KnoWhy #434 | Setembro 27, 2018

Quem eram os mulequitas e por que eles são tão importantes?

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Scripture Central

"E aconteceu que o povo de Zaraenla e o de Mosias se uniram e Mosias foi proclamado seu rei." Ômni 1:19

O conhecimento

No Livro de Omni, os leitores são apresentados ao "povo de Zaraenla", que "saíra de Jerusalém na época em que Zedequias, rei de Judá, fora levado cativo para a Babilônia" (Omni 1:15). Mosias 25:2 explica que Zaraenla era um "descendente de Muleque, e dos que com ele haviam ido para o deserto". No entanto, não é até o Livro de Helamã que os leitores aprendem que Muleque era "filho de Zedequias" (Helamã 6:10) e que ele era o único filho que não havia sido morto quando Jerusalém foi destruída pelos babilônios (Helamã 8:21).1

Esses versículos mostram que a identidade do povo de Zaraenla não é imediatamente clara no texto. Sua identidade só pode ser reconstruída por passagens isoladas. A falta de clareza pode fazer com que os leitores fiquem confusos ao assumir que os descendentes de Muleque (muitas vezes referidos como "mulequitas")2 eram de pouca preocupação na ampla história dos nefitas e lamanitas. Uma leitura cuidadosa, no entanto, sugere que os mulequitas foram extremamente influentes política e religiosamente entre os povos do Livro de Mórmon.

Primeiro, a história mulequita ajuda a resolver um conflito fundamental entre os nefitas e os lamanitas. Lamã e Lemuel rejeitaram as visões de Leí, recusaram-se a acreditar que Jerusalém seria destruída e alegaram que Leí havia acusado injustamente os ímpios judeus.3 Essas queixas foram usadas como justificativa para seu ódio e passaram essa tradição para sua posteridade lamanita.4

A história dos mulequitas, no entanto, apoia diretamente a história nefita original, enfraquecendo a tradição lamanita. Néfi, filho de Helamã, chamou a atenção para isso quando estava pregando em sua torre do jardim em Zaraenla:

E agora negareis que Jerusalém foi destruída? Direis que os filhos de Zedequias não foram todos mortos, com exceção de Muleque? Sim, e não vedes que os descendentes de Zedequias estão conosco e que foram expulsos da terra de Jerusalém? (Helamã 8:21).5

Para se alinharem com a tradição lamanita, os dissidentes mulequitas precisariam rejeitar a própria origem da história de seu povo, o que certamente os colocaria em uma posição desconfortável. As testemunhas mulequitas da destruição de Jerusalém provaram que Leí e Néfi eram verdadeiros profetas e, portanto, que Lamã e Lemuel se rebelaram injustificadamente contra eles.6

Os mulequitas também tinham um importante papel contrastante com o papel dos nefitas. Em apenas alguns anos, ambos os grupos deixaram Jerusalém e partiram para o novo mundo. No entanto, apenas os nefitas trouxeram consigo um registro das escrituras. Como os nefitas tinham as placas de latão, eles conseguiram preservar as histórias sagradas e as tradições corretas de seus ancestrais israelitas.7

Os mulequitas, por outro lado, sofreram um grande declínio espiritual após habitarem apenas algumas gerações no novo mundo. Seu "idioma corrompera-se" porque "nenhum registro tinham trazido consigo" (Ômni 1:17). Pior, sem as Escrituras para mantê-los lembrando o Senhor, eles "negavam a existência de seu Criador" (v. 17).

Essas circunstâncias desfavoráveis podem ajudar a explicar por que os mulequitas estavam dispostos a se juntar aos nefitas em primeiro lugar e por que permitiram que Mosias, um rei nefita, os governasse. Ao fazer isso, eles imediatamente ganharam acesso a uma riqueza de informações religiosas e históricas sobre seus antepassados. Eles solidificaram sua identidade religiosa e cultural fundindo-se com outra colônia israelita que era de alguma forma provavelmente mais avançada do que a deles.8

Esta fusão favorável certamente trouxe vantagens políticas, econômicas e militares para ambos os grupos. No entanto, misturar com sucesso diversos povos, raramente é um processo tranquilo. Embora os autores do Livro de Mórmon não o digam abertamente, parece provável que alguns dos mulequitas nunca gostaram da ideia de ter reis ou juízes nefitas para governá-los. Vários estudiosos do Livro de Mórmon sugeriram que os dissidentes "nefitas", que instigaram várias guerras e distúrbios civis, eram possivelmente descendentes de mulequitas.9 Se for verdade, então os mulequitas eram uma bênção e um fardo para os nefitas.

O porquê

O aumento da conscientização sobre os mulequitas pode auxiliar os leitores de várias maneiras. Sua história demonstra como os eventos de um grupo de pessoas podem ajudar a verificar ou falsificar a história, ou tradições de outro. O relato de Muleque e sua fuga de Jerusalém, ajudaram a validar a tradição nefita e a confirmar que Leí e Néfi eram verdadeiros profetas. Da mesma forma, o Livro de Mórmon — que oferece um registro histórico e espiritual adicional da realidade de Jesus Cristo — expõe a verdade da Bíblia e confirma que Joseph Smith realmente era um profeta de Deus.10

Os mulequitas também nos mostram por que as Escrituras são tão importantes. Com o tempo, aqueles que negligenciam a palavra de Deus, muitas vezes esquecem as verdades eternas e podem até perder a fé na existência de Deus.11 Infelizmente, e não surpreendentemente, a ausência das Escrituras ou o estudo das Escrituras pode ter um efeito cascata através das gerações, assim como aconteceu com os mulequitas. Por esse motivo, os profetas e apóstolos modernos convidaram indivíduos e famílias para estudar as escrituras, particularmente o Livro de Mórmon, todos os dias.12 Fazer isso ajudará a acender e encher continuamente o fogo da fé em Deus e em Cristo.

Por fim, os mulequitas nos mostram que o Livro de Mórmon foi escrito por pessoas reais com desafios sociais reais. Combinar diferentes sociedades, assim como os nefitas e os mulequitas fizeram, requer paciência e humildade. A luta social entre esses grupos, que é frequentemente sugerida em todo o Livro de Mórmon, fornece um aviso aos leitores modernos. Não devemos permitir que nossas diferenças nos separem de Cristo ou de Seu verdadeiro evangelho.

Em vez disso, podemos permitir que nossas diferenças divinamente inspiradas se complementem e se refinem. Ao nos unirmos à fé em Cristo, podemos expandir nossos pontos fortes e reconhecer melhor nossas fraquezas (ver Éter 12:27). Como ensinou o Presidente Dieter F. Uchtdorf: "[a] diversidade de pessoas e de povos do mundo todo é uma força desta Igreja" para todos os que se esforçam para seguir Jesus Cristo.13

Leitura Complementar

Jeffrey R. Chadwick, "Has the Seal of Mulek Been Found?" Journal of Book of Mormon Studies 12, no. 2 (2003): pp. 72–83, 117–18. John L. Sorenson, "The 'Mulekites'", BYU Studies Quarterly 30, no. 3 (1990): pp. 6–22. Gary R. Whiting, "The Testimony of Amaleki", em Jacob Through Words of Mormon, To Learn With Joy, Book of Mormon Symposium Series, Volume 4, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1990), pp. 299–301. Garth A. Wilson, "The Mulekites", Ensign, março de 1987.

1. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Um artefato do Livro de Mórmon foi encontrado? (Mosias 25:2)", KnoWhy 103, (8 de maio de 2017). 2. "Mulequitas" é um termo usado por estudiosos e comentaristas do Livro de Mórmon, mas essa palavra não é encontrada no Libro de Mórmon. 3. Ver 1 Néfi 2:12–13; 17:19–22. Ver também, Neal Rappleye, "The Deuteronomist Reforms and Lehi's Family Dynamics: A Social Context for the Rebellions of Laman and Lemuel", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 16 (2015): pp. 87–99. 4. Ver Alma 3:8; 9:17; 20:13; 37:9; 54:17. 5. Deve-se notar que Zaraenla era originalmente uma cidade mulequita e, portanto, o comentário de Néfi teria sido particularmente relevante. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que Néfi profetizou perto da 'estrada que conduzia ao mercado'? (Helamã 7:10)", KnoWhy 178, (8 de agosto de 2017). 6. Ver Gary R. Whiting, "The Testimony of Amaleki", em Jacob Through Words of Mormon, To Learn With Joy, Book of Mormon Symposium Series, Volume 4, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1990), pp. 299–301.

7. Ver Whiting, "The Testimony of Amaleki", pp. 299–301. 8. Para mais informações culturais e políticas sobre essa fusão entre os nefitas e os lamanitas, ver John L. Sorenson, "The 'Mulekites'", BYU Studies Quarterly 30, no. 3 (1990): pp. 6–22. Para as implicações espirituais da fusão, ver Garth A. Wilson, "The Mulekites", Ensign, março de 1987, disponível em lds.org. 9. Ver, por exemplo, A. Keith Thompson, "Apostate Religion in the Book of Mormon", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 25 (2017): pp. 191–226; Dan Belnap, "'And it came to pass . . .': The Sociopolitical Events in the Book of Mormon Leading to the Eighteenth Year of the Reign of the Judges", Journal of Book of Mormon Studies 23 (2014): pp. 101-139; Val Larsen, "In His Footsteps: Ammon e Ammon", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 3 (2013): pp. 85-113; John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Press and Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 212–215. 10. Ver 2 Néfi 3:12. 11. Ver Ronald A. Rasband, "Para Que Não Te Esqueças", A Liahona, outubro de 2016, disponível em: lds.org. 12. Ver Russell M. Nelson, "Como seria sua vida sem o Livro de Mórmon?" A Liahona, novembro de 2017, disponível em lds.org; Thomas S. Monson, "O Poder do Livro de Mórmon", A Liahona, maio de 2017, pp. 86–87, disponível em lds.org; Central do Livro de Mórmon, "Por que devemos ler o Livro de Mórmon diariamente? (2 Néfi 4:15)", KnoWhy 368, (28 de maio de 2018). 13. Dieter F. Uchtdorf, "Venham, Juntem-se a Nós", A Liahona, novembro de 2013, disponível em: lds.org.

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