma de perdas inexplicáveis. O povo diria: "Eis que colocamos uma ferramenta aqui e na manhã seguinte desaparece; e eis que nos despojam de nossas espadas no dia em que as procuramos para a batalha" (Helamã 13:34).
  • A punição recíproca daqueles que ''coloca[ram] o coração [em riquezas]'' seria clamar em vão ao Senhor em sua pobreza (Helamã 13:21, 32).
  • Os desobedientes clamariam em vão pela ajuda do Senhor e lamentariam não terem se arrependido (Helamã 13:32–34).
  • Ironicamente, se as pessoas escondessem seus tesouros para protegê-los de seus inimigos, o próprio Senhor retribuiria, e ''esconderão seus tesouros quando fugirem de seus inimigos'' (Helamã 13:20).
  • Aqueles que tentam assegurar suas riquezas descobrirão que não podem mantê-las ou retê-las (Helamã 13:31, 36).
  • De fato, para deixar perfeitamente claro que as pessoas não poderiam superar as consequências dessa maldição simplesmente se apegando mais firmemente a seus tesouros, Samuel advertiu que Deus amaldiçoaria suas riquezas para se tornassem ''escorregadias'' (Helamã 13:31). Então, o povo se lamentaria: ''Oh! Se nos tivéssemos lembrado do Senhor nosso Deus no dia em que ele nos deu nossas riquezas, então elas não se teriam tornado escorregadias a ponto de as perdermos; porque eis que nossas riquezas se foram.'' (Helamã 13:33). Essas pessoas acabariam admitindo: ''Sim, escondemos nossos tesouros e eles se nos escaparam por causa da maldição da terra'' (Helamã 13:35). Por não terem se arrependido quando a palavra do Senhor lhes foi dirigida, eles diriam: ''[A] terra está amaldiçoada, e todas as coisas se tornaram escorregadias; e não podemos segurá-las'' (Helamã 13:36).
  • Uma vez que acusaram Samuel de ser ''do diabo" (Helamã 13:26), eles agora culpariam aos anjos do diabo por seu problema: ''Eis que estamos circundados de demônios, sim, estamos rodeados pelos anjos daquele que procurou destruir nossa alma'' (Helamã 13:37).
  • E tarde demais, se lamentariam: ''Eis que grandes são as nossas iniquidades. Ó Senhor, não podes apartar de nós a tua ira?'' (Helamã 13:37).

Samuel proferiu aqui o que os estudiosos bíblicos chamaram de um complexo "julgamento profético"2 O oráculo de julgamento de Samuel entrelaça Deus, humanos, o diabo, demônios, anjos destruidores, terras, riquezas ou tesouros, profetas verdadeiros e falsos, inimigos militares, causas naturais e consequências espirituais. Como parte desse quadro, tudo se torna ''escorregadio'', porque Deus amaldiçoa a terra, a terra obedece a Deus, e o povo, desobedientemente, esconde seus tesouros em vez de escondê-los para Deus.

Anos mais tarde, em sua edição dos registros nefitas, Mórmon julgou ser proveitoso escrever um prólogo para a profecia de Samuel. Para que seus leitores entendessem a visão de mundo por trás da profecia de Samuel, Mórmon inseriu em seu resumo do livro de Helamã uma explicação esplêndida. Ela detalha a longanimidade do Senhor, a tola insolência do homem, a obediência até do próprio pó da terra e a incapacidade do homem de esconder qualquer coisa de Deus (Helamã 12:4–22). Mórmon inseriu essa exposição, conhecendo o conteúdo da profecia de Samuel. Portanto, Mórmon disse: ''E eis que se um homem ocultar um tesouro na terra e o Senhor disser — Amaldiçoado seja, em virtude da iniquidade daquele que o escondeu — eis que será amaldiçoado'' pelo Senhor enquanto Ele achar conveniente (vv. 18–19). Isso ocorre porque a terra, as águas do abismo, as montanhas e o pó obedecem a Deus, movendo-se aqui ou ali, ''separando-se segundo a ordem de nosso grande e eterno Deus'' (v. 8). Essa visão cósmica era comum nos tempos bíblicos e em toda a antiguidade.3

Mórmon também registrou o cumprimento final da profecia de Samuel nos dias de Mórmon. Após registrar 3 Néfi e 4 Néfi em suas placas, Mórmon dedicou-se a compor seu próprio registro autobiográfico. Quando jovem, ele testemunhou pessoalmente o que viu como o cumprimento de várias das palavras de Samuel. Essa catástrofe deve ter deixado uma forte impressão nele. Mórmon escreveu:

E esses ladrões de Gadiânton, que se achavam no meio dos lamanitas, infestaram a terra de tal forma que os habitantes começaram a esconder na terra seus tesouros; e tornaram-se escorregadios, porque o Senhor amaldiçoara a terra, de modo que não podiam segurá-los nem reavê-los. E aconteceu que havia encantamentos e feitiçarias e magias; e o poder do maligno estendeu-se sobre toda a face da terra, em cumprimento de todas as palavras de Abinádi e também de Samuel, o lamanita. (Mórmon 1:18–19, ênfase adicionada)

Enquanto Mórmon manteve firmemente o espírito da profecia de Samuel, vale a pena notar quatro diferenças sutis.

Primeiramente, nos dias de Mórmon, os nefitas esconderam seus tesouros porque estavam tentando protegê-los dos Gadiântons sem fugir deles. Embora Samuel tenha falado sobre as pessoas enterrarem seus tesouros ao fugirem de seus inimigos (Helamã 12:20), o povo de Mórmon escondia suas riquezas e não usava os recursos dados por Deus para se defender de seus adversários. Em segundo lugar, falando de seu tempo, Mórmon menciona ''encantamentos e feitiçarias e magias […] sobre toda a face da terra'' (Mórmon 1:19). Embora Samuel tenha previsto que as pessoas iníquas de sua época reclamariam que estavam ''circundados de demônios'' (Helamã 13:37), Samuel não indicou que nenhum daqueles nefitas impenitentes estivesse usando práticas ocultas ou mágicas. Na época de Mórmon, entretanto, as pessoas usavam as práticas indígenas tradicionais,4 possivelmente, para amaldiçoar pessoas ou propriedades, para evitar desastres ou doenças, ou para tentar neutralizar a maldição que Deus havia lançado sobre a terra.

Terceiro, nos dias de Samuel, o povo iníquo disse: ''sim, estamos rodeados pelos anjos daquele que procurou destruir nossa alma'' (Helamã 13:37). Na época de Mórmon, esses infortúnios eram vistos explicitamente como obra direta do Diabo, o próprio "maligno" (Mórmon 1:19).5

Quarto, em Mórmon 1:18, os tesouros tornaram-se ''escorregadios, porque o Senhor amaldiçoara a terra''. Samuel, esperando que o povo ainda se arrependesse, mencionou muitos fatores humanos que levaram Deus a amaldiçoar a terra, bem como as pessoas e suas riquezas. De qualquer forma, essa maldição na terra foi duradoura e poderosa.

Essa visão de mundo não era incomum nas primeiras civilizações. Muitos povos antigos compartilhavam toda ou parte da visão de mundo de Samuel e Mórmon. Por exemplo, sob a Lei das Doze Tábuas romana VIII-8a (aproximadamente 450 a.C.), era crime capital uma pessoa lançar uma maldição ou encantamento mágico sobre a terra, ou colheitas de um vizinho.6 Isso se deve ao fato de as pessoas acreditarem na existência de deuses, espíritos ou forças que poderiam ser efetivamente mobilizados para o bem ou para o mal.

O contexto bíblico também ajuda a explicar a advertência de Samuel sobre o fato de os tesouros se tornarem escorregadios. Como Blake Ostler observou:

[O Livro de Mórmon] é melhor interpretado a partir da compreensão do convênio deuteronômico, que exigia obediência e proferia maldições e bênçãos sobre a terra em caso de violação ou obediência ao convênio, respectivamente. (Dt. 11:26-29) [...] A ética proeminente em todo o Livro de Mórmon é que buscar riquezas ignorando os pobres é abominável a Deus. A capacidade de obter riqueza e preservá-la dependia da obediência ao pacto deuteronômico: ''E digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder. Antes, te lembrarás do Senhor teu Deus, porque ele é o que te dá força para adquirires poder; para confirmar o seu convênio que jurou a teus pais, como se vê neste dia. Acontecerá, porém, que, se de qualquer modo te esqueceres do Senhor teu Deus [...] certamente perecereis'' (Dt. 8:17-19).7

Além de Deuteronômio, Miqueias 5:11–13, citado por Jesus em 3 Néfi 21:16–17, condena o uso de feitiçaria,8 adivinhos e imagens de escultura. O relato bíblico da rebelião de Corá descreve graficamente como um sacerdote levítico rebelde, juntamente com seus filhos e todos os seus bens e casas, foram engolidos pela terra. ''E a terra abriu a sua boca, e os tragou'' e ''desceram vivos ao sepulcro, e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação'' (Números 16:31–35). Refletindo sobre esta história, a qual é novamente mencionada no Alcorão (28:76–82), o poeta turco otomano Isa Necati (que morreu no início do século XVI) descreveu os pertences engolidos dos aliados rebeldes de Corá como literalmente "'o tesouro em movimento' [...] assim chamado, diz-se por conta do profundo afundamento no coração da terra".9 Uma lenda judaica posterior descreve o terrível destino de Corá e seus aliados ao serem engolidos pelo inferno, torturados e jogados perto da superfície da terra apenas para repetir o processo perpetuamente até a ressurreição final. (Diz-se que os gemidos audíveis de Corá e seus cúmplices são ligeiramente perceptíveis a qualquer um que coloque o ouvido perto do chão.)10

Além disso, um texto egípcio conhecido como Instrução de Amenemope, que antecede a partida de Leí de Jerusalém por muitos séculos, adverte:

Não ponha seu coração em busca de riquezas,Pois não há ninguém que ignore o Destino e a Fortuna; [...]Se as riquezas vêm a ti por roubo,não passarão a noite com contigo;Assim que amanhecer, não estarão na tua casa;Embora seus lugares possam ser vistos, não estarão lá. Quando a terra abre sua boca, ela a nivela e a engole.Mergulharão nas profundezas;Farão um grande buraco onde possam caber. E afundarão no submundo;Ou farão para si asas como gansos,e voarão para o céu.11

É amplamente reconhecido que a Instrução de Amenemope é paralela a alguns dos conceitos e da linguagem encontrados no livro bíblico de Provérbios e, de fato, pode ter sido a fonte ou inspiração para alguns de seus axiomas.12 Como argumentou Nili Shupak,

A maioria das obras de sabedoria egípcias — inclusive Amenemope — serviu como material de estudo na escola de escribas e em outras estruturas educacionais. Pode-se supor, mesmo que não haja evidência direta, que durante o período do Primeiro Templo essas instituições dedicadas à educação de oficiais de alto escalão existiam na corte real [de Judá]. Esses elementos serviram simultaneamente como base para o desenvolvimento da literatura bíblica de sabedoria e para a assimilação de elementos culturais egípcios e outros elementos culturais estrangeiros. É provável que pelo menos parte dos livros bíblicos de sabedoria e seleções de obras famosas de sabedoria egípcia — no original ou na tradução — tenham sido estudados aqui. Nesse contexto, o fato de Provérbios apresentar paralelos literais com Amenemope, bem como conceitos, motivos e expressões conhecidos de outras obras egípcias compostas séculos antes, não deve ser uma surpresa.13

Esse fato é também significativo para o Livro de Mórmon. Kevin Barney observou que ''parece mais do que uma coincidência — mas não surpreende — que o conceito de tesouros escorregadios e perdidos seja encontrado tanto em um texto egípcio conhecido pelos antigos israelitas quanto no Livro de Mórmon, um registro com raízes culturais, linguísticas e literárias no Antigo Oriente Próximo''. 14

Hugh Nibley e Blake Ostler também chamaram a atenção para a condenação da condescendência dos ricos em 1 Enoque como outro paralelo antigo em potencial às maldições de Samuel Helamã 13:31–36. 15 1 Enoque 94:8 diz: ''Desgraça para vós ricos porque confiastes em suas riquezas, de suas riquezas serão despojados por causa de que não lhes acordastes que Mais Alto na época de sua riqueza!'' (ênfase adicionada).16 ''Desgraça para vós que adquirem o ouro e a prata com a injustiça [...] porque sua riqueza não permanecerá, mas sim subitamente voasse de vós [...] e serão entregues a uma grande maldição" (1 Enoque 97:8–10, ênfase adicionada).17 Assim como no Livro de Mórmon, esse conceito de riquezas se tornando uma maldição contra os iníquos no texto de 1 Enoque provavelmente deriva, em última análise, de um contexto bíblico.

O porquê

Agora, compreende-se por que Samuel predisse que as riquezas das pessoas iníquas se tornariam "escorregadias". Ele o disse por vários motivos. Por um lado, ele realmente queria que as pessoas se arrependessem. Embora suas riquezas não estivessem ao alcance delas, elas não seriam destruídas. Ainda assim, poderiam ser recuperadas. Ainda não seria tarde demais. O óleo torna as substâncias escorregadias, mas pode ser lavado. Não se pode confiar em uma ''promessa escorregadia'', no entanto, o convênio do Senhor é firme e inabalável. As condições escorregadias são instáveis e incertas, como é um ''truque escorregadio'', 18 mas a fé e a obediência aos mandamentos de Deus restauram a confiança, a certeza e a estabilidade. Sua mensagem transmitia um tom urgente de consequências terríveis. Além disso, Samuel queria falar a seu público usando termos que eles entendessem. Sua visão de mundo, sem dúvida, aceitou a presença de espíritos, seres e forças da natureza que influenciaram o mundo ao seu redor. Ao dizer que sua maldade traria a maldição de Deus sobre eles, sobre sua terra e sobre seus cobiçados tesouros, Samuel esperava que sua advertência penetrasse o coração de seu público. Queria que suas palavras soassem verdadeiras, para que as pessoas as levassem a sério. O espectro das coisas que ''escaparam'' (Helamã 13:35) soaria física e naturalmente verdadeiro para eles.

Além disso, Samuel declarou o julgamento divino de Deus sobre essas pessoas. Suas palavras eram consistentes com a lei da justiça recíproca de Deus: ''Olho por olho'', ''o que de ti sair, a ti retornará e será restaurado'' (Alma 41:15).19 Em vários pontos, suas advertências foram formuladas em termos dessa compreensão recíproca ou taliônica do julgamento justo. Portanto, a punição apropriada para quem retem injustamente seus tesouros, é precisamente que eles se tornarão escorregadios e ninguém será capaz de segurá-los ou retê-los (Helamã 13:31, 36), e sua terra prometida se tornaria reciprocamente uma terra amaldiçoada. Em seu antigo mundo jurídico, tudo isso era, em última análise, justo e imparcial.

Ao usar a palavra "escorregadio", Samuel também se referia a termos culturais e bíblicos que seu público teria conhecimento. O destino bíblico de Corá e de sua família, bem como a sabedoria de Provérbios e de antigas fontes tradicionais, podem muito bem terem sido trazidos à mente de seus ouvintes pelo uso novo e cativante que Samuel fez da palavra incomum "escorregadio". Quando mencionada junto a ''demônios'' (Helamã 13:37) e mais tarde com ''encantamentos e feitiçarias e magias'' (Mórmon 1:19), esta palavra traz consigo a sanção, advertência e reprovação da lei (em Êxodo, Números e Deuteronômio) e dos profetas (em Miqueias e Naum).

Finalmente, nas tradições religiosas provavelmente conhecidas por Samuel, a perda de riquezas ou tesouros não se devia a espíritos travessos jogando os caçadores de tesouros, mas a maldade e orgulho. Desde o início da pregação nefita na terra de Néfi, a perda de prosperidade foi resultante do desagrado divino e um sinal de qual seria seu destino caso não se arrependessem. ''Seu coração está em seus tesouros'', advertiu o Profeta Jacó, ''portanto, os seus tesouros são seu deus. E eis que seus tesouros também perecerão com eles'' (2 Néfi 9:30). Em contraste com o tesouro terreno, que, apesar dos melhores esforços dos mortais, pode facilmente escorregar de seus dedos, Helamã ensinou a seus filhos Leí e Néfi, que poderiam muito bem ter sido os dois missionários que converteram Samuel, que deveriam buscar um tesouro eterno intangível que não se desvanece: ''mas que façais estas coisas para ajuntar um tesouro no céu, sim, que é eterno e jamais desaparece; sim, para que tenhais o precioso dom da vida eterna'' (Helamã 5:8).

Embora tenha sido argumentado que a linguagem e as representações do ''tesouro escorregadio'' no Livro de Mórmon devem ser um aceno à escavação de tesouros do século XIX,20 que incluía a crença em ''demônios guardiões [que] moveriam tesouros enterrados a locais diferentes quando as pessoas cavassem em busca deles''21 há, de fato, semelhanças antigas mais convincentes com essa linguagem e representações. ''Embora o vocabulário e o conceito [de tesouro escorregadio] sejam claramente paralelos aos primeiros conceitos americanos de caça ao tesouro, tais ideias não eram exclusivas desse período'', e não explicam a ideia dominante da profecia de Samuel em Helamã 13 ou a mensagem geral do restante do Livro de Mórmon.22

Nas mentes de Samuel e de Mórmon, o fato do tesouro ser ''escorregadio'' no Livro de Mórmon não se deve ao fato de um caçador de tesouros ter sido frustrado por um espírito guardião, mas porque ''a terra [e seus habitantes] estão tão longe da proteção de Yahweh que as leis da natureza são violadas; os itens não permanecerão guardados. Essa inversão de expectativas prenunciava a destruição do povo. O que é escorregadio no Livro de Mórmon não é a riqueza é perdida; é a perda de uma nação''.23 Apesar das semelhanças superficiais, ''é claro que a visão de mundo associada à escavação do dinheiro teve pouca influência no Livro de Mórmon''.24

Ao ler corretamente qualquer escritura sagrada, é preciso ir além do superficial, ser paciente, ter cuidado, ler em pleno contexto e tentar aplicar suas mensagens divinas a si mesmo. Conhecer todos esses pontos fundamentais ajuda os leitores modernos a entender com segurança as riquezas e profundidade do Livro de Mórmon.

Este KnoWhy foi possível graças às generosas contribuições do Welch Family Trust.

Leitura Complementar

David A. Grandy, ''Why Things Move: A New Look at Helaman 12:15,'' BYU Studies Quarterly 51 no. 2 (2012), pp. 99-128. Kevin L. Barney, '''Slippery Treasures' in the Book of Mormon: A Concept from the Ancient World'', Insights, junho de 2000, p. 2. Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 5: pp. 185–189.

1. Estas quatro, além de uma em Mórmon 1:18, são as únicas ocasiões no Livro de Mórmon que a palavra "escorregadios" aparece. 2. Ver Kirsten Nielsen, Yahweh as Prosecutor and Judge (Sheffield, Inglaterra: JSOT, 1978). 3. David A. Grandy, ''Why Things Move: A New Look at Helaman 12:15'', BYU Studies Quarterly 51 no. 2 (2012), pp. 99-128.

4. Ver também Mórmon 2:10 (''da arte da magia e das feitiçarias que havia na terra''). ''A presença desses fenômenos nas culturas mesoamericanas em muitos períodos é tão óbvia que não é necessário citar fontes''. John L. Sorenson, Mormon’s Codex: An Ancient American Book (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e the Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2013), p. 494. 5. Possivelmente ecoando o eufemismo usado por Jesus em 3 Néfi 13:12 para se referir ao Diabo: ''livra-nos do mal[igno], compare-se com Mateus 6:13. 6. Ver Clyde Pharr, ''The Interdiction of Magic in Roman Law'', Transactions and Proceedings of the American Philological Association 63 (1932): pp. 269–295; Matthew Dickie, Magic and Magicians in the Greco-Roman World (London: Routledge, 2001), pp. 137–140; Naomi Janowitz, Magic in the Roman World: Pagans, Jews, and Christians (London: Routledge, 2001), 11; Derek Collins, Magic in the Ancient Greek World (Oxford: Blackwell, 2008), pp. 142–145. 7. Blake T. Ostler, ''The Book of Mormon as a Modern Expansion of an Ancient Source'', Dialogue: A Journal of Mormon Thought 20, no. 1 (Spring 1987): pp. 71–72. 8. Ver também Naum 3:4. 9. E. J. W. Gibb, A History of Ottoman Poetry (London: Luzac & Co., 1902), 2: p. 117. 10. Louis Ginzberg, The Legends of the Jews, trad. Paul Radin (Filadélfia, Penn.: The Jewish Publication Society of America, 1911), 3: pp. 298–300. 11. William Kelly Simpson, trad., ''The Instruction of Amenemope'', em The Literature of Ancient Egypt, ed. William Kelly Simpson (New Haven, Conn.: Yale University Press, 2003), 230 (ênfase adicionada). 12. Adolf Erman, ''Eine ägyptische Quelle der »Sprüche Salomos«'', Sitzungsberichte der preussischen Akademie der Wissenschaften 15 (1924): pp. 86–93; D. C. Simpson, ''The Hebrew Book of Proverbs and the Teachings of Amenophis'', Journal of Egyptian Archaeology 12, no. 3/4 (Out. 1926): pp. 232–239; Glendon E. Bryce, A Legacy of Wisdom: The Egyptian Contribution to the Wisdom of Israel (Lewisburg: Bucknell University, 1979); Bernd U. Schipper, ''Die Lehre des Amenemope und Prov 22, pp. 17–24,22'', Zeitschrift für die Alttestamentliche Wissenschaft 117 (2005): pp. 53–72; Michael V. Fox, ''From Amenemope to Proverbs: Editorial Art in Proverbs 22,17–22,11'', Zeitschrift für die Alttestamentliche Wissenschaft 126 (2014): pp. 76–91; Nili Shupak, ''The Contribution of Egyptian Wisdom Literature'', em Was There a Wisdom Tradition? New Prospects in Israelite Wisdom Studies, ed. Mark R. Sneed (Atlanta, GA: Society of Biblical Literature, 2015), pp. 265–304, esp. pp. 291-297; cf. mais geralmente com Bernd U. Schipper, ''Egypt and Israel: The Ways of Cultural Contacts in the Late Bronze Age and Iron Age (20th–26th Dynasty)'', Journal of Egyptian Interconnections 4, no. 3 (2012): pp. 30–47. 13. Shupak, “The Contribution of Egyptian Wisdom to the Study of Biblical Wisdom Literature”, pp. 296–297. 14. Kevin L. Barney, '''Slippery Treasures' in the Book of Mormon: A Concept from the Ancient World'', Insights, junho de 2000, p.2. 15. Hugh Nibley, Enoch the Prophet (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1986), 8; Ostler, ''The Book of Mormon as a Modern Expansion of an Ancient Source'', p. 72. 16. Translation in R. H. Charles, The Apocrypha and Pseudepigrapha of the Old Testament (Oxford: The Clarendon Press, 1913), 2: p. 266. 17. Charles, The Apocrypha and Pseudepigrapha of the Old Testament, 2: p. 268. 18. Noah Webster, American Dictionary of the English Language (New York: Converse, 1828), s.v. ''slippery''. 19. On Talonic justice in the Book of Mormon, see John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo: Brigham Young University Press and the Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 338–348. 20. Robert N. Hullinger, Mormon Answer to Skepticism: Why Joseph Smith Wrote the Book of Mormon (St. Louis, MO: Clayton Publishing House, 1980), 105; D. Michael Quinn, Early Mormonism and the Magic World View, 2ª ed. (Salt Lake City, UT: Signature Books, 1998), pp. 61, 196–197. 21. Barney, '''Slippery Treasures' in the Book of Mormon'', p. 2. 22. Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 5: p. 186. Por fim, até mesmo Quinn em Early Mormonism and the Magic World View, p.197, acaba por concordar que a expressão "tesouro escorregadio" no Livro de Mórmon é um "eco do mundo social do tradutor, e não uma chave para entender uma narrativa histórica e religiosa muito complexa". 23. Gardner, Second Witness, 6: p.56. 24. "Por exemplo, o Livro de Mórmon não diz nada sobre o encantamento de espíritos, varinhas de adivinhação, círculos mágicos, espíritos guardiões, sacrifícios para apaziguar espíritos ou outros rituais necessários para obter tesouros escondidos, toda uma parte necessária da visão de mundo mágica, associada à escavação por dinheiro". Ostler, ''The Book of Mormon as a Modern Expansion of an Ancient Source'', p. 71.

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