KnoWhy #546 | Janeiro 22, 2020

O que significa o grande e espaçoso edifício?

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Scripture Central

"E o grande e espaçoso edifício que teu pai viu são as fantasias vãs e o orgulho dos filhos dos homens." 1 Néfi 12:18

O Conhecimento

Na visão profética da árvore da vida, Leí viu e descreveu um grande e espaçoso edifício. Após comer de seu fruto e experimentar por si a alegria inexprimível que lhe trouxe à sua alma (1 Néfi 8:10–12), ele ficou surpreso ao descobrir que alguns comeram do fruto, porém, mais tarde se sentiram envergonhados e desviaram-se em caminhos proibidos.

E eu também olhei em redor e vi, na outra margem do rio de água, um grande e espaçoso edifício; e ele parecia estar no ar, bem acima da terra. E estava cheio de gente, tanto velhos como jovens, tanto homens como mulheres; e suas vestimentas eram muito finas; e sua atitude era de escárnio e apontavam o dedo para aqueles que haviam chegado e comiam do fruto. E os que haviam experimentado do fruto ficaram envergonhados, por causa dos que zombavam deles, e desviaram-se por caminhos proibidos e perderam-se (1 Néfi 8:26–28).

Leí afirmou haver muitos outros avançando em direção ao edifício, alguns dos quais se afogaram nas profundezas da água na tentativa. Outros entraram no prédio e se juntaram aos que zombaram dos que haviam comido do fruto (1 Néfi 8:31–33). Durante a visão das coisas que seu pai observou, um anjo ensinou a Néfi que o grande e espaçoso edifício representava "fantasias vãs e o orgulho dos filhos dos homens" (1 Néfi 12:18; Ver também 11:36). Cada uma das palavras orgulho, fantasias e vão ajudam a dar mais conhecimento sobre o significado desse estranho edifício.

Orgulho

O orgulho de Jerusalém era uma grande preocupação do profeta contemporâneo de Leí, Jeremias. O Senhor disse que arruinaria o orgulho de Judá e Jerusalém porque se recusaram a ouvir suas palavras, e "[a]ntes andaram após a obstinação do seu coração" (Jeremias 9-10). Jeremias implorou ao seu povo que se arrependesse, "antes que tropecem vossos pés nos montes tenebrosos; e espereis a luz, e ele a mude em sombra de morte, e a reduza a escuridão" (Jeremias 13:15-16). Quando eles se recusaram a ouvir suas palavras, Jeremias só pôde chorar pela queda inevitável (Jeremias 13:17). Isso nos lembra daqueles que ficaram envergonhados com as provocações dos que estavam no prédio e desviaram-se em caminhos proibidos e se perderam (1 Néfi 8:28).

A palavra que Jeremias usou para orgulho (ga'ah) é interessante. ''Todos os significados da raiz g'h e suas várias derivações agrupam-se em torno do significado básico de 'ser/tornar-se alto".1 Às vezes é usado em um sentido positivo em referência a Deus, contudo é usado principalmente de forma negativa denotando "orgulho humano, arrogância e presunção". Na visão de Leí, o edifício ''parecia estar no ar, bem acima da terra'' (1 Néfi 8:26).

Fantasias

Se o grande e espaçoso edifício no sonho de Leí refletia o orgulho do mundo, o que o anjo quis dizer com ''fantasias''? Uma possibilidade é que se referia a pensamentos ou planos que as pessoas possam ter contrários aos de Deus. Por exemplo, Jeremias perguntou ao povo de Jerusalém: "até quando permanecerão no meio de ti os pensamentos da tua vaidade?" (Jeremias 4:14). Aqui, a palavra "pensamentos" (mahsebot) significa mais precisamente "esquemas" ou "planos", que podem ser bons ou ruins, mas, nesse caso, são claramente maus.2

Outra possibilidade é sugerida pelo trabalho de Aida Besancon Spencer sobre a palavra hebraica shereeroth. Spencer explica que shereeroth é uma espécie de autoconfiança idólatra, traduzida como "imagination" na Bíblia King James e em outras traduções como "teimosia"; na versão Almeida 2015 é traduzido como "dureza, imaginação ou teimosia". Aparece dez vezes nos escritos de Jeremias (Jeremias 7:24; 9:14; 11:8; 13:10; 16:12; 18:12; 23:17) e duas vezes em outra parte(Deuteronômio 29:19; Salmos 81:12). Nessas passagens, está intimamente relacionada aos eventos do Êxodo, onde Israel se rebelou contra Deus. É usado para descrever os israelitas que quebraram seu convênio com Deus e se tornaram idólatras, dizendo: "Terei paz, ainda que ande conforme a obstinação do meu coração; para acrescentar bebedice à sede"(Deuteronômio 29:19). Nessas passagens, encontramos "o interessante entrelaçamento da atração por ídolos estrangeiros e uma falsa sensação de segurança, pois quem assim age não será perdoado, mas ficará marcado para a calamidade, ou seja, para o cativeiro".3

Spencer observa que, em sua forma de verbo transitivo, shereeroth significa essencialmente ''torcer, torcer junto, enrolar, atar'', como um tendão muscular, uma corda ou até mesmo uma corrente. Metaforicamente, denota "uma força ou firmeza que é, em essência, torta ou teimosa. É apresentado como autoconfiança para aqueles que confiam nele, mas como teimosia ou uma força desonesta para Deus".4 Assim como o termo hebraico positivo para fidelidade (emunah), o termo shereeroth significa firmeza, mas é totalmente negativo, pois "um é entendido como 'verdade', enquanto o outro é entendido como 'perversidade'". Um vem de Deus, enquanto o outro emana do indivíduo.5 Na Bíblia, aqueles que possuem essa característica são vistos não apenas como independentes, mas também em um estado de rebelião contra Deus e prontos para o cativeiro e a destruição.

Vão

O anjo também ensinou a Néfi que o orgulho e as fantasias, que o edifício tipifica, são ''vãos''. A palavra hebraica hebel, traduzido como "vain" Bíblia King James, também pode significar "sopro" ou "vapor" e sugere "o que não tem consistência ou qualidade duradoura".6 "A partir daí, surgem significados como fugaz (existência humana), vão e ineficaz, e até mesmo enganoso(ídolos que não podem satisfazer os desejos de um adorador)."7 Às vezes, Jeremias usava o termo como um eufemismo para a adoração a Baal. ''indo após a vaidade , e se tornando levianos'' (Jeremias 2:5 tradução de Lundbom).8 É algo temporário ou transitório, que desaparece.

Há um elemento de irrealidade no grande e espaçoso edifício. Ele sobe como uma miragem no ar. Ao contrário de uma árvore que está enraizada na terra e viva, o edifício, apesar de suas falsas e enganosas promessas, não tem vida e, ao contrário do fruto da árvore da vida, jamais oferecerá felicidade duradoura. Aqueles que rejeitam e se afastam da árvore da vida e do amor de Deus, para ir atrás do grande e espaçoso edifício, finalmente perceberão que foram enganados. Eles trocaram tudo o que é significativo e valioso por nada.

O porquê

Os perigos que Leí viu em seu sonho são tão graves agora quanto eram nos tempos antigos. O Élder Neil L. Anderson advertiu recentemente:

Em nosso mundo hoje, a equipe de construção do adversário faz hora extra, ampliando rapidamente o grande e espaçoso edifício. A expansão se espalhou através do rio, na esperança de envolver nosso lar enquanto os zombadores pranteiam dia e noite nos megafones da internet [...] Lembremo-nos das palavras de Leí: ''Não lhes demos atenção''.

Às vezes, pode ser difícil arriscar a desaprovação e o ridículo dos outros.

Apesar de não precisarmos temer, não devemos baixar a guarda. Às vezes, coisas pequenas podem derrubar nosso equilíbrio espiritual. Por favor, não deixem que dúvidas, insultos de outras pessoas, amigos sem fé ou erros infelizes e decepções os distanciem da doçura, da pureza e das bênçãos advindas do precioso fruto da árvore que satisfazem a alma. Mantenham os olhos e o coração centralizados no Salvador Jesus Cristo e na eterna alegria que advém Dele.9

Leí observou que ''depois'' de alguns terem comido do fruto, ''olharam em redor como se estivessem envergonhados'' (1 Néfi 8:25). Isso pode sugerir que aqueles que se afastaram (que antes haviam partilhado) podem ter parado de se banquetear com o amor de Deus.

Tomar o fruto da árvore não é um evento único. Após termos participado do amor de Deus, devemos continuar a fazê-lo. Stephen W. Owen observou:

É possível que os jovens sejam criados em um lar Santo dos Últimos Dias, participem de todas as reuniões e aulas da Igreja, até mesmo participem das ordenanças do templo e depois se afastem ''por caminhos proibidos e [se percam]".10

Não é suficiente partilhar do fruto da árvore uma única vez. Precisamos nos nutrir continuamente.

Uma maneira de fazer isso é deleitar-se continuamente com as palavras de Cristo nas Escrituras. Morôni aconselhou-nos que, ao lermos o Livro de Mórmon, devemos nos lembrar de "quão misericordioso tem sido o Senhor para com os filhos dos homens", desde o início até hoje (Morôni 10:3). Ao fazermos isso, devemos nos lembrar especialmente de Suas muitas misericórdias ao longo de nossas vidas. Ao refletirmos sobre essas bênçãos pessoais, obteremos maior apreço por Seu amor, por nós e pelos outros. Esse sentimento de gratidão nos fortalecerá contra o egoísmo.

Outra maneira de seguir a desfrutar do amor de Deus é servindo e orando por aqueles a nosso redor. Ao ministrarmos aos outros, passamos a amar aqueles a quem servimos e por quem oramos. Esse amor nos enche de alegria e humildade e traz mais fé, poder e alegria para nossa vida. À medida que continuamos a nos deleitar no amor de Deus, as distrações do grande e espaçoso edifício perdem o controle sobre nós.

Surpreendentemente, também pode haver benefícios para os santos que estão sendo vistos e ridicularizados por outras pessoas. O Élder Neal A. Maxwell ensinou, O Élder Neal A. Maxwell ensinou que ''da mesma forma, a arrogância dos críticos precisa ser enfrentada com a mansidão e a clareza dos crentes. Se às vezes nos vemos cercados pelo ressentimento, ainda assim devemos estender a mão, especialmente àqueles cujas mãos estão pendentes".11 Ao defendermos firmemente o que é verdadeiro, real e de valor eterno, podemos fazer com que muitos, que foram distraídos ou enganados pelo orgulho e pelas vãs fantasias do mundo, venham e partilhem, ou retornem e partilhem do inexprimível amor de Deus.

Leitura Complementar

Central do Livro de Mórmon, ''Como Néfi usou Isaías para nos ensinar a evitar o orgulho? (2 Néfi 15:21),'' KnoWhy 48 (1 de março de 2017). Central do Livro de Mórmon, ''Realmente existem apenas duas igrejas? (1 Néfi 14:10),'' KnoWhy 16 (19 de janeiro de 2017).

1. Ernst Jenni e Klaus Westermann, Theological Lexicon of the Old Testament (Peabody, Massachusetts: Hendrickson, 1997), 1: p. 286. 2. Jack R. Lundbom, Jeremiah 1-20 (New York: Doubleday, 1999), p. 346. 3. Aida Besancon Spencer, ''שרירותAs Self-Reliance'', Journal of Biblical Literature 100 (1981): p. 247. 4. Spencer, p. 247. 5. Spencer, p. 247-248. 6. W. E. Staples, ''The 'Vanity' of Ecclesiastes'', Journal of Near Eastern Studies 2, no. 2 (abril de 1943): p. 95. 7. Roland E. Murphy, Ecclesiastes (Dallas, Word Books, 1982), p. lviii. 8. Jack R. Lundbom, Jeremiah 1-20 (New York: Doubleday, 1999), p. 259. 9. Anderson, Neil L. Anderson, ''O fruto'' Conferência Geral (Outubro de 2019). 10. Stephen W. Owen, ''Ser fiel, não infiel'', Conferência Geral (Outubro 2019). 11. Neal A. Maxwell, ''Tornar-se como uma criança'' Liahona (maio de 1996).

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