KnoWhy #28 | Fevereiro 4, 2017
Quais são as origens do entendimento de Leí sobre a Queda?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"Adão caiu para que os homens existissem; e os homens existem para que tenham alegria." 2 Néfi 2:25
O conhecimento
Várias doutrinas importantes que são incompletas ou ambíguas na Bíblia são ensinadas de forma clara e detalhada no Livro de Mórmon. Uma dessas doutrinas é a Queda de Adão e Eva, um componente central do Plano de Salvação. Sem uma compreensão da Queda, nenhuma compreensão da Expiação pode ser completa.
Ao ensinar seu filho Jacó, Leí deu uma explicação detalhada dessa doutrina e lançou o alicerce sobre o qual os futuros profetas do Livro de Mórmon se apoiariam. Os ensinamentos de Leí conectam a queda de Satanás do céu com a queda do homem na Terra (2 Néfi 2:17-18) e indicam que a Queda trouxe as condições de mortalidade, morte e oposição.
Leí também enfatizou o lado positivo da Queda, ensinando que foi somente através da Queda que Adão e Eva puderam ter filhos, permitindo que todos viéssemos ao mundo e experimentássemos alegria (2 Néfi 2:22–25).
Leí ensinou que, embora o homem tenha herdado uma natureza decaída, ainda assim não somos "totalmente depravados", ao contrário do que tem sido entendido e pregado sobre a queda desde o tempo de Santo Agostinho. Em vez disso, entendemos pelos ensinamentos de Leí que agora todos somos livres para escolher "liberdade e vida eterna, por meio do grande Mediador de todos os homens, ou escolher o cativeiro e a morte, segundo o cativeiro e o poder do diabo" (2 Néfi 2:27).
Para muitos leitores atuais, os ensinamentos de Leí parecem únicos e originais, mas ele disse a Jacó que seus ensinamentos sobre a Queda se baseiam no "que [tinha] lido" (2 Néfi 2:17), presumivelmente das Placas de Latão. A origem do entendimento de Leí, portanto, veio de fontes que já estavam disponíveis para ele.
Na tentativa de compreender o contexto dos ensinamentos do Livro de Mórmon sobre a Queda, um estudioso SUD, Stephen D. Ricks, examinou representações de Adão e da Queda em antigos escritos judaicos que não foram incluídos na Bíblia.1 Em seguida, após dar vários exemplos, Ricks apresentou o seguinte resumo das doutrinas comuns tanto ao Livro de Mórmon quanto aos textos judaicos posteriores:
A expulsão de Satanás1. A expulsão de Satanás da presença de Deus foi uma condição necessária para a tentação e a Queda (ver 2 Néfi 2:17–18; A vida de Adão e Eva 12-17). 2. A Queda de Adão resultou nas condições de mortalidade (ver 2 Néfi 2:19; 2 Baruque) 3. O homem se torna "natural", isto é, predisposto ao pecado, mas permanece livre (2 Néfi 2:26-27; Mosias 3:19). 4. A transgressão de Adão resultou na expulsão do Paraíso (ver Alma 42 [ver também 2 Néfi 2:19]; Apocalipse de Moisés 28:3).2
Esses textos extrabíblicos vêm da era que os estudiosos chamam de Período do Segundo Templo, posterior a época em que Leí deixou Jerusalém. Essa semelhança entre os ensinamentos de Leí e os textos judaicos posteriores sobre a Queda sugere que essas doutrinas podem, de fato, terem sido introduzidas várias centenas de anos antes do que se pensava.
De fato, Bruce M. Pritchett Jr. descobriu que uma análise cuidadosa revela que indícios da doutrina podem ser encontrados em escritos do Velho Testamento que, possivelmente, são anteriores à época de Leí ou em torno dela.3 Pritchett examinou especificamente os Salmos 82:7, Oseias 6:7, Jó 31:33 e Ezequiel 28:11–19 como referências à Queda, observando que o hebraico ke-ḥādām, traduzido como "como homem" na Bíblia versão King James, poderia ser facilmente lido "como Adão". Com base em sua análise, Pritchett conclui:
Embora o Velho Testamento nunca se refira ao pecado de Adão usando a palavra queda, ensina ou expressa os seguintes elementos básicos dessa doutrina em várias escrituras: (1) Que o pecado de Adão resultou em uma metamorfose da imortalidade para a mortalidade, (2) que a humanidade herdou seu estado mortal de Adão, (3) que toda a humanidade caiu em pecado e (4) que o mal e o sofrimento no mundo poderiam ser para o benefício do homem, bem como sua punição.4
Adão e EvaPritchett também observou que "três dessas quatro escrituras (exceto Oseias 6:7) mencionam que a Queda de Adão está intimamente relacionada à queda de Satanás".5
Embora sejam apenas migalhas em comparação ao banquete doutrinário que Leí expõe, sugerem que Leí tinha um entendimento básico sobre a Queda, do qual poderia discorrer.
Além disso, a compreensão de Leí sobre a Queda pode ter se originado dos antigos ensinamentos do Templo. Kevin Christensen ressalta que várias ideias apresentadas em 2 Néfi 2 são consideradas parte da antiga "teologia do Templo", conforme proposto pela pesquisadora bíblica Margaret Barker. Essa noção inclui "não apenas uma discussão sobre o Éden e a Criação, mas também sobre a Queda de Adão […] os anjos decaídos, a Expiação do Messias, o Santo [de Israel], e o julgamento vindouro".6
John W. Welch observa: "Várias das principais doutrinas ensinadas por Leí parecem ecoar e prenunciar os ensinamentos do Templo". Welch descobriu que isso não é verdade apenas em relação a 2 Néfi 2, mas em todos os discursos de Leí encontrados em 2 Néfi 1-4. Os temas centrais de Leí "se encaixam perfeitamente no contexto das antigas tipologias do Templo".7 É importante notar que três das quatro passagens do Velho Testamento usadas por Pritchett — de Salmos, Jó e Ezequiel — são consideradas por alguns pesquisadores como relacionadas ao Templo.8
O porquê
Vitral de Adão e EvaÀ medida que as pessoas tentam entender melhor as origens da doutrina de Leí sobre a Queda, surgem diversas informações interessantes. Primeiramente, é válido ressaltar que os conceitos ensinados por Leí nessa exposição estão presentes nas antigas crenças israelitas e judaicas. Embora Leí reúna essas ideias e as exponha como nunca feito antes ou depois, as ideias centrais estão presentes e disponíveis na tradição hebraica.
Segundo, como consequência do primeiro, é evidente que a plenitude da doutrina da Queda não foi uma inovação de Leí ou de Joseph Smith. Em vez disso, é parte das muitas verdades claras e preciosas que foram perdidas e são restauradas no Livro de Mórmon (ver 1 Néfi 13:26–42).
Terceiro, o reconhecimento de suas raízes na tradição do Templo israelita é uma indicação importante sobre a natureza do registro de Néfi. Pouco depois desse discurso, Néfi relata que seu povo começou a construir um templo (ver 2 Néfi 5:16) e, pouco depois, Néfi começou a escrever seu registro (ver 2 Néfi 5:30-32).
Por fim, compreender essa conexão com os templos antigos nos ajuda a perceber a relação entre a adoração moderna no Templo e os elementos essenciais do Plano de Salvação. Assim como o discurso de Leí, as práticas contemporâneas nos Templos dos Santos dos Últimos Dias se referem aos temas da Criação, Queda e Expiação. Tomados em conjunto, essas ideias oferecem perspectivas preciosas a todos os leitores, o que aumenta sua apreciação da beleza e poder das palavras sagradas de Leí a seu filho, Jacó.
Leitura Complementar
Kevin Christensen, "The Temple, the Monarchy, and Wisdom: Lehi’s World and the Scholarship of Margaret Barker", em Glimpses of Lehi’s Jerusalem, ed. John W. Welch, David Rolph Seely e Jo Ann H. Seely (Provo, UT: FARMS, 2004), pp. 449–522. Stephen D. Ricks, "Adam’s Fall in the Book of Mormon, Second Temple Judaism, and Early Christianity", em The Disciple as Scholar: Essays on Scripture and the Ancient World in Honor of Richard Lloyd Anderson, ed. Stephen D. Ricks, Donald W. Parry e Andrew Hedges (Provo: FARMS, 2000), pp. 595–606. John W. Welch, "The Temple in the Book of Mormon: The Temples at the Cities of Nephi, Zarahemla, and Bountiful", em Temples of the Ancient World: Ritual and Symbolism, ed. Donald W. Parry (Salt Lake City, Utah: Deseret Books e FARMS, 1994), pp. 297–387. Bruce M. Pritchett Jr., "Lehi's Theology of the Fall in Its Preexilic/Exilic Context", Journal of Book of Mormon Studies 3/2 (1994): pp. 49–83.1. Stephen D. Ricks, "Adam’s Fall in the Book of Mormon, Second Temple Judaism, and Early Christianity", em The Disciple as Scholar: Essays on Scripture and the Ancient World in Honor of Richard Lloyd Anderson, ed. Stephen D. Ricks, Donald W. Parry e Andrew Hedges (Provo: FARMS, 2000), pp. 595–606.
2. Ricks, "Adam's Fall in the Book of Mormon", p. 601. 3. Bruce M. Pritchett Jr., "Lehi’s Theology of the Fall in Its Preexilic/Exilic Context", Journal of Book of Mormon Studies 3/2 (1994): pp. 49–83. Este artigo foi baseado na tese honorária de Pritchett. Ver Bruce Michael Pritchett Jr., Lehi’s Theology of the Fall in its Pre-Exilic/Exilic Context (honors thesis, Brigham Young University, 1989). 4. Pritchett, "Lehi's Theology of the Fall", p. 77. 5. Pritchett, "Lehi's Theology of the Fall", p. 58. 6. Kevin Christensen, "The Temple, the Monarchy, and Wisdom: Lehi’s World and the Scholarship of Margaret Barker", em Glimpses of Lehi’s Jerusalem, ed. John W. Welch, David Rolph Seely, e Jo Ann H. Seely (Provo, Utah: FARMS, 2004), p. 461. 7. John W. Welch, "The Temple in the Book of Mormon: The Temples at the Cities of Nephi, Zarahemla, and Bountiful", em Temples of the Ancient World: Ritual and Symbolism, ed. Donald W. Parry (Salt Lake City, Utah: Deseret Books and FARMS, 1994), p. 322. 8. Para referências dos Salmos, ver David J. Larsen, David J. Larsen, "Ascending into the Hill of the Lord: What the Psalms Can Tell Us About the Rituals of the First Temple", em Ancient Temple Worship: Proceedings of the Expound Symposium 14 May 2011, ed. Matthew B. Brown, Jeffrey M. Bradshaw, Stephen D. Ricks e John S. Thompson (Orem, UT e Salt Lake City, UT: Interpreter Foundation e Eborn Books, 2014), pp. 171–188. Para Jó, ver Mack C. Stirling, "Job: An LDS Reading", em Temple Insights: Proceedings of the Interpreter Matthew B. Brown Memorial Conference—The Temple on Mount Zion, 22 September 2012, ed. William B. Hamblin e David Rolph Seely (Orem, Utah: Interpreter Foundation and Eborn Books, 2014), pp. 99–143. Ezequiel era um sacerdote do Templo. Ver Kevin Christensen, "Prophets and Kings in Lehi’s Jerusalem and Margaret Barker’s Temple Theology", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 4 (2013): p. 187.