KnoWhy #246 | Agosto 21, 2019
Por que uma prova de fé deve preceder um testemunho da verdade?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"Portanto, não disputeis porque não vedes, porque não recebeis testemunho senão depois da prova de vossa fé." Éter 12:6
O conhecimento
Embora a fé desempenhe um importante papel narrativo e doutrinário em muitas histórias do Livro de Mórmon, Éter 12 oferece um de seus discursos mais profundos sobre o assunto, igualado apenas por Alma 32. Depois de observar os esforços diligentes de Éter para pregar e profetizar "coisas grandes e maravilhosas" aos jareditas, Morôni relatou que eles "não acreditaram porque não as viam" (Éter 12:5).
Usando esse detalhe narrativo como ponto de partida para seu famoso discurso, Morôni explicou: "Quisera mostrar ao mundo queque fé são coisas que se esperam, mas não se veem" (Éter 12:6, ênfase adicionada). Isso se assemelha muito com a definição de Alma: "[Se] tendes esperança nas coisas que se não veeme que são verdadeiras" (Alma 32:21, ênfase adicionada). Morôni concluiu: "portanto, não disputeis porque não vedes, porque não recebeis testemunho senão depois da prova de vossa fé" (Éter 12:6).1
A fim de demonstrar a veracidade desse princípio, Morôni baseou-se em vários episódios do Livro de Mórmon. Ele escreveu, por exemplo, que foi pela fé que "Alma e Amuleque [fizeram] a prisão ruir por terra" (Éter 12:13). Foi pela fé de "Amon e seus irmãos que [se] operou tão grande milagre entre os lamanitas" (v. 15). E foi pela grande fé do irmão de Jarede que o Senhor "nada pôde ocultar de seus olhos" (v. 21).2

Entretanto, em vez de fazer explicitamente a conexão em cada caso, Morôni esperava que os leitores se lembrassem de como os personagens de cada história só receberam um testemunho do poder de Deus após suas provações. Por exemplo, Alma e Amuleque foram literalmente julgados, (ver Alma 14:5, 18-20) obrigados a testemunhar o sofrimento dos justos (vv. 9-14), e depois jogados na prisão, espancados e privados de comida, água e roupas (vv. 18-26). Somente depois de sofrerem essas privações é que o Senhor os libertou, fazendo com que os muros da prisão caíssem sobre seus inimigos.3
Quando o povo de Zaraenla ficou sabendo que os filhos de Mosias iriam pregar aos lamanitas, Amon disse que "[eles] zombaram de nós" (Alma 26:23). Durante os quatorze anos de seu ministério, Amon relembrou quando "[seus] coraç[ões] se achava[m] deprimido[s]" (v. 27), e "suporta[ram] toda sorte de privações" (v. 28), dizendo: "e fomos rechaçados e escarnecidos e cuspidos e esbofeteados; e fomos apedrejados e amarrados com fortes cordas e lançados na prisão" (v. 29). Somente depois de sofrerem essas provações é que puderam receber "os frutos do nosso trabalho [missionário]" (v. 31).4
Quando o irmão de Jarede estava preocupado com a possibilidade de atravessar o oceano na escuridão, o Senhor perguntou: "Que desejais que eu faça, a fim de que tenhais luz em vossos barcos?" (Éter 2:23). Em vez de simplesmente fornecer ao irmão de Jarede uma solução para seu problema, o Senhor exigiu ação preliminar, criatividade e, em seguida, fé em Seu poder. Somente depois que o irmão de Jarede "fundiu dezesseis pequenas pedras" (Éter 3:1) e teve fé para pedir ao Senhor que as fizesse brilhar, ele viu "o dedo do Senhor" (v. 6), e então lhe foi mostrado "todas as coisas" (Éter 3:26).5
O porquê

O discurso de Morôni sobre a fé demonstra por que as histórias do Livro de Mórmon são tão importantes. É um impulso natural querer ver, ouvir ou sentir alguma coisa antes de aceitar que ela é verdadeira. O Senhor inverte essa inclinação, exigindo fé e obediência antes de dar confirmações empíricas ou milagrosas da verdade. Como muitos estudiosos do Livro de Mórmon afirmaram: "Acreditar sem ver resultará em uma visão maior".6 Esse tipo de "fé — fé que não depende da visão mortal — abre os olhos espirituais para uma visão maior das coisas de Deus".7
D. Kelly Ogden e Andrew C. Skinner explicaram: "Sabemos que nossa visão mortal é extremamente limitada; há um amplo espectro de ondas e raios ao nosso redor que nossos olhos, por mais incríveis que sejam, não enxergam. Em questões espirituais, não vemos com nossos olhos, mas com nossos espíritos. Nosso espírito, aprimorado e vivificado ou acelerado pelo Espírito de Deus, pode ver e compreender muito além de qualquer capacidade mortal".8
Também é preciso reconhecer que o objetivo da fé não é simplesmente obter um testemunho espiritual singular após a conclusão de uma única provação. Pelo contrário, é um processo. Alma ensinou que a fé na palavra de Deus começa como uma pequena semente e que aqueles que plantam a semente em seus corações podem receber um testemunho inicial de sua veracidade à medida que começa a brotar dentro deles (ver Alma 32:30).9 Se for nutrida pela "fé, com grande esforço e com paciência" (Alma 32:41), essa semente acabará por "cri[ar] raiz em vós" (v. 42) e tornar-se-á uma "árvore que brotará para a vida eterna" (v. 41).10
Cada passo da jornada da fé é repleto de provações e incertezas, mas para aqueles que com obediência exercem a fé diligente e pacientemente, o Senhor fornecerá testemunhas espirituais frequentes e garantias da verdade. O Élder David A. Bednar ensinou: "A fé que alimenta esse processo contínuo se desenvolve, evolui e muda. Ao encararmos novamente o futuro incerto, a certeza nos conduz à ação e produz uma prova, que aumenta ainda mais a certeza". Ele explicou ainda que uma "hélice é como uma mola que ascende em espiral, tornando-se cada vez mais ampla."11

Assim, o propósito das provações e testes é muito mais do que fornecer um pré-requisito para receber respostas às perguntas, é desenvolver o caráter espiritual — "tornar-se o que nosso Pai Celestial deseja que nos tornemos."12 Catherine Thomas propôs: "A fé progride da confiança que alguém tem em Deus para a confiança que Deus tem nessa pessoa e permite que ela testemunhe e até administre o poder divino, como Moisés, Alma, Amuleque, Néfi e Leí, Amon, os três discípulos nefitas e aqueles [...] como o irmão de Jarede [...] cuja capacidade espiritual interior foi muito bem desenvolvida pela obediência".13
Em um mundo que luta contra a dúvida e a descrença nas coisas espirituais, o Livro de Mórmon permanece como um brilhante farol de esperança. Seus ensinamentos, transmitidos por profetas inspirados, ajudam os leitores a entender o processo de aquisição da fé e a discernir as evidências de seus efeitos em suas próprias vidas. Suas histórias cheias de fé ajudam a aumentar a confiança de que o exercício da fé durante os períodos de provações resultarão em bênçãos profundas, testemunhos espirituais e crescimento pessoal essencial.
Leitura complementar
David A. Bednar, "Aprender pela Fé", A Liahona, setembro de 2007, disponível em lds.org.
Robert L. Millet, "Faith", em Book of Mormon Reference Companion, ed. Dennis L. Largey (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2003), pp. 260–264.
Jeffrey R. Holland, "Rending the Veil of Unbelief", em A Book of Mormon Treasury: Gospel Insights from General Authorities and Religious Educators (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 2003), pp. 47–66.
- 1. M. Catherine Thomas, "Trial of Faith", em Book of Mormon Reference Companion, ed. Dennis L. Largey (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2003), p. 765, define as provas de fé como "um período de teste divino de confiança em Deus durante o qual se tem a oportunidade de demonstrar sua fé, obediência e boas obras, especialmente quando confrontado com incerteza, sacrifício ou adversidade".
- 2. Estes são apenas três dos muitos exemplos que Morôni forneceu. Para ver a lista completa, ver Éter 12:7-31.
- 3.Ver o artigo da Central das Escrituras, "Qual tipo de terremoto provocaria a queda das paredes de uma prisão? (Alma 14:29)", KnoWhy 121 (29 de maio de 2017).
- 7. Consulte o artigo da Central das Escrituras, "Por que Amon se baseou tanto na tradição em Alma 26? (Alma 26:8)", KnoWhy 133 (12 de junho de 2017).
- 5. Para um estudo sobre o irmão de Jarede e sua grande fé, ver Jeffrey R. Holland, "Rending the Veil of Unbelief", in A Book of Mormon Treasury: Gospel Insights from General Authorities and Religious Educators (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 2003), pp. 47–66. Ver também a Central das Escrituras, "Por que Morôni usou símbolos do templo ao contar a história do irmão de Jarede? (Éter 3:20)," KnoWhy 237 (30 de outubro de 2017); Central das Escrituras, "De onde o irmão de Jarede tirou a ideia das pedras brilhantes? (Éter 6:3)", KnoWhy 240 (2 de novembro de 2017).
- 6. Joseph Fielding McConkie, Robert L. Millet, and Brent L. Top, Doctrinal Commentary on the Book of Mormon, 4 v. (Salt Lake City, UT: Bookcraft, 1992), 4: p. 296. Como exemplo do status superior de um testemunho espiritual da verdade, o Élder Jeffrey R. Holland testificou: "Testifico […] das chaves restauradas do sacerdócio que liberam o poder e a eficácia das ordenanças de salvação. Estou mais seguro de que essas chaves foram restauradas e de que essas ordenanças estão novamente disponíveis por intermédio de A Igreja Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias do que estou seguro de estar de pé diante de vocês neste púlpito e de vocês estarem sentados diante de mim nesta conferência". Ver Jeffrey R. Holland, "O Custo — e as Bênçãos — do Discipulado", A Liahona, abril de 2014, pp. 6–9, disponível em: lds.org.
- 7. McConkie, Millet and Top, Doctrinal Commentary, 4: p. 296.
- 8. D. Kelly Ogden e Andrew C. Skinner, Verse by Verse: The Book of Mormon, 2 v. (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2011), 2: p. 277.
- 9. Para obter mais informações sobre como Alma explicou o desenvolvimento da fé em relação aos símbolos da Criação, consulte a Central do Livro de Mórmon, "Por que Alma usou os símbolos da Criação em seu sermão sobre a fé? (Alma 32:40)", KnoWhy 140 (20 de junho de 2017).
- 10. Robert L. Millet explicou que "toda vez que um princípio é aplicado e bênçãos são realizadas, a fé se torna conhecimento, a fé nesse princípio aumenta. A fé pode, assim, crescer de um nível para outro — 'uma partícula de fé,' (Alma 32:27), fé 'suficiente' (3 Néfi 17:8), 'muita fé' (Mosias 27:14), fé 'forte' (Alma 7:17), 'profunda fé' (Mosias 4:3), 'fé extraordinária' (Morôni 10:11)— em 'perfeita fé' (2 Néfi 9:23)". Robert L. Millet, "Faith", em Book of Mormon Reference Companion, p. 262.
- 11.David A. Bednar, "Aprender pela Fé", A Liahona, setembro de 2007, disponível em lds.org.
- 12. Dallin H. Oaks, "O Desafio de Tornar-se", A Liahona, outubro de 2000, disponível em: lds.org. Neste mesmo discurso, o Élder Oaks explicou ainda que "o julgamento final não é apenas um balanço do total de atos bons e ruins, ou seja, do que fizemos. É a constatação do efeito final de nossos atos e pensamentos, ou seja, do que nos tornamos."
- 13. M. Catherine Thomas, "A More Excellent Way", em Book of Mormon, Part 2: Alma 30 to Moroni, ed. Kent P. Jackson, Studies in Scripture: Volume 8 (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1988), p. 276.