KnoWhy #565 | Junho 11, 2020
Por que um anjo enviou Alma de volta à Amonia?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Porque eis que neste momento eles planejam como tirar a liberdade de teu povo" Alma 8:17
O conhecimento
Após tentar sem sucesso pregar em Amonia, Alma estava pronto para ir à cidade de Aarão (Alma 8:6–13). No entanto, enquanto viajava, ''um anjo do Senhor'' apareceu a ele e ordenou que voltasse para Amonia (Alma 8:14-16). Alma reagiu apressadamente, voltando "rapidamente" para a cidade (Alma 8:18). Claramente, a mensagem do anjo deu a Alma um senso de urgência. Por que sua missão em Amonia era tão urgente e importante a ponto de um anjo ordenar que ele voltasse? Dificuldades sociais, políticas e religiosas ameaçavam a estabilidade da nação nefita durante esse período.1 Mesmo depois que Alma deixou de ser o juiz supremo em Zaraenla, as situações religiosas de sua época estavam tão profundamente entrelaçadas com fatores sociais e políticos que sua pregação continuou a ter efeitos políticos e diplomáticos, juntamente com o tão necessário impacto espiritual. Assim, as razões para o retorno urgente de Alma, segundo S. Kent Brown, não eram apenas religiosas, mas também políticas.2
Brown observou que em Amonia "esforços sérios estavam sendo feitos para enfraquecer a estrutura central do governo em Zaraenla."3 Brown apontou para três passagens-chave que sugerem essa trama política. Primeiro, quando o anjo apareceu a Alma e ordenou-lhe que voltasse para Amonia, a razão dada por ele foi que estavam "planeja[ndo] como tirar a liberdade de teu povo" (Alma 8:17). Então, quando Alma explicou por que o Senhor destruiria completamente o povo de Amonia, disse que se o Senhor permitisse que eles vivessem ''em [suas] iniquidades'', seria ''para destruir seu povo'', ou seja, todos os nefitas (Alma 9:19). Finalmente, quando Amuleque estava pregando para eles, ele indicou que era "a iniquidade de [seus] advogados e de [seus] juízes" que lançou "o alicerce da destruição deste povo" (Alma 10:27).4
Com base nessas passagens, Brown argumentou que Amonia havia se tornado um "canteiro para uma revolução nacional" na qual "governadores locais e outras pessoas proeminentes estavam desenvolvendo um apetite por mais poder e influência".5 Exatamente quais eram seus planos para destruir a liberdade dos nefitas não é explicado, mas a maioria do povo de Amonia, e especialmente seus líderes, eram da "ordem de Neor" (Alma 14:16–18; 15:15). Neor ensinou que todos seriam redimidos e receberiam a vida eterna, independentemente de suas ações ou arrependimento de seus pecados (Alma 1:4). Em contraste, Mosias vinculou intimamente a liberdade e a equidade com a necessidade de cada homem (e mulher) estar disposto a ''responder por seus próprios pecados'' (Mosias 29:38). Os ensinamentos de Nehor minaram este entendimento de liberdade ao remover a responsabilidade pelo pecado.
Também deve ser lembrado que Anlici, que havia liderado uma revolta sangrenta em Zaraenla apenas cinco anos antes com o objetivo de restabelecer a monarquia, também era da ordem de Neor (Alma 2:1). Não é surpreendente, portanto, que enquanto a ideologia de Neor se apossava do coração do povo de Amonia, Alma via esse movimento como uma profunda ameaça ao coração da incipiente instituição do conceito nefita de liberdade.
O porquê
Se houve, de fato, algum tipo de conspiração para derrubar a liberdade dos nefitas em Amonia, é fácil perceber por que era tão importante e urgente que Alma voltasse e tentasse uma segunda vez: se o povo não tivesse sido dissuadido, seus planos levariam à corrupção e destruição de toda a nação nefita. Alma não teve escolha a não ser exortá-los a se arrepender ou enfrentar as terríveis consequências que o Senhor estabeleceu para as cidades apóstatas.6
Reconhecer a existência de uma conspiração contra a ''liberdade'' dos nefitas, ou seja, a responsabilidade de cada indivíduo por seus próprios pecados, também fornece mais informações sobre os ensinamentos de Alma e Amuleque nesses capítulos. Como John W. Welch explicou, o significado do primeiro discurso de Alma ao povo de Amonia em Alma 9 ''focada em seu grau de responsabilidade'' com Alma enfatizando que ''quanto maior seu nível de conhecimento, maior sua responsabilidade''.7 Quando Amuleque apareceu em Alma 10 para dar um segundo testemunho às palavras de Alma, se concentrou na "responsabilidade coletiva do povo por sua preservação ou eventual destruição".8 Esta ênfase tanto na responsabilidade pessoal quanto coletiva parece especialmente destinada a incitar o povo de Amonia a não minar a própria liberdade que permitia que as pessoas fossem agentes de responsabilidade, em primeiro lugar.
No final, Alma e Amuleque falharam em dissuadir a maioria do povo de Amonia de seus maus caminhos, mas isso não significa que a missão de Alma foi um completo fracasso. Algumas pessoas foram convertidas, incluindo Zeezrom, um dos principais promotores dos desígnios malignos do povo (Alma 10:31; 14:6–7). Além disso, a pregação de Alma e Amuleque forneceu ao povo uma advertência clara sobre o que aconteceria se não se arrependessem. Em vez de atender a esse aviso, se mostraram dignos de sua destruição iminente, abusando do sistema judiciário e não apenas banindo os homens que concordaram com Alma, mas também matando mulheres e crianças inocentes (Alma 14:8–11). Por fim, muitos dos líderes importantes de Amonia, morreram quando a prisão desabou (Alma 14:27), o que provavelmente atrasou qualquer esforço para realizarem os planos que o povo de Amonia tinha para destruir a liberdade dos nefitas.9 A cidade foi completamente destruída por uma invasão lamanita pouco tempo depois, antes que pudessem se reagrupar (ver Alma 16:1, 10).
Assim, por mais trágicos que tenham sido os eventos em Amonia, a corajosa resposta de Alma à mensagem urgente do anjo do Senhor para retornar a um lugar desprezível de vilania e ilegalidade, conseguiu evitar mais destruição e perda de vidas que teriam ocorrido se o povo de Amonia tivesse executado seus planos para destruir a liberdade, a justiça e a responsabilidade pessoal dos nefitas.
Leitura Complementar
S. Kent Brown, "Ammonihah: Measuring Mormon’s Purpose", em A Witness for the Restoration: Essays in Honor of Robert J. Matthews, ed. Kent P. Jackson e Andrew C. Skinner (Provo, UT: BYU Religious Studies Center, 2007), pp. 165–175. John W. Welch, "The Trial of Alma and Amulek", em The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Press, 2008), pp. 238–271.1. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que Alma enfrentou grandes desafios políticos como juiz supremo? Alma 2:1–5)", KnoWhy 563 (1º de junho de 2020). 2. Ver S. Kent Brown, ''Ammonihah: Measuring Mormon’s Purpose'', em A Witness for the Restoration: Essays in Honor of Robert J. Matthews, ed. Kent P. Jackson e Andrew C. Skinner (Provo, UT: BYU Religious Studies Center, 2007), pp. 165–175.
3. Brown, "Ammonihah", p. 171. 4. Ver Brown, "Ammonihah", pp. 167–168. 5. Brown, "Ammonihah", p. 168. 6. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que a cidade de Amonia foi destruída e desolada?(Alma 16:9–11)", KnoWhy 123 (31 de maio de 2017). Ver também John W. Welch, "The Destruction of Ammonihah and the Law of Apostate Cities", em Reexploring the Book of Mormon: A Decade of New Research, ed. John W. Welch (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1992), pp. 176–179; John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Press, 2008), pp. 238–271. 7. Welch, Legal Cases, pp. 243–244. 8. Welch, Legal Cases, p. 247. 9. Ver Brown, "Ammonihah", p. 172.