KnoWhy #564 | Junho 5, 2020
Quem disse as “palavras”; que se tornaram realidade sobre as “dores e enfermidades” de Cristo?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"E ele seguirá, sofrendo dores e aflições e tentações de toda espécie; e isto para que se cumpra a palavra que diz que ele tomará sobre si as dores e as enfermidades de seu povo." Alma 7:11
O conhecimento
Os ensinamentos de Alma, o filho, ao povo de Gideão sobre o futuro sofrimento do Filho de Deus, é reconhecido e apreciado pelos Santos dos Últimos Dias como uma das passagens que melhor descrevem a Expiação em todas as escrituras (Alma 7:10-13).1 Em meio a esses versículos inspiradores e proféticos, Alma diz que o sofrimento do Filho de Deus acontecerá para que "se cumpra a palavra que diz que: ele tomará sobre si as dores e as enfermidades de seu povo" (Alma 7:11, ênfase adicionada). Portanto, Alma parece ter em mente uma profecia anterior sobre os sofrimentos do Messias, mas não diz qual profeta citou.
Vários estudiosos e referências de outras fontes das escrituras apontam que Alma estava se referindo a Isaías 53.2 Em particular, Thomas A. Wayment argumentou que Alma 7:11 poderia referir-se a Isaías 53:4 ainda mais diretamente do que inicialmente sugerido. Isaías 53:4 diz: "Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si" (cf. Mosias 14:4).3 Embora não pareça à primeira vista que as palavras de Alma "dores e enfermidades" provavelmente se baseiam na versão Rei Jaime (VRJ ou KJV, em inglês) de Isaías 53:4, de acordo com Wayment, ''a versão de [Isaías 53:4] que Alma cita é muito semelhante ao texto hebraico que nos foi transmitido [...].4
Isso porque, entre os principais significados das palavras hebraicas traduzidas na KJV como (a) griefs (enfermidades/ḥolāyēnu) e (b) sorrows (dores/mak’ōbenu) é (a) sicknesses (enfermidades)e (b) pains (dores), respectivamente.5 Esta compreensão das palavras hebraicas em Isaías 53:4 faz com que a relação com Alma 7:11 seja mais clara e direta.
Isaías mencionou que o Messias tomaria as (a) enfermidades e sofreria as (b) dores de seu povo; e Alma, provavelmente citando Isaías 53:4 ( Mosias 14:4), então diz que o Filho de Deus "tomou sobre si nossas (b) dores e carregou nossos (a) pesares". A inversão de (a) enfermidades e (b) dores para (b) dores e (a) enfermidades na citação de Alma, reflete uma antiga prática literária hebraica conhecida como Lei de Seidel, que afirma que a citação de uma frase bíblica em outra passagem da Bíblia "frequentemente inverte os elementos do texto original".6
Após também comparar Alma 7:11 com o VKJ, a Septuaginta (antiga tradução grega da Bíblia hebraica) e Mateus 8:17 (que também é uma citação de um trecho de Isaías 53:4), Wayment concluiu: ''Quando comparada à tradução literal do texto massorético hebraico, fica claro que a interpretação de Alma das palavras ['dores e enfermidades'] é a mais próxima do hebraico'' e ''a mais precisa em refletir os equivalentes lexicais exatos do texto hebraico''.7 Wayment concluiu:
É [...] inimaginável que o Profeta Joseph Smith, sem inspiração, pudesse ter traduzido essa passagem para o inglês de modo que refletisse mais o nosso texto hebraico do que a já bem estabelecida tradição inglesa da Versão King James, que continha uma redação significativamente diferente. A maioria dos tradutores tende a gravitar em torno de traduções já estabelecidas e autorizadas de textos importantes. Neste caso, seria natural supor que Joseph teria traduzido a passagem de Isaías usando as palavras de sua Bíblia VKJ, mas ele a traduziu literalmente, sem saber que era uma citação de Isaías incluída por um antigo autor do Livro de Mórmon.8
O porquê
Por que Alma incluiria essa poderosa declaração ao falar ao povo de Gideão?
O fato de Alma incluir as palavras de Isaías 53 e Mosias 14 dentro do ''testemunho que está em [ele]'' (Alma 7:13), um testemunho que ele disse que o Espírito lhe havia revelado (Alma 7:9), sugere que as palavras de Isaías e Abinádi foram profundamente significativas para ele. Como o Élder Bruce R. McConkie, Alma pode ter sentido que essas palavras, proferidas originalmente por dois profetas anteriores, eram agora suas próprias palavras ''pois o Santo Espírito de Deus [tinha] testificado a ele que eram verdadeiras''.9
Alma pôde testemunhar pessoalmente a realidade das profecias de Isaías por meio de seu intenso sofrimento durante sua conversão. Alma foi incapaz de mover seus membros ou abrir a boca por três dias, sendo severamente "atormentado com as penas do inferno[...], pelas dores de uma alma condenada" (Alma 36:13, 16). Essa condição durou até ele se lembrar dos ensinamentos de seu pai sobre “um Jesus Cristo, um Filho de Deus […]” pelo qual “já não [s]e lembr[ou] de [suas]dores[…]” e “[seus] membros recobraram as forças” (Alma 36:17, 19, 23). Não é de admirar que Alma tenha se relacionado tão profunda e pessoalmente com as palavras de Isaías sobre o Filho de Deus, o Servo Sofredor, que carregaria todas as doenças de seu povo (incluindo doenças físicas) e dores (incluindo sofrimento mental ou interno).10
Além disso, Alma, o pai, extraiu seus ensinamentos das palavras de Abinádi (Mosias 17:2-4; 18:1), que teria recitado todo o capítulo de Isaías 53 ao explicar e testificar da missão redentora de Cristo aos sacerdotes do rei Noé (Mosias 14-16). Portanto, os próprios ensinamentos de Alma, o pai, que encorajaram o apagamento da memória da dor de Alma, o filho, e a restauração de sua saúde física e bem-estar espiritual, podem muito bem ter incluído, ou pelo menos sido influenciados por, Isaías 53.11
Além disso, o público de Alma, as pessoas que viviam em Gideão, provavelmente incluía pessoas que haviam escapado da terra de Néfi sob a liderança de Lími e Gideão cerca de 30 anos antes.12 Como membros da corte, Lími e Gideão poderiam ter estado presentes quando Isaías 53 fora citado perante a corte real dos sacerdotes do rei Noé, e certamente estavam presentes com seu povo quando, juntamente a Alma, o pai, compartilharam as histórias do que os havia acontecido (Mosias 25:5-8). Possivelmente, por essas razões, Alma confiara que eles estariam bem familiarizados com Isaías 53, e que ele poderia simplesmente acenar que se referia à "palavra" confiando que reconheceriam de onde a passagem viera.
Os discípulos de Jesus Cristo de hoje devem se esforçar para serem como Alma e seus ouvintes em Gideão, ou seja, conhecer e se envolver com as escrituras a um nível profundamente pessoal, especialmente nas passagens sobre como a Expiação de Cristo pode aliviar todos as dores, sofrimentos, doenças e males sociais, ao se arrependerem e aceitarem Sua intercessão por nossas transgressões e iniquidades.
Leitura Complementar
Thomas A. Wayment, ''The Hebrew Text of Alma 7:11'', Journal of Book of Mormon Studies 14, no. 1 (2005): pp. 98–103, 130.1. Ver, por exemplo, Jeffrey R. Holland, Cristo e o Novo Convênio: A Mensagem Messiânica do Livro de Mórmon (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2001); Joseph Fielding McConkie e Robert L. Millett, Doctrinal Commentary on the Book of Mormon, 4 v. (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1987–1992), 3:51–52. 2 As notas de rodapé das edições Santos dos Últimos Dias oficiais do Livro de Mórmon também incluem referências a Isaías 53:3-5 e Mosias 14:3-5. Monte S. Nyman, Book of Mormon Commentary, 6 v. (Orem, UT: Granite, 2003), 3:90 diz que "a escritura que Alma cita é Isaías 53:3–4." Ver também D. Kelly Ogden, ''Isaiah Chap. Revisão: Mosias 14 // Isaías 53'', em Book of Mormon Reference Companion, ed. Dennis L. Largey (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2003), p. 394. Brant A. Gardner, Second Witness: An Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2008), 4:129, sugere que Alma poderia estar se referindo a Isaías 50:6, "ou talvez todo o capítulo de Isaías 14 [sic]", que evidentemente se refere a Isaías 53, já que Gardner continua dizendo: "A referência não é uma citação, mas uma invocação da descrição de Isaías do servo sofredor", e a canção do servo sofredor é Isaías 53. O erro de digitação parece ser devido a uma combinação de Isaías 53 com Mosias 14, que é uma citação completa de Isaías 53. Conforme estabelecido neste KnoWhy, aparentemente Alma cita a Isaías 53 mais diretamente do que pode parecer inicialmente. John S. Thompson e Eric Smith, ''Isaiah and the Latter-day Saints: A Bibliographic Survey'', em Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry e John W. Welch, (Provo: FARMS, 1998), p. 502 observa que Isaías 53:12 "revela que Cristo sabia por sua própria experiência como era sofrer dor e aflição (ver Alma 7:11)". 3. Ver Thomas A. Wayment, ''The Hebrew Text of Alma 7:11'', Journal of Book of Mormon Studies 14, no. 1 (2005): pp. 98–103, 130.
4. Wayment, ''The Hebrew Text of Alma 7:11'', p. 101. 5. Ver F. Brown, S. Driver e C. Briggs, The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon (Peabody, MA: Hendrickson Publishers, 2007), pp. 318, 456; Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament, study ed., 2 v., trans. M. E. J. Richardson (Boston, MA: Brill, 2001), 1: pp. 318, 579; David J. A. Clines, The Dictionary of Classical Hebrew, 8 v. (Sheffield: Sheffield Academic, 1993–2011), 3: p. 232; 5: p. 265. Isso se reflete em algumas traduções modernas [em inglês], como a versão CSB (cf.HCSB), LEB e YLT. Cf. NET (illnesses e pains) e CJB (diseases e pains). 6. Bernard M. Levinson, Deuteronomy and the Hermeneutics of Legal Innovation (Nova York, NY: Oxford University Press, 1997), pp. 18–19. Ver também Pancratius C. Beentjes, ''Inverted Quotations in the Bible: A Neglected Stylistic Pattern'', Biblica 63 , no. 4 (1982): pp. 506-523. Sobre a Lei de Seidel no Livro de Mórmon, ver David Bokovoy, ''Inverted Quotations in the Book of Mormon'', Insights: A Window on the Ancient World 20, no. 10 (2000): p. 2; David E. Bokovoy y John A. Tvedtnes, Testaments: Links between the Book of Mormon and the Hebrew Bible (Tooele, UT: Heritage Press, 2003), pp. 56–60. 7. Wayment, ''The Hebrew Text of Alma 7:11'', pp. 102, 103. 8. Wayment, ''The Hebrew Text of Alma 7:11'', p. 103. Muitos estudiosos acreditam que Isaías 53 (juntamente a Isaías 40 a 55) não foram escritas pelo Isaías original, mas por um profeta posterior, após Leí ter deixado Jerusalém, portanto, não estariam disponíveis nas placas de latão. Se fosse esse o caso, seria difícil explicar como Joseph conseguiu produzir uma tradução de Isaías 53:4 , que é independente do VKJ. Para os Santos dos Últimos Dias abordarem a questão da autoria e datação de Isaías, ver John W. Welch, ''Authorship of the Book of Isaiah in Light of the Book of Mormon'', em Isaiah in the Book of Mormon, pp. 409–422. Procure também o próximo trabalho de John Gee. 9. Bruce R. McConkie, ''O Poder Purificador do Getsêmani'', Liahona, abril de 1985. 10. Brown-Driver-Briggs, p. 456 indica que o termo hebraico para "dor" (sorrows em VKJ) em Isaías 53:4 pode significar dor física e mental. 11. Outras evidências também apoiam a probabilidade de que os influentes ensinamentos de Abinádi tenham sido transmitidos a Alma, o filho, por seu pai. Ver John Hilton III, ''Abinadi’s Legacy: Tracing His Influence through the Book of Mormon'', em Abinadi: He Came Among them in Disguise, ed. Shon D. Hopkin (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e BYU Religious Studies Center, 2018), pp. 97–103; John Hilton III, ''Textual Similarities in the Words of Abinadi and Alma’s Counsel to Corianton'', BYU Studies Quarterly 51, no. 2 (2012): pp. 39–60.
12. Teria sido estranho para qualquer um, exceto ao povo de Lími, dar a este vale e cidade o nome de seu herói Gideão (Alma 6:7), que havia sido morto por Neor oito anos antes (Alma 1:9, 15).