KnoWhy #654 | Fevereiro 2, 2023
Por que há vários relatos do nascimento de Jesus?
Postagem contribuída por
Central das Escrituras
"Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco." Mateus 1:23; cf. Isaías 7:14
O conhecimento
Por milênios, o mundo esperou o Messias prometido que redimiria a humanidade. O Velho Testamento está repleto de mensagens proféticas e prenúncios da vida, ministério e sacrifício expiatório do Messias, testemunhando que no devido tempo, Ele viria para consertar todas as coisas.1 Desta forma, o prometido advento do nascimento do Messias não passou despercebido em nenhum dos dois hemisférios. Vários profetas e historiadores relataram a vinda de Jesus Cristo e as circunstâncias milagrosas de Seu nascimento.
No Novo Testamento, Mateus e Lucas registram os eventos que antecederam ao nascimento de Jesus Cristo e eventos significativos de sua infância. Ambas as histórias são muito coerentes. Tanto Lucas, quanto Mateus esclarecem os seguintes pontos sobre o nascimento e a infância de Jesus:
- José era descendente direto de Davi e Abraão (Mateus 1:1, 16, 20; Lucas 1:27, 32, 2:4).
- Maria e José só ficaram noivos na época da concepção de Jesus e não tiveram relações sexuais antes de Jesus nascer (Mateus 1:18, 25; Lucas 1:27, 34; 2:5).
- A concepção de Jesus foi milagrosa e envolveu o Espírito Santo (Mateus 1:18, 20; Lucas 1:35).
- Um anjo anunciou o nascimento do Messias (Mateus 1:20–23; Lucas 1:30–35).
- Um anjo decretou que o nome do bebê deveria ser Jesus (Mateus 1:18–25; Lucas 1:31).
- Um anjo declarou que Jesus salvaria Seu povo e seria o Salvador (Mateus 1:21, Lucas 2:11).
- O bebê nasceu de uma virgem (Mateus 1:23, 25; Lucas 1:34).
- O nascimento ocorreu em Belém (Mateus 2:1; Lucas 2:4–6).
- O nascimento está cronologicamente relacionado ao reinado de Herodes, o Grande (Mateus 2:1; Lucas 1:5).
- A criança sagrada foi criada como mortal em Nazaré (Mateus 2:23; Lucas 2:39).2
Apesar dessas semelhanças, os dois relatos do nascimento de Jesus foram escritos para públicos diferentes, com cada autor registrando detalhes exclusivos a seu evangelho. Isso pode ter ajudado cada evangelista a enfatizar diferentes aspectos do ministério do Salvador a seu próprio público.
Por exemplo, Mateus escreveu seu evangelho para um público principalmente judeu. Desde o início de sua genealogia a respeito de Jesus, Mateus tenta demonstrar que Ele é filho de Davi, organizando cuidadosamente os ancestrais do Salvador em três grupos de quatorze indivíduos (Mateus 1:1-17). Esta organização usou uma prática hebraica chamada "gematria", que deu a cada número e palavra um valor numérico.3 O nome de Davi em hebraico tinha o valor de quatorze, e leitores judeus atentos poderiam captar as pistas de Mateus sobre a verdadeira natureza de Jesus ao lerem seu evangelho.4
Mateus desenvolve ainda mais o tema da realeza do nascimento de Cristo ao descrever a visita dos três magos, e a subsequente preocupação de Herodes com Seu poder. Os magos, ou sábios, eram homens ricos e influentes do oriente que reconheceram o sinal do nascimento de Jesus e o declararam Rei dos Judeus no início do Evangelho de Mateus (Mateus 2:1-2). As dádivas que trouxeram, enquanto evidenciam a riqueza oferecida pelos Magos, também podem ser entendidas como adequadas a este título: o ouro representa a realeza de Jesus, o incenso representa o Seu sacerdócio e a mirra prefigura a Sua morte e ressurreição (Mateus 2:11).5 Estes visitantes consolidaram ainda mais para os leitores de Mateus o fato que Jesus era o Messias profetizado, o Governante e Rei de Israel, o Restaurador da nação dos judeus e o Eterno Rei dos judeus.
Lucas, por outro lado, não deu atenção aos grandes visitantes do Oriente, nem explicitou a declaração de que Jesus era o Rei de Israel, no início de Seu evangelho. Lucas inicia seu relato sobre a infância focando em Maria, compartilhando sua experiência com o anjo Gabriel (Lucas 1:26-38). Além disso, Lucas relata que os primeiros a virem a Jesus, foram pastores que cuidavam de seus rebanhos fora da cidade, longe dos visitantes ricos e dignos de um rei (Lucas 2:8-16).6 O contraste dos pastores com os magos ricos e intelectuais no relato de Mateus sugere que a mensagem de Lucas é, que as "boas novas" — ou seja, o evangelho de Jesus Cristo — são tanto para ricos, quanto para pobres.7 Portanto, é bastante apropriado que as primeiras testemunhas do Messias recém-nascido, o Bom Pastor, fossem eles próprios literalmente pastores de Belém.
O evangelho de Lucas é detalhado com elementos mais humildes; as experiências de Maria são registradas — e não as de José — numa época em que a maior atenção estava voltada para os maridos, e não para as esposas. A juventude de Maria e sua disposição de se submeter à vontade do Pai Celestial são prontamente declaradas (Lucas 1:38). Longe dos altos palácios de Herodes, Jesus é colocado em uma manjedoura porque não havia lugar para a família na hospedaria (ver Lucas 2:7). Lucas registrou as humildes circunstâncias do nascimento de Cristo para mostrar Sua humildade e Sua própria disposição a se submeter à vontade do Pai.
O porquê
Ao longo dos evangelhos de Mateus e Lucas, detalhes específicos do nascimento do Messias são destacados para oferecer uma melhor compreensão dos papéis de Jesus como Salvador e Rei dos Reis. Jesus Cristo veio como o Filho Unigênito de Deus. Ele é o rei davídico há muito tempo profetizado, e Seu papel único como o cumprimento dessas profecias fica claro através da citação inicial de Isaías, feita por Mateus: "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco." (Mateus 1:23, cf. Isaías 7:14).
Assim como Jesus é o Rei dos Reis que derrotou a morte e o inferno, Ele também é o Bom Pastor. O próprio Jesus declarou: "Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (João 10:11). Não surpreende, portanto, que as primeiras testemunhas do Bom Pastor fossem pastores, que cuidavam de seus rebanhos como Jesus cuidava dos seus. Ele procura a ovelha perdida, encontra os filhos pródigos e acolhe a todos em Seus braços, quando buscamos entrar em Seu convênio.
Como demonstram os evangelhos, várias testemunhas foram levantadas para dar testemunho da obra e ministério salvador de Jesus. Usando os Magos como testemunhas reais, foi declarado ao Rei Herodes que o Messias havia nascido, e com os humildes pastores do campo, o mundo inteiro agora saberia que seu Pastor e verdadeiro Rei havia chegado. Essas duas abordagens usadas pelos evangelistas não são mutuamente exclusivas, mas se reforçam mutuamente. Jesus veio como um nobre Rei ou como um humilde pastor? Assim como o Rei Davi, que foi um pastor e nasceu na mesma cidade que Jesus, o Salvador era ambos: rei e pastor. A interação dinâmica entre essas duas histórias convida pessoas de todas as condições de vida a desfrutarem dessa história atemporal. O Alfa e o Ômega abrangem e harmonizam ambas as extremidades deste espectro, do começo ao fim.
Hoje, podemos ser fortalecidos por esses testemunhos, assim como os leitores antigos o foram. Como o presidente Russell M. Nelson compartilhou recentemente em uma mensagem de Natal: "Todos os anos, independentemente de nossas circunstâncias atuais, podemos encontrar esperança e alegria renovadas ao lembrarmos da bênção que veio ao mundo naquela primeira noite de Natal [...] Graças a Deus por nos amar o suficiente para enviar Seu Filho Unigênito. Jesus Cristo mudou o mundo para cada um de nós com Seu sacrifício expiatório. Ele é a Luz do Mundo. Ele é a luz que precisamos manter no alto".8
Leitura Complementar
John W. Welch, "Are the Christmas Stories in Matthew and Luke Reconcilable?", BYU New Testament Commentary, de 23 de dezembro de 2013. John W. Welch y John F. Hall, Charting the New Testament (Provo, UT: Foundation for Ancient Research and Mormon Studies, 2002), gráficos 7–3, 8–6.1. Ver Donald W. Parry, The Jesus Christ Focused Old Testament: Making Sense of a Monumental Book (Springville, UT: Book of Mormon Central, 2022). 2. John W. Welch, "Are the Christmas Stories in Matthew and Luke Reconcilable?", BYU New Testament Commentary, 23 de dezembro de 2013. Uma lista semelhante pode ser encontrada em Raymond E. Brown, The Birth of the Messiah: A Commentary on the Infancy Narratives in the Gospels of Matthew and Luke, edição atualizada. (Nova York, NY: Doubleday, 1993), pp.34–35. 3. Ver Brown, Birth of the Messiah, p.80. 4. Muitos manuscritos antigos omitem alguns nomes na genealogia de Mateus, de modo que apenas treze nomes aparecem. De acordo com Brown, "Birth of the Messiah", pp.81-84, é provável que isso se deva a um erro dos escribas, e a lista de Mateus fosse originalmente lida como três listas de catorze. 5. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que os magos deram a Jesus ouro, incenso e mirra? (2 Néfi 2:7)", KnoWhy 392 (11 de julho de 2018). 6. Também é digno de menção o simbolismo real e messiânico dos pastores. Vários dos principais heróis de Israel foram pastores: Abel, o primeiro mártir, era um pastor (Gênesis 4:2); Abraão, Isaque e Jacó tinham rebanhos de ovelhas (Gênesis 24: 35; 26:13-14; 29:6, 9; 30:40); José, Judá e seus irmãos cuidavam dos rebanhos de seu pai (Gênesis 37:2, 12; 46:32-34; 47:3); Moisés cuidava dos rebanhos de Jetro e o fazia quando viu Deus pela primeira vez no Sinai (Êxodo 3:1); e, é claro, Davi, o principal ancestral do Messias, era um pastor em Belém (1 Samuel 16:11, 19; 17:15). 7. Richard Neitzel Holzephfel e Thomas A. Wayment, Making Sense of the New Testament: Timely Insights and Timeless Messages (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2010), p.20. 8. Russel M. Nelson, "Uma Mensagem de Natal do Profeta: Espalhe a Luz de Jesus Cristo", Newsroom, 18 de dezembro de 2022.