KnoWhy #576 | Setembro 3, 2020

Quais são as semelhanças entre Samuel, o lamanita, e Samuel, o profeta bíblico?

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Scripture Central

"Mas eis que chegou a ele a voz do Senhor, ordenando-lhe que voltasse e profetizasse ao povo tudo o que lhe viesse ao coração."

O conhecimento

Samuel, o lamanita, provavelmente não era quem os nefitas esperavam como um profeta do Senhor. Ele era lamanita, não fazia parte das instituições estabelecidas e proclamou a ira de Deus em uma grandiosa manifestação pública. Entretanto, Samuel também é tudo o que se espera de um profeta bíblico. Ele citou extensivamente profecias anteriores, pregou contra a maldade da sociedade e tinha o espírito de revelação. Alguns estudiosos compararam Samuel, o lamanita, a vários profetas bíblicos, contudo, também aprendemos muito comparando Samuel com seu homônimo: o profeta Samuel do Velho Testamento.1 Tanto Samuel, o lamanita, quanto o Samuel bíblico, tiveram chamados proféticos semelhantes, predizendo a vinda do Messias, empunhando a espada da justiça de Deus e frustrando as expectativas da sociedade.

Ambos compartilham o mesmo nome e significado

Tanto Samuel, o lamanita, quanto o Samuel bíblico, começam suas histórias com o mesmo trocadilho em seus nomes. Ana chamou seu filho milagroso de Samuel, porque "ela [o pediu] ao Senhor" (1 Samuel 1:20). Aqui, é provável que Ana estivesse fazendo um trocadilho com o nome de Samuel, que soa como a frase hebraica "ouvido de Deus".2 A dolorosa luta de Ana contra a infertilidade levou-a a pedir a Deus um filho para servir a Jeová, e Ele ouviu suas súplicas. Um tema semelhante é retomado no capítulo 3, quando Samuel inicia seu treinamento com o sacerdote Eli. Ao confundir a voz de Jeová três vezes seguidas, Samuel finalmente reconhece a voz de Deus e declara: ''Fala, porque o teu servo ouve'' (1 Samuel 3:10).

Quanto a Samuel, o lamanita, sua história também começa com os temas de ouvir, ou não, uma mensagem. Depois de Samuel ter pregado em Zaraenla por muitos dias, os nefitas o expulsaram da cidade, expressando a recusa em continuar ouvindo suas palavras proféticas. Imediatamente depois, Samuel ouve a "voz do Senhor" dizendo-lhe para que "voltasse e profetizasse ao povo" (Helamã 13:3). Ironicamente, os nefitas [que se achavam os] escolhidos, se recusaram a ouvir a voz do Senhor devido a sua "dureza de coração" (v.8), enquanto Samuel ouviu o Senhor tão intimamente que tinha o poder de profetizar "tudo quanto o Senhor lhe pôs no coração" (v.4).

Ambos previram um futuro Messias

Um dos fatos pelos quais o profeta bíblico Samuel é lembrado, é por ter ungido os primeiros reis de Israel. Através da revelação de Jeová, Samuel ungiu Saul como o primeiro rei de Israel (1 Samuel 10:1). Contudo, devido à desobediência de Saul, Samuel ungiu um menino pastor, Davi, para se tornar o futuro rei de Israel (1 Samuel 16:13). Nesse ato fatídico, Samuel estabeleceu um futuro messias, uma vez que "messias" significa "ungido" em hebraico.

Samuel, o lamanita, profetizou sobre um futuro Messias ainda mais explicitamente. Seguindo as instruções de um anjo, Samuel disse ao povo para "[preparar] o caminho do Senhor" (Helamã 14:9), que traria vida eterna, salvação, reconciliação pela queda e ressurreição a todos os que crerem em seu nome (vv. 2, 8, 12, 15–17). O nome sagrado do Messias seria "o Filho de Deus, o Pai do céu e da Terra, o Criador de todas as coisas desde o princípio" (v. 12), um título real próprio de um rei.3 Samuel, o lamanita, ajudou a preparar o caminho para o futuro rei pregando o arrependimento e profetizando os sinais de Seu nascimento e morte.

Ambos empunharam a espada da justiça de Deus

De maneira dramática, Samuel, o lamanita, iniciou seu famoso discurso estendendo a mão e declarando que a "espada da justiça" de Deus estava suspensa sobre os nefitas e cairia rapidamente se eles não se arrependessem (Helamã 13:5). Podemos imaginar que a mão estendida de Samuel, acima do povo, muralha abaixo, refletia simbolicamente a mão furiosa de Deus, segurando a espada da justiça sobre um povo endurecido.4

Um tema semelhante é encontrado na história bíblica de Samuel. Quando o rei Saul desobedeceu às ordens de Jeová para destruir todos os amalequitas, o profeta bíblico Samuel literalmente brandiu uma espada para executar as ordens de Jeová contra Agague, o rei dos amalequitas (1 Samuel 15:33). Quando Samuel matou o rei Agague à espada, decidiu o destino de Saul, que seria deposto da monarquia, abrindo caminho para que David se tornasse rei. Da mesma forma, o fato de Samuel empunhar metaforicamente a espada de justiça de Deus, pode ser vista como o ponto em que os nefitas perderem seu estado de convênio, e por fim sendo destruídos, abrindo o caminho para o novo rei, Jesus Cristo.5

Ambos subverteram as expectativas errôneas

Por fim, tanto Samuel, o lamanita, quanto o Samuel bíblico romperam barreiras e subverteram as expectativas da sociedade. Desde menino, o Samuel bíblico foi treinado por um sacerdote chamado Eli, que servia no tabernáculo israelita. No entanto, embora Eli devesse ser o sábio guia espiritual de Israel, foi o menino Samuel a quem o Senhor chamou repetidamente e a quem o Senhor revelou Sua vontade. (1 Samuel 3:1–10).

A identidade de Samuel, o lamanita, limita-se à única descrição que o leitor tem dele: "um lamanita". Ele era um forasteiro e, os nefitas não buscariam orientação religiosa de outros povos, especialmente dos lamanitas. Os nefitas, cheios de orgulho no coração, podem ter presumido serem o povo do convênio e escolhido de Deus, portanto, a única fonte de luz espiritual. Assim como o Samuel bíblico ouviu e escutou inesperadamente a voz do Senhor em sua juventude, Samuel, o lamanita, ouviu e pregou a palavra do Senhor aos nefitas, contrariando todas as expectativas da estabelecida comunidade do convênio.

O porquê

Tudo isso revela como Samuel, o lamanita, e Samuel, o israelita, cumpriram as características arquetípicas dos verdadeiros profetas bíblicos. Eles falaram com as palavras de Deus, tiveram um chamado profético revelador, usaram gestos proféticos, suprimiram o mal existente e predisseram a vinda de um Messias. Samuel, o lamanita, desempenhou o papel de um profeta bíblico justo, em oposição direta às expectativas dos nefitas.

Esses detalhes nos ajudam a ver que Samuel, o lamanita, não era um novato no evangelho. Quando Samuel estendeu a mão como um gesto de fala, imitou tanto a Abinádi quanto a Néfi. Os profetas nefitas usavam este gesto para invocar o santo poder de Deus para protegê-los do perigo. Ao usar estes gestos, Samuel assumiu o manto profético nefita e foi milagrosamente protegido das pedras e flechas jogadas por nefitas enfurecidos.6

Em seu discurso aos nefitas, Samuel também ilustrou as profecias bíblicas cumpridas, na maneira como citou e aludiu aos profetas do passado. Ele usou uma linguagem bíblica semelhante a de Isaías, Ezequiel, Jeremias, Salmos e até João Batista.7 Como João Batista, Samuel não fazia parte da hierarquia institucional, mas era uma voz estrangeira no deserto, enviada para preparar o caminho do Senhor. Como muitos profetas antes dele, Samuel invocou a voz de Deus com a frase arquetípica: "Assim diz o Senhor", sendo subentendida a própria admissão de Samuel ao conselho divino de Deus.8 Samuel também fez uso considerável das profecias proferidas por Néfi, Jacó, Benjamim, Alma, e por seu missionário e mentor Néfi, filho de Helamã.9

O Senhor qualifica aqueles a quem Ele chama. Ainda que tenha sido chamado quando menino, Samuel se tornou um profeta poderoso em Israel. Da mesma forma, o testemunho de Samuel, o lamanita, é um emblema de como o Senhor chama a quem Ele quiser. Os nefitas não esperavam que um lamanita proferisse a eles um discurso profético tão importante. No entanto, os lamanitas, como povo, eram surpreendentemente mais justos do que os nefitas. Os leitores podem compreender a importância de não presumir que a retidão ou virtude de alguém está baseada em sua filiação a um grupo, ou a noções preconceituosas. A cor da pele, os convênios ou a prosperidade econômica, definitivamente, não tem a mesma importância para o Senhor quando comparados com a retidão pessoal. Os ensinamentos de Samuel eram de tamanha importância (e foram aparentemente negligenciados pelos nefitas), que o próprio Salvador ordenou que as profecias de Samuel fossem restauradas aos registros nefitas (ver 3 Néfi 23:7-13). Em perfeita consonância com um princípio ensinado ao Samuel bíblico, a história de Samuel, o lamanita, mostra de maneira surpreendente como "o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração" (1 Samuel 16:7).

Leitura Complementar

Central do Livro de Mórmon, "Por que Samuel depositou tanta confiança nas palavras dos profetas do passado? (Helamã 14:1)'', KnoWhy 185 (17 de agosto de 2017). Central do Livro de Mórmon, "Por que Abinádi estendeu a mão ao profetizar? (Mosias 16:1)'', KnoWhy 94 (27 de abril de 2017). Shon Hopkin e John Hilton III, ''Samuel’s Reliance on Biblical Language'', Journal of Book of Mormon Studies 24 (2015): 31–52.

1. Ver Shon Hopkin y John Hilton III, ''Samuel’s Reliance on Biblical Language'', Journal of Book of Mormon Studies 24 (2015): 31–52; Quinten Barney, ''Samuel the Lamanite, Christ, and Zenos: A Study of Intertextuality'', Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 18 (2016): 159–170. A partir de uma análise estilométrica e narrativa, Hopkin e Barney rejeitaram uma importante semelhança com o profeta Samuel do Velho Testamento. Um desafio ao comparar Samuel, o lamanita, com o da Bíblia, é que Samuel 1 e 2 poderiam ter feito parte da história deuteronomista, um documento de origem teórica redigido para os livros de Deuteronômio, Josué, Juízes, Samuel e Reis. Neal Rappleye e outros pesquisadores Santos dos Últimos Dias, argumentaram que os autores do Livro de Mórmon rejeitaram as ideologias desses textos reformados. Embora as histórias de Samuel e Davi da Bíblia, fossem certamente conhecidas pelos autores do Livro de Mórmon, não é surpreendente que os textos específicos de 1 e 2 Samuel não apareçam neste relato. Ver Neal Rappleye, ''The Deuteronomist Reforms and Lehi’s Family Dynamics: A Social Context for the Rebellions of Laman and Lemuel'', Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 16 (2015): 87–99. 2. A etimologia do nome Samuel em hebraico é "seu nome é Deus" ou "nome de Deus", mas Ana usou uma frase hebraica de som semelhante usando as palavras shma e ele como uma paronomásia do nome Samuel: "Ouvido por Deus". Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament (Leiden: Brill, 2001), 2:1554–1555; Francis Brown, S. R. Driver e Charles A. Briggs, eds. e comps., A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament (Oxford: Clarendon Press, 1978), p. 1028. 3. Central do Livro de Mórmon, "Por que Benjamim atribuiu vários nomes a Jesus na coroação de seu filho Mosias? (Mosias 3:8)'', KnoWhy 536 (15 de novembro de 2019); John W. Welch, ''Textual Consistency", em Reexploring the Book of Mormon: A Decade of New Research, ed. John W. Welch (Salt Lake City y Provo, UT: Deseret Book y FARMS, 1992), pp. 21–23. A ênfase de Samuel em crer no nome de Cristo pode ser outro possível trocadilho com o nome de Samuel, que significa "nome de Deus". 4. Central do Livro de Mórmon, "Por que a mão do Senhor 'ainda está estendida'? (2 Néfi 19:12)'', KnoWhy 49 (2 de março de 2017). 5. Essa ideia vem de Hales Swift, no programa de rádio The Interpreter Foundation, ''Audio Roundtable: Come, Follow Me Book of Mormon Lesson 35 (Helaman 13–16)'', disponível em interpreterfoundation.org. 6. Estender a mão é um gesto de significado profético tanto na Bíblia Hebraica quanto no Livro de Mórmon. O gesto muitas vezes indica um discurso profético e invoca o poder de Deus (por exemplo, 1 Néfi 17:54; Mosias 12:2; 3 Néfi 11:9). Ver David Calabro, '''Stretch Forth Thy Hand and Prophesy’: Hand Gestures in the Book of Mormon'''. Journal of the Book of Mormon and Other Restoration Scripture 21, no. 1 (2012): 46–59; Central do Livro de Mórmon, "Por que Abinádi estendeu a mão ao profetizar? (Mosias 16:1)'', KnoWhy 94 ( 27 de abril del 2017). A mão estendida é também um reconhecido gesto de discurso na América antiga; ver Kirk A. Magleby, ''Mesoamerican Speech Gesture'', Book of Mormon Resources Blog (22 de março de 2019), disponível em https://bookofmormonresources.blogspot.com/2019/03/mesoamerican-speech-gesture.html.

7. Central do Livro de Mórmon, "Por que Samuel tinha tanta confiança nas palavras dos profetas do passado? (Helamã 14:1)'', KnoWhy 185 (17 de agosto de 2017); Hopkin e Hilton, ''Samuel’s Reliance on Biblical Language'', pp. 31–52; Barney, ''Samuel the Lamanite, Christ, and Zenos'', pp. 159–170; S. Kent Brown, ''The Prophetic Laments of Samuel the Lamanite'', em From Jerusalem to Zarahemla: Literary and Historical Studies of the Book of Mormon (Provo, UT: Religious Studies Center, 1998), pp. 163–180; Donald W. Parry, '''Thus Saith the Lord': Prophetic Language in Samuel's Speech'', Journal of Book of Mormon Studies 1, no. 1 (1992): 181–183. 8. Hopkin e Hilton, "Samuel’s Reliance on Biblical Language'', 44. 9. Ver John W. Welch, ''Helamã 13–16'', John W. Welch Notes (Springville, UT: Book of Mormon Central, 2020).

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