KnoWhy #618 | Outubro 1, 2021

Por que a seção 88 de Doutrina e Convênios foi citada na seção 109?

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Central das Escrituras

“E como disseste em uma revelação que nos foi dada, chamando-nos de teus amigos, dizendo: Convocai vossa assembleia solene, como vos ordenei”. Doutrina e Convênios 109:6

O conhecimento

Doutrina e Convênios 88, às vezes chamada de "folha de oliveira", é uma das revelações mais eloquentes e vastas de Joseph Smith. Começa com a perspectiva eterna sobre vários tópicos: Jesus Cristo, a luz do universo (88:1–13)1; graus de glória e perspectivas divinas sobre a relatividade das leis dentro dos reinos (88:36–61); e como o Espírito de Deus será derramado sobre todos os fiéis que pedirem sinceramente (88:62–68). Após essa introdução consoladora para a alma, o Senhor pede a Seu povo que lembre de Suas últimas promessas e os convida a reunirem-se em assembleias solenes e santificadoras (88:69–75).

Em janeiro de 1831, anos antes de Joseph receber essa revelação, o Senhor ordenou aos santos que fossem para o estado de Ohio, onde receberiam a "lei e lá [seriam] investidos de poder do alto" (D&C 38:32). Dois anos depois, em janeiro de 1833, chegara o momento de dar o próximo passo para receber a bênção prometida na construção da casa do Senhor em Kirtland.2 Quando Joseph entregou D&C 88 aos santos, chamou-a de "a mensagem de paz do Senhor para nós".3 Esta revelação deu a certeza de que o Senhor estava satisfeito com os esforços de Seus santos fiéis. O propósito do templo, ainda hoje, é nos conduzir a presença do Senhor e ajudar a encontrar a paz Nele.

Para construir o templo, foi necessário muito trabalho físico: cortar pedras, preparar madeira, emoldurar janelas e pendurar as cortinas que iam do teto ao chão.4 Da mesma maneira, uma grande preparação espiritual era necessária. Como etapa essencial na preparação da Igreja para a dedicação do Templo de Kirtland, foi criada a Escola dos Profetas, com base nas instruções dadas em D&C 88:77–80:

77 E dou-vos um mandamento de que vos ensineis a doutrina do reino uns aos outros.

78 Ensinai diligentemente e minha graça acompanhar-vos-á, para que sejais instruídos mais perfeitamente em teoria, em princípio, em doutrina, na lei do evangelho, em todas as coisas pertinentes ao reino de Deus, que vos convém compreender;

79 Tanto as coisas do céu como da Terra e de debaixo da Terra; coisas que foram, coisas que são, coisas que logo hão de suceder; coisas que estão em casa, coisas que estão no estrangeiro; as guerras e complexidades das nações e os julgamentos que estão sobre a terra; e também um conhecimento de países e reinos,

80 Para que estejais preparados em todas as coisas, quando eu vos enviar outra vez para magnificardes o chamado com o qual vos chamei e a missão com a qual vos comissionei.

Na sequência, em D&C 88:117-126, mais instruções foram dadas sobre esta importante experiência de formação educacional. (As palavras em itálico e negrito são citadas em D&C 88:117–126 e repetidas em D&C 109:16-19, como descritas abaixo).

117 Portanto, em verdade vos digo, meus amigos: Convocai vossa assembleia solene, como vos ordenei.

118 E como nem todos têm fé, buscai diligentemente e ensinai-vos uns aos outros palavras de sabedoria; sim, nos melhores livros buscai palavras de sabedoria; procurai conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé.

119 Organizai-vos; preparai todas as coisas necessárias e estabelecei uma casa, sim, uma casa de oração, uma casa de jejum, uma casa de fé, uma casa de aprendizado, uma casa de glória, uma casa de ordem, uma casa de Deus.

120 Para que nela entreis em nome do Senhor; para que dela saiais em nome do Senhor; para que todas as vossas saudações sejam em nome do Senhor, com mãos elevadas ao Altíssimo.

121 Portanto, cessai todas as vossas conversas levianas, todo riso, todas as vossas concupiscências, todo orgulho e frivolidade e todas as vossas ações iníquas.

122 Dentre vós designai um professor e não falem todos ao mesmo tempo; mas cada um fale a seu tempo e todos ouçam suas palavras, para que quando todos houverem falado, todos sejam edificados por todos, para que todos tenham privilégios iguais.

123 Vede que vos ameis uns aos outros; cessai de ser cobiçosos; aprendei a repartir uns com os outros, como requer o evangelho.

124 Cessai de ser ociosos; cessai de ser impuros (ver D&C 109:20); cessai de achar faltas uns nos outros; cessai de dormir mais do que o necessário; recolhei-vos cedo, para que não vos canseis; levantai-vos cedo, para que vosso corpo e vossa mente sejam fortalecidos.

125 E sobretudo, como que com um manto, revesti-vos do vínculo da caridade, que é o vínculo da perfeição e paz.

126 Orai sempre, para que não desfaleçais, até que eu venha. Eis que depressa venho e vos receberei para mim mesmo. Amém.

Todo o segundo bloco de versículos acima, D&C 88:117–126, foi publicado como um excerto desta longa revelação, na edição de fevereiro de 1833 no Evening and the Morning Star.5 Este texto impressionante serviu como a declaração de missão da Escola dos Profetas, e juntamente ao restante dos versículos ao final desta longa revelação (vv. 127–137), foi usado como instrução inspirada para as "regras escolares" da conduta dos alunos e professores na Escola dos Profetas.

Essa escola era parte integrante dos planos traçados para a construção e eventual uso do templo de Kirtland. A pedra angular do Templo de Kirtland foi colocada em 23 de julho de 1833 e o trabalho progrediu rapidamente.

A primeira edição de Doutrina e Convênios foi publicada em 24 de setembro de 1835. Nela, está incluído o que agora é D&C 88:1–137 com quatro versículos adicionais (agora, versículos 138–141). A importância desta revelação para os santos na época é demonstrada por sua posição naquele volume, como a sétima revelação. Estava logo no início das cem revelações contidas naquela edição.

Cópias impressas do livro de escrituras foram disponibilizadas no final de 1835, a tempo para o início (em janeiro de 1836) das sessões noturnas em preparação para a dedicação do templo de Kirtland, entre 27 de março e 3 de abril de 1836.

Foi quando a oração dedicatória, agora D&C 109, foi dada e repetida nas sessões de dedicação. Essas sessões enchiam o templo até a supercapacidade, tanto no andar principal quanto no salão de assembleia superior. Com base no número conhecido de pessoas que se reuniram no edifício, um engenheiro civil de construção moderna ficou intrigado como o piso superior não desabara sobre as centenas de pessoas que estavam lá. A construção não fora projetada para suportar todo aquele peso.

As magníficas manifestações de poderes espirituais semelhantes aos de Pentecostes e as aparições de Jesus Cristo, Elias, Moisés e Elias foram testemunhadas imediatamente por muitos dos presentes.6 Essas experiências miraculosas foram, sem dúvida, inspiradas e desencadeadas pelas palavras do que agora é D&C 109. Esta oração canonizada inicia dando graças e testemunho dos enormes sacrifícios que haviam sido feitos para apresentar o edifício ao Senhor.

A oração também começa repetindo as palavras (em negrito e itálico) de D&C 88:117-120 dadas pelo Senhor mais de três anos antes:

6 E como disseste em uma revelação, que nos foi dada, chamando-nos de teus amigos, dizendo: Convocai vossa assembleia solene, como vos ordenei;

7 E como todos não têm fé, buscai diligentemente e ensinai-vos uns aos outros palavras de sabedoria; sim, nos melhores livros buscai palavras de sabedoria; procurai conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé;

8 Organizai-vos; preparai todas as coisas necessárias e estabelecei uma casa, sim, uma casa de oração, uma casa de jejum, uma casa de fé, uma casa de aprendizado, uma casa de glória, uma casa de ordem, uma casa de Deus;

9 Para que nela entreis em nome do Senhor; para que dela saiais em nome do Senhor; para que todas as vossas saudações sejam em nome do Senhor, com mãos elevadas ao Altíssimo (D&C 109:6–9).

Então, após orar para que a glória do Pai Santo "descanse sobre teu povo" e que Sua "santa presença esteja continuamente nesta casa;"( D&C 109:12), a oração dedicatória prosseguiu pedindo ao Senhor que o templo permitisse a todos que lá adorassem honrosamente, Seu poder divino (vv. 14–23), novamente tomando várias palavras e frases de D&C 38:32 e 88:117, 119, 120 e 124, como segue:

14 E permite, Pai Santo, que a todos os que adorarem nesta casa sejam ensinadas palavras de sabedoria dos melhores livros [citação reversa de 88:117], e que procurem conhecimento, sim, pelo estudo e também pela fé [88:77], como disseste;

15 E que cresçam em ti e recebam a plenitude do Espírito Santo e organizem-se de acordo com as tuas leis e preparem-se para obter todas as coisas necessárias [88:119];

16 E que esta casa seja uma casa de oração, uma casa de jejum, uma casa de fé, uma casa de glória e de Deus, [88:119] sim, tua casa;

17 Que todas as entradas de teu povo nesta casa sejam em nome do Senhor;

18 Que todas as suas saídas desta casa sejam em nome do Senhor;

19E que todas as suas saudações sejam em nome do Senhor, com mãos santas elevadas ao Altíssimo [88:120];

20 E que não se permita que qualquer coisa imunda entre em tua casa para profaná-la;

21 E quando teu povo transgredir, quem quer que seja, que se arrependa rapidamente e volte para ti e encontre favor a teus olhos e que lhe sejam restituídas as bênçãos que tu ordenaste que fossem derramadas sobre os que te reverenciassem em tua casa ( D&C 109:14–21).

Estas palavras escritas logo no início de D&C 109 primeiro relatam ao Senhor exatamente o que tinha sido feito para cumprir os mandamentos que Ele deu em D&C 88. Logo, a oração pede que todos os que forem adorar na casa do Senhor sejam abençoados de todas as formas prometidas por Ele em D&C 88. Portanto, as seções D&C 88 e 109, apesar de relacionadas, têm finalidades diferentes. Uma inicia o processo e a outra marca sua conclusão.

A semelhança do desenvolvimento dos fatos relaciona ainda mais estes dois pronunciamentos tão reveladores. Por exemplo, por outro lado, em dezembro de 1832, D&C 88 apresentou uma longa seção de advertências do Senhor, enquanto em 1836, D&C 109 apresentou a glória do Senhor. Portanto, a parte central de D&C 88 (vv. 87-117) concentra os detalhes das advertências que serão dadas à Terra no momento em que as sete trombetas soarem, quando Jesus Cristo voltar e triunfar sobre a morte e Satanás.

A palavra "warn" ("advertir" e/ou "exortar") aparece cinco vezes na versão em inglês de D&C 88, e apenas uma vez em D&C 109, sendo que nada fora mencionado na oração dedicatória sobre trombetas apocalípticas soando ameaçadoramente para os gentios mundo a fora. Ao invés disso, e em total contraste, a oração dedicatória remete a Deus, dentro desta casa do Senhor e de seus muros de bênçãos e glória. Ali, por fim, os 10 atributos de Deus seriam reverenciados, especificamente Sua glória, honra, poder, majestade, poder, domínio, verdade, justiça, julgamento e misericórdia. Aqui, exalta que os santos recebam "a plenitude infinita, de eternidade em eternidade" (D&C 109:77). E que os ungidos "vistam-se de salvação e teus santos gritem de alegria" (v. 80).

Além das citações diretas, é interessante notar que D&C 88 e D&C 109 compartilham outras semelhanças verbais intrigantes. Por exemplo, a palavra "seven" ("sétimo", em português) é mencionada três vezes em D&C 88, referindo-se ao "sétimo anjo" (em 88:106, 110 e 112). A palavra "glory" (em português, "glória") aparece um total de 21 vezes (o produto de 7x3) em D&C 88 e aparece oito vezes (o produto de 2x2x2) em D&C 109. Quando a última trombeta soar, "os anjos serão coroados com a glória de seu poder [do Senhor] e os santos encher-se-ão com sua glória e receberão sua herança e serão igualados a ele" (88:107), e então tocará novamente antes que Satanás seja solto e finalmente derrotado (88:112).

No [texto em inglês] da seção D&C 109, cada um dos três títulos divinos: "God" (Deus), "Holy Father" (Santo Pai) e "Lord" (Senhor), são repetidas por sete vezes. Esse número é apresentado em referência às sete trombetas em D&C 88. Na sequência, afirma a apresentação da conclusão e dedicação da do templo. Apesar das palavras [em inglês] "God", "Father" e "Lord" aparecem com frequência em D&C 88 (33, 3 e 19 repetições, respectivamente),

outras comparações e repetições verbais entre as duas passagens reforçam a relação entre estas revelações. Em D&C 88, o desejo de buscar a "face" e ver o "countenance" — "o semblante do Senhor", é mencionado oito vezes. Logo em D&C 109, a única menção da palavra "face" aparece relacionada ao fato de que Deus realmente desvia Sua ira quando as pessoas se arrependem. Então, Ele será misericordioso "quando contemplares a face de teu Ungido" (v. 53). A empreitada foco de D&C 88, terminou em D&C 109.

Em D&C 88 e 109, "Holy Spirit" (Espírito Santo) e "Holy Ghost" (também, Espírito Santo) são mencionados, respectivamente, duas vezes e uma vez. Embora as palavras "Holy" (Santo) e "Holiness" (Santidade) não sejam mencionadas em D&C 88, são mencionadas no momento da santa dedicação em D&C 109, respectivamente 13 vezes, e apenas uma vez.

Embora realmente existam diferenças entre essas duas seções de Doutrina e Convênios, certas palavras aparecem exatamente com a mesma frequência. Estes elementos compartilhados solidificam a interdependência e inter-relação entre as seções, a primeira sendo o começo e a outra, o fim. Estas palavras são:

  • "Power" (poder, referindo-se ao "poder de Deus", com 8 repetições);
  • "Testimony" (testemunho, com 7 repetições);
  • "Church [of God]'' (Igreja [de Deus], com 4 repetições);
  • "Fulness" (plenitude, com 3 repetições);
  • "Gentile" (gentios, mencionada 1 vez);
  • "Unclean" (impuro, mencionada 1 vez);
  • "Mercy, justice, judment" (misericórdia, justiça, juízo) — essas palavras aparecem nas duas seções, embora em ordem parcialmente inversa.

Ao receberem ordens em D&C 88, a palavra "presidents", como presidência e/ou presidente, é mencionada três vezes. Ao serem abençoados, "presidents", (presidentes) é mencionada duas vezes em D&C 109. Em contraste, a palavra "seal" (selar) aparece uma vez em D&C 88, entretanto, é posteriormente repetida por três vezes em D&C 109.

A oração é sempre importante, e a palavra "prayer" (oração) aparece, significativamente, sete vezes em D&C 88. Na ocasião da dedicação solene, a frequência dos vários sinônimos para "praying" (orar) é o dobro da outra seção: um total de quatorze vezes em D&C 109 — ou seja, "prayer" (oração, com 2 repetições), ''ask'' (pedimos, com 6 repetições), ''beseech'' (imploramos, 1 vez) e ''petitions'' (súplicas, 2 com repetições), totalizando 14 citações. "Amém" aparece quatro vezes em D&C 88, e apenas duas vezes, em D&C 109.

O porquê

Em resumo, muitos fatores nos ajudam a responder à pergunta: "Por que a seção 88 é citada na seção 109?".

  1. Estas duas seções estão relacionadas ao templo de Kirtland, primeiramente sobre sua construção e posteriormente, sobre sua dedicação. A primeira descreve o projeto e a outra, celebra a conclusão desta esplêndida obra de arte.
  2. Grande parte da seção 88 é citado diretamente (em dois segmentos) na seção 109, mostrando que as ordens do Senhor foram diligente e meticulosamente cumpridas.
  3. Algumas palavras da seção 88 foram reaproveitadas na seção 109, notavelmente chamando a atenção para as gloriosas ofertas que os santos fizeram a seu Senhor e Deus.
  4. Os detalhes dessas duas seções estão cuidadosamente interligados ao longo de todo o documento. Aqueles santos, que conheciam e seguiam de perto as ordens da seção 88, teriam ouvido tais alusões intertextuais de forma mais consciente e natural do que os leitores atuais.
  5. A escrita detalhada dessas duas seções, tanto individualmente quanto em conjunto, é sublime, além da capacidade humana.

Tanto em 1830 quanto hoje, estas duas seções atuam lado a lado, de mãos dadas. Dois séculos depois, aqui e agora, assim como na eternidade, não deixemos que sejam separadas, seja pela ignorância, acidente, indiferença ou ingratidão.

Leitura Complementar

Steven C. Harper, "Section 109", Doctrine and Covenants Contexts (Springville, UT: Book of Mormon Central, 2021), pp.278–281. Casey Paul Griffiths, "Comentario sobre D&C 109", Central de Doutrina e Convênios.

1. Ver David A. Grandy, "Physical Light and the Light of Christ", BYU Studies Quarterly p.53, no. 4 (2014): pp.6–36.
2. Doutrina e Convênios 88:1–126 foi "dada por Joseph Smith, o vidente, e escrito por Frederick G. Williams, escrevente assistente e conselheiro" em 27 e 28 de dezembro de 1832 ("Revelation Book 2", pp.33–46, The Joseph Smith Papers, acessado em 17 de fevereiro de 2021, disponível em josephsmithpapers.org), e 88:127–137 foi dada da mesma forma em 3 de janeiro de 1833 ("Revelation Book 2", pp.47–48, The Joseph Smith Papers, acessado em 17 de fevereiro de 2021, disponível em josephsmithpapers.org).
3. Joseph Smith to William W. Phelps, January 11, 1833, disponível em josephsmithpapers.org.
4. Elwin Robison, The First Mormon Temple: Design, Construction, and Historic Context of the Kirtland Temple (Provo, UT: Brigham Young University, 1997).
5. "Revelations printed in The Evening and the Morning Star, June 1832–June 1833", p.5, The Joseph Smith Papers, disponível em josephsmithpapers.org.
6 Steven C. Harper, "A Pentecost and Endowment Indeed", em Opening the Heavens: Accounts of Divine Manifestations, 1820–1844, 2a., ed. John W. Welch (Salt Lake City, UT: Deseret Book; Provo, UT: BYU Studies, 2017), pp.351–393.
Doutrina e Convênios

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