KnoWhy #620 | Outubro 14, 2021

Por que os santos foram expulsos do Missouri no outono de 1838?

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Central das Escrituras

"Lembra-te de teus santos que estão sofrendo, ó nosso Deus; e teus servos regozijar-se-ão em teu nome para sempre.” Doutrina e Convênios 121:6

O conhecimento

Os primeiros membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias começaram a se estabelecer no estado do Missouri no verão de 1831, após Joseph Smith receber a revelação de que a futura cidade de Sião seria construída no Condado de Jackson1. Nos oito anos seguintes, o número de santos na área cresceu constantemente, à medida que mais e mais irmãos procuravam estabelecer-se perto de Sião. O relacionamento dos santos com os vizinhos, que não eram de sua fé, foi tumultuosa e complicada durante esse período, e as hostilidades atingiram seu auge no outono de 1838. O governador emitiu uma ordem de extermínio autorizando a milícia a expulsar os santos do estado à mão armada. Joseph Smith e muitos outros membros proeminentes da Igreja foram presos sob acusações forjadas e, em alguns casos, completamente falsas.2

As circunstâncias que contribuíram para esses eventos são complicadas e multifacetadas. Isso inclui "a singularidade da fé dos santos, [...] sua aparente disposição em se aliar aos índios, sua postura geral antiescravagista, seu poder político em rápido crescimento e as alianças políticas resultantes", todos os quais foram um sinal de alerta para seus vizinhos.3 No entanto, o historiador jurídico Jeffrey N. Walker argumenta que o momento das prisões e a expulsão dos santos sugere fortemente que um dos principais fatores determinantes foi a cobiça de alguns líderes estaduais, que desejavam a terra ocupada pelos santos e impedi-los de se tornarem proprietários no Missouri.4

Os santos foram violentamente expulsos do condado de Jackson em 1833 e refugiaram-se temporariamente no condado de Clay, nas proximidades, enquanto buscavam reparação legal. Eventualmente, graças ao advogado Alexander Doniphan, dois novos condados foram formados no norte do Missouri: Caldwell e Daviess. A parte norte de Caldwell foi designada informalmente para os santos se estabelecerem.5

Na época em que os santos do Missouri começaram a se estabelecer no condado de Caldwell, os santos de Kirtland, Ohio, também estavam sendo expulsos de suas casas, e muitos deles buscaram refúgio no Missouri.6 A maioria deles chegara desamparada, tendo usado todos os seus meios para saldar dívidas financeiras e construção da Igreja antes de deixarem Kirtland.7 Sem meios para comprar terras no Condado de Caldwell, muitos santos decidiram se estabelecer ao norte de Caldwell, no Condado de Daviess, onde muitas das terras ainda não haviam sido formalmente demarcadas e disponibilizadas para compra.8 Conforme a lei federal de aquisição de terras da década de 1830, os chamados "posseiros" em terras não demarcadas poderiam obter "direitos de preferência" formais sobre as terras em que habitavam ou haviam realizado benfeitorias. Isso significa que, após a demarcação e loteamento oficial do terreno, os posseiros teriam o direito de comprá-lo do governo federal antes que este fosse disponibilizado publicamente a qualquer outra pessoa.9

A posse desses direitos de preferência deu aos santos empobrecidos o tempo de que precisavam. Walker explica:

A lei permitia aos santos empobrecidos obter direitos de preferência sobre suas propriedades sem pagar nada até que a demarcação topográfica do município fosse concluída. Devido ao atraso nessas demarcações, os novos assentados anteciparam o trabalho em suas terras para gerar a renda necessária para comprar a propriedade (US$ 1,25/acre — 4.046 metros quadrados).10

Várias coisas tiveram que acontecer antes que essas terras fossem disponibilizadas para venda. Primeiro, a data oficial da comercialização de terras públicas deveria ser estabelecida e notificada ao público. Logo, as terras seriam formalmente demarcadas e o público notificado de que o levantamento fora concluído. Se a demarcação não fosse concluída a tempo para que o público recebesse notificação prévia, antes da venda, a data da venda seria adiada. Por último, a partir do primeiro dia da venda pública, os titulares do direito de preferência teriam um prazo legal de duas semanas para se dirigirem pessoalmente ao cartório de registro de imóveis local e adquirir seu terreno.11

No caso do Condado de Daviess em 1838, o público foi notificado no mês de agosto de que a data de venda de terras públicas fora marcada para 12 de novembro. As demarcações foram realizadas no mês de setembro, e a notificação pública foi enviada em 21 de outubro de 1838.12 Foi exatamente nesse momento que os opositores da Igreja no Missouri entraram em ação. De acordo com Sidney Rigdon, um ministro opositor da igreja chamado Sashel Woods "convocou a população", explicando que "as vendas de terras (como dito por ele) estavam próximas e, se conseguissem tirar os Santos dos Últimos Dias, poderiam obter todas as terras com direito de preferência".13

O governador Lilburn W. Boggs emitiu a ordem de extermínio em 27 de outubro de 1838, menos de uma semana após o aviso de que as terras haviam sido oficialmente demarcadas. Walker relatou: "Em 1º de novembro de 1838, inúmeras tropas forçaram aos Santos dos Últimos Dias a se renderem em Far West [...] As viagens mórmons pelos condados do norte foram restritas a partir desse ponto".14 O general John B. Clark prendeu mais de cinquenta Santos dos Últimos Dias, incluindo não apenas Joseph Smith e outros líderes proeminentes da igreja, mas também "os proprietários de terras mais proeminentes do condado de Daviess".15

Os detidos foram mantidos em prisão preventiva ou em prisão sem o devido processo até que um "tribunal de inquérito" pudesse ser realizado, o que foi adiado para 12 de novembro, no mesmo dia em que a venda de terras públicas iniciaria. O processo judicial se prolongou até 29 de novembro, permitindo assim que o prazo legal de duas semanas transcorresse, após o que mais da metade dos homens detidos foram simplesmente libertos e vários outros foram libertos sob fiança. Apenas Joseph Smith e alguns outros líderes permaneceram sob custódia na Cadeia de Liberty, sob acusações de traição, embora a análise legal não revele nenhuma base válida para tal acusação.16

Quando os santos detidos foram libertos, já era tarde demais para finalizarem sua reivindicação legal às suas terras. "Uma vez transcorrido o tempo para os titulares de direitos de preferência o exercerem", observou Walker, "os protagonistas das atividades anti-mórmons dos meses anteriores haviam adquirido imediatamente quase dezoito mil acres de terras do Condado de Daviess", a maioria dos quais "já havia sido habitado e com as benfeitorias feitas pelos ocupantes Santos dos Últimos Dias".17 Entre os que lucraram com as perdas dos santos estavam Sashel Woods, alguns membros de sua família e seus sócios. Mas, eles não foram os únicos. "Outras figuras proeminentes da Guerra Mórmon adquiriram uma quantia significativa das propriedades no Condado de Daviess [...] A maioria desses indivíduos não era residente do condado de Daviess antes da venda do terreno, indicando serem especuladores que lucraram com o infortúnio dos Santos dos Últimos Dias".18

O porquê

Embora certamente houvesse muitos fatores complexos que contribuíram para as dificuldades que os Santos dos Últimos Dias tiveram com seus vizinhos no Missouri, é difícil argumentar estes resultados orquestrados. "É um fato indiscutível", conclui Walker, "que os principais habitantes envolvidos na expulsão dos mórmons obtiveram imediatamente uma recompensa financeira".19 O momento de sua ocorrência sugere fortemente que este resultado fora a intenção da expulsão. Parley P. Pratt observou:

Os opositores da Igreja estavam determinados a fazer com que os Santos dos Últimos Dias cedessem e deixassem o país. Além disso, a venda das terras se aproximava e era conveniente expulsá-los antes que pudessem estabelecer seus direitos de propriedade de preferência. Desta forma, suas valiosas benfeitorias — fruto de diligência e empreendedorismo — passariam para as mãos de homens que teriam o prazer de desfrutar delas sem a labuta de tê-las conquistado.20

Os santos chegaram ao Missouri como cidadãos dos Estados Unidos, onde terras federais (compradas pelos Estados Unidos na compra de Louisiana em 1803) foram oferecidas ao público. Buscavam construir uma sociedade em Sião, um lugar onde o povo de Deus pudesse encontrar paz na Terra e ter todas as coisas em comum. Em vez disso, sofreram violenta perseguição, sendo expulsos, na maioria, para satisfazer os temores políticos e a ganância financeira de seus vizinhos. Como Walker explicou: "Embora a história popular tenha retratado a perseguição como motivada pela religião, os fatos sugerem uma razão mais básica: a ganância, em sua forma mais hedionda e insaciável".21 Ao serem impedidos de adquirir os direitos de propriedade legal permanente, os santos poderiam ser expulsos com muito mais facilidade das divisas do estado do Missouri.

Reconhecer que a ambição desenfreada foi o fator motivador da expulsão dos santos do Missouri, fornece uma trágica lição sobre as atrocidades e os sofrimentos decretados por aqueles movidos por um desejo desenfreado de obter lucro. Emoções coletivas podem se tornar alienação, e ideologias legítimas podem ser mobilizadas e catalisadas para servir a fins pessoais ou partidários. Todas as pessoas, em todos os lados das tensões sociais e civis, podem aprender lições sobre civismo e bem-estar da comunidade a partir de estudos de caso históricos como este.

Leitura Complementar

Jeffrey N. Walker, "Losing Land Claims and the Missouri Conflict in 1838", em Sustaining the Law: Joseph Smith’s Legal Encounters (Provo, UT: BYU Studies, 2014), pp. 247–270. Gordon A. Madsen, "Imprisonment by August King’s Court of Inquiry in 1838", em Sustaining the Law, pp. 271–295.
1. Ver Matthew O. Richardson, "Establishing Zion in Missouri", em Joseph: Exploring the Life and Ministry of the Prophet, ed. Susan Easton Black e Andrew C. Skinner (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2005), pp. 156–164. 2. Ver Alexander L. Baugh, "The Mormons Must be Treated as Enemies", em Joseph, pp. 284–295. 3. Jeffrey N. Walker, "Losing Land Claims and the Missouri Conflict in 1838", em Sustaining the Law: Joseph Smith’s Legal Encounters (Provo, UT: BYU Studies, 2014),p. 256. 4. Walker, "Losing Land Claims", pp. 247–270. 5. Walker, "Losing Land Claims", p. 253. 6. Walker, "Losing Land Claims", pp. 252–253. 7. Walker, "Losing Land Claims", p. 254. 8. Walker, "Losing Land Claims", pp. 254–255. 9. O processo legal é explicado em Walker, "Losing Land Claims", pp. 248-252. 10. Walker, "Losing Land Claims", p. 255. 11. Novamente, para o processo legal, ver Walker, "Losing Land Claims", pp. 248-252. 12. Walker, "Losing Land Claims", pp. 257–258. 13. Citado em Walker, "Losing Land Claims", p. 260. 14. Walker, "Losing Land Claims", p. 261. 15. Walker, "Losing Land Claims", p. 261. 16. Walker, "Losing Land Claims", pp. 261–262. Sobre o inquérito judicial e a análise legal mostrando que a acusação de traição contra Joseph Smith e outros era infundada, ver Gordon A. Madsen, "Imprisonment by August King’s Court of Inquiry in 1838", em Sustaining the Law, pp. 271–295. 17. Walker, "Losing Land Claims", p. 265. 18. Walker, "Losing Land Claims", p. 268. 19. Walker, "Losing Land Claims", p. 269. 20. Citado em Walker, "Losing Land Claims", p. 262. 21. Walker, "Losing Land Claims", p. 269.
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